Veja o Vídeo: Engavetamento gigante com 45 veículos trava rodovia em Indiana

Acidente múltiplo bloqueou pistas e mobilizou equipes de resgate em cenário de baixa visibilidade e gelo na pista, autoridades reforçam alerta para motoristas na região.

Vista aérea de um engavetamento massivo na rodovia I-70 em Indiana, com dezenas de caminhões (incluindo um da FedEx) e carros colididos na neve. Fumaça sobe dos destroços enquanto equipes de bombeiros e resgate trabalham no local.
Imagem aérea captura a dimensão do acidente múltiplo na interestadual I-70, em Indiana, provocado por uma tempestade de neve. Cerca de 45 veículos, incluindo carretas e carros, colidiram, mobilizando um grande aparato de emergência.

No último sábado (29), o estado de Indiana, nos Estados Unidos, foi palco de um cenário de destruição que expôs a fragilidade da infraestrutura viária diante da fúria climática do inverno norte-americano. Uma tempestade de neve severa, potencializada por ventos fortes e quedas bruscas de temperatura, transformou um trecho crítico da interestadual I-70 em uma armadilha de gelo e metal retorcido. Um engavetamento de proporções assustadoras, envolvendo aproximadamente 45 veículos — entre carros de passeio, picapes e carretas de grande porte — paralisou completamente o tráfego na região de Terre Haute, especificamente próximo ao marco de milha 15, no Condado de Vigo.

O incidente, que teve início por volta das 10h da manhã (horário local), não foi apenas um acidente isolado, mas o resultado de uma convergência de fatores meteorológicos e humanos. A região estava sob alerta de condições de inverno, mas a velocidade com que a visibilidade se deteriorou pegou muitos condutores desprevenidos. O fenômeno conhecido como “whiteout”, onde o horizonte, o céu e a neve se fundem em uma brancura indistinguível, reduziu a percepção de profundidade e distância a quase zero. Em questão de segundos, a rodovia interestadual, uma das artérias mais vitais para o transporte logístico entre o leste e o oeste dos EUA, tornou-se um estacionamento caótico de veículos colididos.

Relatos de testemunhas oculares descrevem momentos de pânico absoluto. Motoristas que trafegavam a velocidades de cruzeiro se viram repentinamente deslizando sobre uma camada invisível de gelo, conhecida como “black ice”. Ao tentarem frear, a física agiu contra eles: sem atrito, os sistemas de freios ABS tornaram-se inúteis, e os veículos transformaram-se em projéteis desgovernados. O som de metal amassando e vidros estilhaçando ecoou pela planície coberta de neve enquanto carro após carro se somava à pilha de destroços. Caminhões de carga, com suas dezenas de toneladas de inércia, não conseguiram parar a tempo, prensando veículos menores e bloqueando todas as faixas no sentido oeste da rodovia.

A resposta de emergência no engavetamento Indiana nevasca I-70

A resposta das autoridades foi imediata, mas enfrentou desafios logísticos imensos. O sargento Matt Ames, Oficial de Informação Pública da Polícia Estadual de Indiana (ISP), assumiu a coordenação da comunicação e descreveu a cena como “crítica e complexa”. Dezenas de unidades de resgate, incluindo ambulâncias, caminhões de bombeiros e viaturas policiais de condados vizinhos, foram despachadas para o local. No entanto, as mesmas condições que causaram o acidente — neve acumulada e pistas escorregadias — dificultaram a chegada do socorro. Os socorristas tiveram que manobrar com extrema cautela para não se tornarem novas vítimas do gelo.

A operação de triagem e resgate durou horas. Equipes de bombeiros trabalharam sob temperaturas congelantes, utilizando ferramentas hidráulicas de desencarceramento para libertar motoristas presos nas ferragens. A prioridade foi estabilizar a cena, garantindo que não houvesse vazamentos de combustível ou risco de incêndio, algo comum em colisões envolvendo tantos veículos. O sargento Ames confirmou que, apesar da magnitude visualmente aterrorizante do acidente, houve um “milagre estatístico”: nenhuma morte foi registrada no local. As vítimas, com ferimentos variando de leves a moderados, foram transportadas para hospitais regionais, como o Regional Hospital em Terre Haute, onde receberam atendimento para traumas, cortes e hipotermia.

A Polícia Estadual utilizou drones e transmissões ao vivo nas redes sociais para alertar a população e documentar a extensão do bloqueio. As imagens aéreas mostravam uma longa fila de destruição, com caminhões atravessados em “L” (o chamado “jackknife”) e carros espremidos contra as barreiras de proteção. A remoção dos veículos exigiu guinchos pesados e uma coordenação minuciosa para liberar, veículo por veículo, o emaranhado de aço. A rodovia permaneceu fechada durante grande parte do dia, forçando milhares de viajantes, muitos retornando do feriado de Ação de Graças, a buscar rotas alternativas por estradas secundárias que também não ofereciam condições ideais de tráfego.

