O ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, afirmou em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung que o verão de 2025 pode ter sido o último período de paz na Europa. A declaração, publicada no sábado, intensificou os debates sobre uma possível guerra entre a OTAN e a Rússia nos próximos anos.
Segundo Pistorius, especialistas militares e serviços de inteligência estimam que Moscou poderá reconstituir suas forças armadas a ponto de atacar um país membro da aliança atlântica no leste europeu. Inicialmente, autoridades projetavam esse cenário para 2029. Entretanto, novas avaliações indicam que o conflito poderia eclodir já em 2028.
Além disso, o ministro ressaltou que a OTAN possui capacidade significativa de dissuasão, incluindo forças convencionais e nucleares. Todavia, ele enfatizou a necessidade de equipar melhor as tropas aliadas para enfrentar eventuais ameaças russas.
Tensões no continente europeu preocupam autoridades
A declaração de Pistorius ocorre em um contexto de crescente militarização do continente europeu. Consequentemente, diversos países da aliança atlântica aceleraram seus programas de defesa nos últimos meses. A Alemanha, em particular, embarcou no maior esforço de rearmamento desde a Segunda Guerra Mundial.
O chanceler Friedrich Merz anunciou planos para transformar o Bundeswehr no exército convencional mais forte da Europa. Para isso, Berlim destinou aproximadamente 377 bilhões de euros em novos equipamentos militares. Dessa forma, o país busca reverter décadas de declínio em suas capacidades de defesa.
Entre as aquisições planejadas estão 400 mísseis de cruzeiro Tomahawk, capazes de atingir alvos a mais de 2.000 quilômetros de distância. Adicionalmente, a lista inclui 15 caças F-35, sistemas de defesa antiaérea e infraestrutura de comunicação por satélite avaliada em 14 bilhões de euros.
Rearmamento alemão gera reações na Rússia
O Kremlin reagiu às declarações do ministro alemão com críticas contundentes. O porta-voz Dmitri Peskov classificou as afirmações como retórica militarista e pró-guerra que se escuta cada vez mais das capitais europeias. Ele também ressaltou que a Rússia não defende qualquer confronto com a OTAN.
Igualmente, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, afirmou que as declarações de Pistorius não deixam dúvidas sobre quem é o verdadeiro agressor. Segundo ela, a Alemanha demonstra sinais claros de remilitarização ao promover esse tipo de discurso.
Por outro lado, o presidente Vladimir Putin já havia classificado como absurda a ideia de que Moscou planeja atacar países da OTAN. Em outubro, ele sugeriu que os ocidentais deveriam se acalmar e cuidar de seus próprios problemas. Paralelamente, autoridades russas insistem que não têm intenção de iniciar hostilidades contra o Ocidente.
Forças armadas germânicas passam por transformação histórica
A Alemanha implantou pela primeira vez na história uma brigada completa de forma permanente no exterior. Cerca de 4.800 soldados do Bundeswehr foram estacionados na Lituânia como parte do reforço do flanco oriental da OTAN. Trata-se do primeiro destacamento permanente de tropas alemãs fora do país desde a Segunda Guerra Mundial.
Simultaneamente, o orçamento de defesa alemão atingiu pela primeira vez a meta de 2% do PIB estabelecida pela aliança atlântica. Os gastos militares chegaram a mais de 69 bilhões de euros em 2024. Para 2026, o ministério projeta um orçamento de 108 bilhões de euros.
No entanto, o Bundeswehr ainda enfrenta desafios significativos. Aproximadamente 20% das posições de oficiais e 28% das vagas para soldados permanecem não preenchidas. O déficit total chega a quase 22 mil militares em relação à meta de 203 mil efetivos.
Plano de paz europeu encontra obstáculos diplomáticos
Enquanto isso, os esforços diplomáticos para encerrar o conflito na Ucrânia não apresentaram avanços tangíveis. Pistorius observou que a Rússia prossegue com sua guerra contra Kiev e intensificou os ataques, com consequências devastadoras para a população civil.
No Fórum de Segurança de Varsóvia, o ministro alemão classificou a Rússia como a maior e mais imediata ameaça para a OTAN. Ele também criticou as violações do espaço aéreo aliado por drones russos registradas na Polônia e na Estônia nas últimas semanas.
Por fim, Pistorius descreveu a paz atual como uma ilusão, considerando a realidade do conflito ucraniano. A combinação de tensões crescentes, rearmamento acelerado e retórica beligerante dos dois lados sugere que a Europa atravessa um período de instabilidade sem precedentes desde o fim da Guerra Fria. O desfecho dessa escalada dependerá das negociações diplomáticas e da disposição das partes envolvidas em buscar soluções pacíficas.