Solo inglês tem 520 químicos e remédios proibidos

Pesquisa identifica coquetel tóxico em amostras de terra, incluindo pesticidas e fármacos que não deveriam estar lá, levantando preocupações ambientais graves sobre a segurança alimentar.

Trator azul puxando um reboque amarelo que espalha fertilizante orgânico (esterco ou lodo) em um campo agrícola colhido.
Trator aplica lodo de esgoto tratado ou esterco em terras agrícolas, uma prática ligada à contaminação química do solo.

Uma descoberta alarmante realizada por cientistas ambientais revelou que o chão sob os pés dos cidadãos britânicos é muito mais tóxico do que se imaginava anteriormente. Um estudo abrangente e detalhado detectou a presença de mais de 520 substâncias químicas diferentes no solo da Inglaterra, criando um cenário de contaminação difusa que desafia as regulamentações atuais. O dado mais perturbador, no entanto, não é apenas a quantidade, mas a natureza desses compostos, muitos dos quais incluem medicamentos e pesticidas que foram banidos oficialmente há anos ou até décadas, sugerindo uma persistência ambiental que a ciência ainda luta para compreender totalmente.

A pesquisa, conduzida pela Agência Ambiental em colaboração com parceiros acadêmicos, analisou milhares de amostras de terra coletadas em diversos pontos do país, desde zonas industriais até áreas rurais aparentemente intocadas. O objetivo era criar um mapa químico do território, mas os resultados superaram as piores expectativas dos pesquisadores. O que foi encontrado não foram apenas traços isolados, mas sim um “coquetel químico” complexo, onde substâncias interagem de maneiras desconhecidas, potencializando riscos para a biodiversidade local, para os cursos d’água e, inevitavelmente, para a cadeia alimentar humana.

Substâncias tóxicas na terra britânica

A análise detalhada das substâncias tóxicas na terra britânica revelou uma lista que se assemelha a um inventário de farmácia misturado com um depósito de agrotóxicos industriais. Entre os compostos identificados, destacam,se antibióticos, antidepressivos e analgésicos de uso comum, que encontram seu caminho para o solo através do descarte inadequado, de vazamentos em sistemas de esgoto e da aplicação de lodo de esgoto tratado como fertilizante agrícola. A presença desses fármacos no ambiente levanta a questão crítica da resistência antimicrobiana, uma vez que bactérias do solo expostas constantemente a antibióticos podem desenvolver “superpoderes” de resistência.

Além dos medicamentos, o estudo encontrou resíduos persistentes de bifenilos policlorados (PCBs) e dioxinas, produtos químicos industriais que foram proibidos globalmente devido à sua alta toxicidade e capacidade de causar câncer. A detecção desses elementos mostra que a proibição legal não equivale ao desaparecimento físico. O solo atua como um “arquivo” histórico da atividade humana, retendo poluentes que foram descartados há meio século. Essa memória química do solo significa que as gerações atuais ainda estão lidando com o legado tóxico da revolução industrial e das práticas agrícolas intensivas do passado.

O impacto na fauna local é imediato e mensurável. Minhocas e outros invertebrados, essenciais para a saúde do solo, estão sendo expostos a níveis crônicos dessas misturas. Estudos paralelos sugerem que essa exposição pode afetar a reprodução e o crescimento dessas espécies, o que, por sua vez, prejudica a aeração do solo e a decomposição de matéria orgânica. Sem um solo saudável, a base de toda a agricultura britânica fica comprometida, transformando um problema ambiental em uma ameaça econômica e de segurança alimentar a longo prazo.

Poluentes no terreno do Reino Unido

A abrangência dos poluentes no terreno do Reino Unido é vasta e democrática, atingindo tanto áreas urbanas quanto o campo profundo. O estudo destaca que não existem “ilhas de pureza” significativas; a contaminação viaja através da água da chuva, do vento e das práticas de adubação. Um dos focos de preocupação são os chamados “químicos eternos” (PFAS), utilizados em produtos antiaderentes e impermeáveis, que também foram detectados em concentrações preocupantes. Esses compostos não se degradam naturalmente e se acumulam nos tecidos vivos, migrando do solo para as plantas e, consequentemente, para o gado e para os humanos que consomem esses produtos.

