Em uma jogada geopolítica que pegou Washington e Tegucigalpa de surpresa, Donald Trump anunciou, na noite desta sexta-feira (28), que concederá um “perdão total e completo” ao ex-presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández. O político hondurenho cumpre atualmente uma pena de 45 anos em uma prisão federal de segurança máxima nos Estados Unidos, após ter sido condenado em 2024 por conspiração para importar toneladas de cocaína para o território americano. A declaração de Trump não apenas reescreve o destino de Hernández, mas lança uma bomba política sobre Honduras a menos de 48 horas da abertura das urnas para as eleições presidenciais.
Utilizando sua plataforma Truth Social, Trump justificou a medida afirmando que Hernández foi “tratado de forma muito dura e injusta”, contradizendo diretamente as investigações do Departamento de Justiça americano que, durante o julgamento, rotularam o ex-presidente como o arquiteto de um “narco-estado”. A decisão marca uma ruptura drástica com a política tradicional de combate às drogas dos EUA e sinaliza uma nova abordagem da Casa Branca, focada mais em alianças ideológicas do que em sentenças judiciais pregressas.
Impacto nas eleições de domingo
O timing do anúncio não é coincidência. Honduras vai às urnas neste domingo, 30 de novembro, para escolher o sucessor de Xiomara Castro. Trump não se limitou a anunciar o indulto; ele transformou o perdão em um ato de campanha explícito para Nasry “Tito” Asfura, o candidato do Partido Nacional (o mesmo de Hernández). Em sua mensagem, Trump foi taxativo: se Asfura vencer, os EUA darão “muito apoio”; se perder, o fluxo de dinheiro será cortado, alertando para “resultados catastróficos” sob a liderança errada.
Essa intervenção direta é vista por analistas como uma tentativa de frear a influência da esquerda na América Central. Ao vincular o futuro econômico de Honduras — um país profundamente dependente de remessas e ajuda externa — à vitória de um candidato específico, Trump coloca os eleitores hondurenhos diante de um dilema pragmático. A oposição e o governo atual de Xiomara Castro reagiram com indignação, classificando o ato como uma violação da soberania nacional e uma tentativa de intimidar o eleitorado.
Família celebra, justiça lamenta
Em Tegucigalpa, a reação na casa da família Hernández foi de euforia e alívio. Ana García, esposa do ex-presidente, foi vista rezando de joelhos com os filhos, agradecendo a Deus e a Trump pela “correção de uma injustiça”. A defesa de Juan Orlando Hernández, liderada pelo advogado Renato Stabile, emitiu nota agradecendo ao presidente americano por “garantir que a justiça fosse feita” e projetando um “retorno triunfante” do ex-mandatário ao seu país natal nos próximos dias.
Por outro lado, promotores federais de Nova York, que passaram anos construindo o caso contra Hernández, veem o indulto como um desmantelamento de seus esforços. Durante o julgamento, foi alegado que Hernández usou a polícia e o exército de Honduras para proteger carregamentos de drogas em troca de subornos milionários, inclusive do notório “El Chapo” Guzmán. O perdão presidencial anula a pena, mas não apaga o registro histórico das acusações que chocaram o mundo em 2024.
A nova política externa americana
Este episódio reforça o estilo de política externa de Trump em seu novo mandato: transacional e personalista. Ao reabilitar um aliado que, embora condenado por tráfico, sempre colaborou com as políticas migratórias dos EUA durante seu primeiro governo, Trump envia um sinal claro para outros líderes da região. A lealdade política a Washington parece agora ter peso suficiente para sobrepor até mesmo condenações criminais graves.
Resta saber como o eleitorado hondurenho reagirá nas urnas amanhã. O perdão pode galvanizar a base conservadora, saudosa dos tempos de Hernández, ou gerar uma reação nacionalista contra a interferência estrangeira. De qualquer forma, o domingo em Honduras promete ser tenso, com os olhos do mundo voltados não apenas para a contagem dos votos, mas para os desdobramentos de uma canetada que veio de Washington.
