Urgente: Narges Mohammadi é presa no Irã

Ativista estava em licença médica desde 2024 e foi capturada por forças de segurança em Mashhad durante homenagem a Khosrow Alikordi, gerando alerta global.

Foto de rosto de Narges Mohammadi, vencedora do Nobel da Paz, vestindo camisa branca e com cabelos cacheados soltos, olhando serenamente para a câmera.
A vencedora do Nobel da Paz, Narges Mohammadi, foi detida violentamente por forças de segurança iranianas nesta sexta-feira durante um funeral. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

A vencedora do Nobel da Paz, Narges Mohammadi foi presa hoje(12), volta ao centro das atenções mundiais após ser detida violentamente pelas forças de segurança do Irã nesta sexta,feira (12). O incidente ocorreu na cidade de Mashhad, no nordeste do país, durante uma cerimônia em memória de Khosrow Alikordi, um advogado de direitos humanos que faleceu recentemente em circunstâncias consideradas suspeitas por ativistas locais. Segundo relatos de testemunhas e comunicados da fundação que leva seu nome, a ação policial foi truculenta e visou não apenas Mohammadi, mas também outros defensores da liberdade que estavam presentes para prestar suas últimas homenagens.

Narges, que havia recebido uma licença médica temporária da prisão em dezembro de 2024 para tratar graves problemas de saúde, foi cercada por agentes à paisana e uniformizados. A ativista de 53 anos, símbolo da resistência feminina no país, estava fora das grades há cerca de um ano, um período raro de liberdade condicional que, segundo seus apoiadores, foi constantemente ameaçado pela retórica do regime. A notícia da sua recondução ao cárcere gerou uma onda imediata de repúdio nas redes sociais e em chancelarias ocidentais, que veem no ato uma tentativa clara de silenciar as vozes que ainda ousam questionar a repressão em Teerã.

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Detenção da laureada

A detenção da laureada não foi um evento isolado, mas sim parte de uma operação coordenada para abafar protestos emergentes. Khosrow Alikordi, o advogado cujo funeral Mohammadi assistia, era conhecido por defender presos políticos e participantes dos protestos “Mulher, Vida, Liberdade” de 2022. Sua morte súbita levantou suspeitas de assassinato político, e a presença de figuras proeminentes como Narges em seu memorial transformou o evento em um ato de desafio ao governo. Ao prender a vencedora do Nobel neste contexto, o regime envia uma mensagem brutal: não haverá tolerância para mártires ou para aqueles que os pranteiam publicamente.

Testemunhas oculares relataram que as forças de segurança bloquearam as ruas adjacentes ao local da cerimônia horas antes do início, criando um perímetro de isolamento. Quando a prisão ocorreu, houve empurra,empurra e gritos de “Morte ao ditador”, slogan que se tornou onipresente nas manifestações iranianas recentes. A violência empregada contra uma mulher que sofre de problemas cardíacos e que passou por cirurgias recentes evidencia a falta de escrúpulos das autoridades em lidar com dissidentes de alto perfil, ignorando completamente o status internacional de proteção que o prêmio Nobel teoricamente conferiria à sua integridade física.

Captura da ativista

A captura da ativista levanta preocupações imediatas sobre seu estado de saúde. Durante seu período na prisão de Evin, Narges sofreu múltiplos ataques cardíacos e precisou de intervenções cirúrgicas de emergência, incluindo a remoção de uma lesão óssea suspeita em novembro de 2024. Sua licença médica, que deveria durar apenas algumas semanas, foi estendida ao longo de 2025 devido à gravidade de seu quadro clínico e à pressão diplomática. O retorno forçado a uma cela, sem a garantia de acesso contínuo a medicamentos e acompanhamento especializado, é visto por médicos e familiares como uma sentença de morte lenta e deliberada imposta pelo Estado iraniano.

Além de Narges, a ativista Sepideh Gholian, outra voz potente contra o regime dos aiatolás, também foi levada sob custódia durante a mesma operação em Mashhad. Gholian, famosa por suas reportagens sobre abusos trabalhistas e tortura nas prisões, tem um histórico compartilhado de encarceramento com Mohammadi. A prisão simultânea dessas duas líderes femininas sugere que o Ministério da Inteligência iraniano estava monitorando seus movimentos e aguardava apenas uma oportunidade pública, como o funeral, para executar as detenções e tentar desmoralizar a oposição interna que ainda tenta se reorganizar após a repressão massiva dos últimos anos.

Encarceramento da líder

O novo encarceramento da líder repercute intensamente no cenário diplomático. Narges Mohammadi recebeu o Nobel da Paz em 2023 “por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos”. Sua prisão é uma afronta direta ao Comitê Norueguês do Nobel e às Nações Unidas, que têm exigido consistentemente sua liberdade incondicional. Em Paris, seu marido Taghi Rahmani e seus filhos, que não a veem há anos, expressaram angústia e renovaram os apelos para que a comunidade internacional imponha sanções mais severas contra os responsáveis por essa perseguição implacável.

O contexto político no Irã permanece volátil. A economia, estrangulada por sanções e má gestão, alimenta o descontentamento popular, enquanto o governo tenta manter o controle através do medo. A prisão de figuras icônicas serve como uma ferramenta de intimidação, mas também pode funcionar como um catalisador para novos levantes. A coragem de Narges em comparecer a um evento público de risco, sabendo da possibilidade de ser presa, reforça sua imagem de mártir viva e inspira uma nova geração de mulheres iranianas que continuam a desafiar as leis de vestimenta obrigatória e a segregação de gênero, mesmo sob risco de vida.

Investida das autoridades

Por fim, a investida das autoridades contra o funeral de Alikordi demonstra o nervosismo do regime com a união entre diferentes setores da sociedade civil — advogados, ativistas e familiares de vítimas. A estratégia de “erradicar o mal”, termo frequentemente usado pela propaganda estatal para descrever a dissidência, parece ter entrado em uma nova fase de agressividade. Não se trata apenas de prender, mas de apagar a memória e impedir o luto coletivo, que historicamente tem sido o estopim para revoluções no Irã. O silenciamento de Narges Mohammadi, portanto, é uma tentativa desesperada de impedir que sua voz ecoe e transforme o luto de uma morte suspeita em um grito renovado por justiça.

Consequentemente, as próximas horas serão cruciais para saber o destino exato de Narges e as acusações formais que pesarão contra ela desta vez. Advogados de direitos humanos já se mobilizam para tentar localizar seu paradeiro, temendo que ela seja levada para alas de isolamento ou para instalações não oficiais da Guarda Revolucionária, onde a tortura é uma prática comum documentada pela própria ativista em seus livros e cartas contrabandeadas. O mundo observa, e a resposta global a essa prisão dirá muito sobre o compromisso real das democracias com os valores que premiaram Narges Mohammadi há dois anos.

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