O Kremlin emitiu um comunicado oficial neste domingo (7) elogiando abertamente a nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, divulgada recentemente pela administração do presidente Donald Trump. Em uma coletiva de imprensa realizada em Moscou, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, afirmou que o documento reflete um “realismo saudável” e uma compreensão pragmática das dinâmicas de poder global, algo que a Rússia vinha defendendo há anos. A declaração marca um momento significativo de possível degelo nas relações entre as duas potências nucleares, sugerindo que a visão de política externa de Trump encontra eco nas ambições geopolíticas de Vladimir Putin. Peskov ressaltou que, pela primeira vez em décadas, Washington parece disposto a reconhecer os interesses de segurança legítimos de outras nações soberanas, afastando-se do intervencionismo liberal que caracterizou governos anteriores.
A reação positiva de Moscou não é apenas retórica, mas sinaliza uma leitura estratégica de que os Estados Unidos, sob o comando republicano, estão priorizando a competição econômica e a estabilidade interna em detrimento da expansão de alianças militares agressivas. O documento americano, focado no conceito de “Paz através da Força”, enfatiza a proteção das fronteiras dos EUA e a renegociação de tratados comerciais, enquanto adota uma postura mais transacional em relação à OTAN e outros compromissos de defesa. Para o Kremlin, essa mudança é vista como uma oportunidade de ouro para redefinir as esferas de influência na Europa Oriental e na Ásia Central, sem a interferência constante de ideais ocidentais que Moscou considera hostis à sua soberania.
Além disso, a análise russa aponta que o abandono da retórica de “mudança de regime” e “promoção da democracia” no texto da estratégia de Trump é um sinal claro de respeito mútuo. Peskov observou que a Rússia sempre esteve pronta para um diálogo construtivo baseado na igualdade e no respeito aos interesses nacionais, e que o novo documento parece abrir essa porta. A liderança russa interpreta a estratégia como um passo em direção a um mundo multipolar, onde os Estados Unidos aceitam compartilhar o palco global com outras grandes potências, em vez de tentar impor uma hegemonia unilateral insustentável.
Rússia valida tática republicana
Consequentemente, a validação russa da tática republicana gera ondas de choque nas capitais europeias, onde líderes da União Europeia e da OTAN observam com apreensão a aproximação entre Washington e Moscou. A nova estratégia de Trump, ao focar nos interesses vitais americanos, deixa subentendido que a segurança europeia deve ser, primordialmente, uma responsabilidade dos europeus. Esse vácuo estratégico é exatamente o que a Rússia esperava para consolidar sua posição no continente. Analistas de geopolítica em Moscou afirmam que o alinhamento de visões não significa uma aliança formal, mas sim um entendimento tácito de não agressão em áreas sensíveis, permitindo que ambos os países foquem em seus desafios internos e econômicos.
A tática de Trump, descrita no documento como “Realismo de Princípios”, prioriza acordos bilaterais em vez de grandes estruturas multilaterais, o que favorece a diplomacia russa, historicamente hábil em negociações diretas entre chefes de Estado. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, comentou que a abordagem americana é “refrescante” e elimina a hipocrisia que, segundo ele, permeava as relações diplomáticas durante a administração Biden. Lavrov destacou que a Rússia está preparada para trabalhar em questões de contraterrorismo e segurança energética, áreas onde os interesses de ambos os países se sobrepõem naturalmente, desde que o respeito à soberania russa seja mantido.
Nesse cenário, a tática republicana de usar a economia como principal ferramenta de poder nacional também agrada ao Kremlin. A Rússia, que reorientou sua economia para o Oriente e o Sul Global devido às sanções, vê na postura de Trump uma chance de normalizar, ainda que parcialmente, as relações comerciais com o Ocidente. O documento americano sugere uma revisão das sanções que não beneficiam diretamente a economia dos EUA, o que poderia abrir brechas para o retorno de investimentos ocidentais no setor energético russo. Contudo, essa possibilidade ainda é tratada com cautela, visto que o Congresso americano mantém uma postura dura contra Moscou.