A pesquisa também apontou para a presença de fungicidas modernos, utilizados largamente na agricultura atual, coexistindo com inseticidas proibidos como o DDT. Essa mistura cria efeitos sinérgicos imprevisíveis. A toxicologia tradicional costuma avaliar o risco de uma substância por vez, mas a realidade do solo inglês é a de uma exposição múltipla. Cientistas alertam que o “efeito coquetel” pode ser muito mais nocivo do que a soma das partes individuais, pois certos químicos podem inibir os mecanismos de defesa natural dos organismos, tornando,os mais vulneráveis a outros poluentes presentes na mesma amostra.

O governo britânico enfrenta agora o desafio de atualizar suas diretrizes de monitoramento. As regulamentações atuais muitas vezes focam em uma lista restrita de contaminantes clássicos, como metais pesados (chumbo, mercúrio), ignorando a vasta gama de compostos orgânicos sintéticos que inundaram o mercado nas últimas décadas. A descoberta de 520 substâncias exige uma revisão completa dos protocolos de segurança ambiental, pressionando por tecnologias de remediação de solo mais avançadas e por um controle mais rigoroso sobre o que é despejado no ambiente sob o rótulo de “fertilizante” ou “resíduo tratado”.

Elementos nocivos na superfície inglesa

A investigação sobre os elementos nocivos na superfície inglesa lança luz sobre a prática controversa de espalhar lodo de esgoto em terras agrícolas. Embora seja uma forma de reciclar nutrientes como fósforo e nitrogênio, o lodo atua como uma esponja para todos os químicos que descem pelos ralos domésticos e industriais. O estudo sugere que essa via é um dos principais vetores de reintrodução de poluentes no ambiente. A cada chuva, esses químicos podem lixiviar para os aquíferos subterrâneos ou serem arrastados para rios e córregos, ampliando a contaminação para os ecossistemas aquáticos.

A saúde dos rios ingleses, que já tem sido alvo de críticas severas devido ao despejo de esgoto bruto, está intrinsecamente ligada à saúde do solo. Solos saturados de químicos liberam poluentes lentamente, funcionando como uma fonte difusa de contaminação que é difícil de rastrear e controlar. Isso explica, em parte, por que a qualidade da água em muitas bacias hidrográficas não apresenta melhora significativa, mesmo com investimentos em tratamento de ponta nas estações de esgoto. O solo contaminado atua como um reservatório que continua a “vazar” toxicidade anos após a fonte original ter cessado.

Especialistas em saúde pública começam a correlacionar esses dados com padrões de doenças em populações rurais e periurbanas. Embora seja difícil estabelecer um nexo causal direto devido à multiplicidade de fatores, a presença de disruptores endócrinos no solo — substâncias que imitam hormônios e alteram o sistema reprodutivo — é vista com extrema cautela. A exposição a longo prazo, mesmo em baixas doses, a uma mistura de 520 químicos é um experimento não intencional em larga escala, cujos resultados completos na saúde humana podem levar décadas para se manifestarem plenamente.

Contaminação química no chão da Inglaterra

O relatório final sobre a contaminação química no chão da Inglaterra serve como um chamado urgente para a ação global, já que as práticas industriais e agrícolas do Reino Unido não são únicas. O fenômeno observado lá provavelmente se repete em maior ou menor grau em outras nações industrializadas. A persistência de substâncias banidas nos anos 70 e 80 nos ensina uma lição humilde: o planeta não tem uma capacidade infinita de autolimpeza. As decisões químicas tomadas hoje ficarão gravadas na litosfera por gerações, exigindo uma abordagem muito mais preventiva na aprovação de novos compostos comerciais.

As implicações legais e financeiras são vastas. Proprietários de terras, agricultores e a indústria da água podem se ver envolvidos em disputas sobre a responsabilidade pela limpeza e remediação dessas áreas. O custo para descontaminar o solo, se é que é tecnicamente viável em tal escala, seria astronômico. Portanto, a ênfase deve mudar da remediação para a prevenção na fonte, o que implica em redesenhar produtos químicos para serem biodegradáveis e em implementar sistemas de tratamento de esgoto capazes de filtrar micro,poluentes farmacêuticos antes que eles virem adubo.

Por fim, a sociedade civil precisa estar ciente de que o solo é um recurso não renovável na escala de tempo humana. A degradação química da terra é tão grave quanto a erosão física. Se a Inglaterra, com seus recursos e capacidade técnica, encontra 520 químicos em seu solo, o alerta deve ressoar globalmente. A proteção do solo deve ser elevada à mesma prioridade que a proteção do ar e da água, pois é dele que provém 95% do alimento que sustenta a humanidade. Ignorar a toxicidade oculta sob nossos pés é comprometer a base da vida terrestre.

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