Governo russo endossa diretriz
Portanto, o endosso do governo russo à diretriz americana tem implicações diretas e imediatas para o conflito na Ucrânia. Embora o documento de Trump reafirme o apoio à soberania das nações, a ênfase na “resolução rápida de conflitos” e na redução de gastos externos é interpretada por Moscou como um sinal de que o fluxo ininterrupto de armas e dinheiro para Kiev pode estar chegando ao fim. O Kremlin vê na nova estratégia uma confirmação de que os Estados Unidos não buscam mais uma derrota estratégica da Rússia no campo de batalha, mas sim um acordo negociado que reconheça as realidades territoriais atuais. Isso fortalece a posição de Putin em eventuais mesas de negociação, permitindo-lhe ditar termos mais favoráveis.
O documento de segurança nacional também aborda a questão da China, identificando-a como o principal competidor estratégico dos EUA. Ironicamente, isso também serve aos interesses de Moscou, que busca se posicionar como um fiel da balança entre Pequim e Washington. Ao endossar a diretriz americana, a Rússia sinaliza que não é, necessariamente, um vassalo chinês, mas uma potência independente capaz de dialogar com ambos os lados. Essa triangulação diplomática é uma marca registrada da política externa russa e ganha nova vida com a abordagem pragmática de Trump. O governo russo acredita que pode alavancar essa posição para obter concessões tanto do Ocidente quanto do Oriente.
Adicionalmente, o endosso russo reflete uma satisfação com a ênfase de Trump em valores tradicionais e no nacionalismo, que ressoam com a ideologia conservadora promovida por Putin internamente. A convergência ideológica, embora não explicitada no documento técnico de segurança, cria uma base de entendimento cultural que facilita o diálogo político. O Kremlin vê na administração Trump um parceiro que não tentará impor agendas sociais progressistas à sociedade russa, removendo um dos principais pontos de atrito cultural dos últimos anos. Essa afinidade ideológica fortalece a narrativa doméstica de Putin de que a Rússia estava certa em defender seus valores tradicionais contra o “liberalismo decadente”.
Putin aprova manobra geopolítica
Finalmente, a aprovação de Vladimir Putin a essa manobra geopolítica americana desenha um novo mapa de poder para a segunda metade da década de 2020. Fontes próximas ao Kremlin indicam que Putin vê em Trump um líder com quem é possível fazer negócios, alguém que entende a linguagem da força e do interesse nacional. A manobra de Trump de focar na Ásia-Pacífico e na fronteira sul dos EUA permite à Rússia reafirmar sua hegemonia no espaço pós-soviético sem o temor de uma intervenção americana direta. Essa “divisão de tarefas” global, embora não escrita, parece ser o subtexto que o Kremlin lê nas entrelinhas da nova estratégia de segurança.
A resposta dos mercados globais a essa sintonia inesperada tem sido mista. Enquanto os preços do petróleo estabilizaram com a perspectiva de menos tensões geopolíticas diretas entre as duas superpotências, aliados dos EUA na Ásia, como Japão e Coreia do Sul, expressam preocupação com o foco excessivo de Washington em acordos bilaterais. No entanto, para Moscou, o que importa é a estabilidade estratégica. Putin sabe que uma América focada em seus próprios problemas é uma América menos perigosa para a Rússia. A manobra geopolítica de Trump, ao retirar os EUA do papel de “polícia do mundo”, entrega à Rússia exatamente o espaço de manobra que ela buscava desde o fim da Guerra Fria.
Em suma, a exaltação do Kremlin à estratégia de Trump não é apenas um elogio diplomático, mas um reconhecimento de que o sistema internacional está mudando. A era da unipolaridade americana, na visão russa, acabou oficialmente, e o próprio documento de segurança dos EUA admite isso implicitamente. Para a Rússia, isso é uma vitória estratégica de longo prazo. O desafio agora será transformar essa convergência de visões em resultados práticos, como o levantamento de sanções e a normalização das relações diplomáticas, processos que enfrentarão imensa resistência burocrática e política em Washington. Contudo, o sinal verde de Moscou indica que, pelo menos no nível executivo, o canal de comunicação está mais aberto do que nunca.