O fator humano e a física do inverno

Especialistas em segurança viária apontam que, embora o clima seja o gatilho, o comportamento dos motoristas é o fator determinante na gravidade desses eventos. Em condições de neve e gelo, a regra de ouro é a adaptação radical do estilo de condução. O engavetamento Indiana nevasca I-70 ilustra a falha em respeitar a “distância de seguimento”. Em pista seca, recomenda-se uma distância de 3 a 4 segundos do carro da frente; na neve, essa margem deve ser ampliada para 8 a 10 segundos. Muitos motoristas, confiando excessivamente na tecnologia de seus veículos (como tração 4×4 ou assistentes de estabilidade), mantiveram velocidades incompatíveis com a aderência disponível.

A física do gelo é implacável. O coeficiente de atrito entre o pneu e o asfalto cai drasticamente, fazendo com que a distância de frenagem aumente em até dez vezes. Um caminhão carregado, viajando a 90 km/h, precisa de uma distância considerável para parar no asfalto seco; no gelo, ele se torna um trem de carga sem freios. O sargento Ames foi enfático em seu apelo público: “As pessoas só precisam dirigir com inteligência quando a neve começar a cair. Reduzam a velocidade, certifiquem-se de que estão com o cinto de segurança e vamos todos ficar seguros lá fora”. Ele também alertou sobre os perigos dos “slide-offs”, termo usado para veículos que simplesmente escorregam para fora da pista sem colidir com outros, mas que acabam presos na neve fofa do acostamento, exigindo resgate e bloqueando recursos que poderiam estar em emergências maiores.

Além da velocidade, a falta de preparação do veículo é um agravante. Pneus “carecas” ou inadequados para o inverno (sem a designação de neve/lama) perdem tração instantaneamente. Limpadores de para-brisa desgastados falham em remover a neve acumulada, cegando o motorista. Sistemas de degelo ineficientes permitem que os vidros embacem. Tudo isso cria um “cockpit” de condução perigoso, onde o motorista opera com informações visuais limitadas e controle mecânico reduzido. As autoridades de Indiana reforçaram a necessidade de kits de emergência nos carros, contendo cobertores, água, alimentos não perecíveis e carregadores de celular, pois quem fica preso em um engavetamento pode esperar horas no frio até a liberação da pista.

Impacto econômico e logístico da paralisação

O fechamento da I-70, mesmo que temporário, gera ondas de choque na economia regional e nacional. Essa rodovia é um dos principais corredores de frete dos Estados Unidos, conectando centros de distribuição vitais. Milhares de caminhões ficaram parados no congestionamento quilométrico que se formou, atrasando entregas “just-in-time” e gerando prejuízos para transportadoras e embarcadores. O custo hora de um caminhão parado é altíssimo, e o efeito cascata pode afetar linhas de produção e reabastecimento de varejo em vários estados vizinhos. Além disso, há o custo direto para as seguradoras, que terão de processar dezenas de sinistros simultâneos, muitos envolvendo perda total dos veículos.

As equipes do Departamento de Transportes de Indiana (INDOT) atuaram em conjunto com a polícia para não apenas limpar os destroços, mas também tratar a pista quimicamente antes da reabertura. Caminhões espalhadores de sal e areia trabalharam incessantemente para derreter a camada de gelo compactada e criar uma superfície de atrito mínima. A operação de limpeza pós-acidente envolve também a remoção de fluidos derramados (óleo, líquido de arrefecimento), que são contaminantes ambientais e deixam a pista ainda mais escorregadia se não forem tratados adequadamente. A reabertura da rodovia, ocorrida no final da tarde, foi gradual, com monitoramento constante para evitar novos incidentes no mesmo local.

O turismo e as viagens pessoais também sofreram. O fim de semana pós-Thanksgiving é tradicionalmente o de maior volume de tráfego nos EUA. Famílias inteiras ficaram retidas na estrada ou tiveram que pernoitar em hotéis de beira de estrada lotados, alterando planos de retorno ao trabalho e à escola. O estresse emocional de estar envolvido ou preso próximo a um acidente dessa magnitude é considerável. As autoridades locais utilizaram o episódio para lançar campanhas educativas nas rádios e TVs locais, reiterando que “chegar atrasado é melhor do que não chegar”, um clichê que ganha peso de realidade diante das imagens das ferragens na I-70.

O novo normal climático e a infraestrutura

Meteorologistas alertam que eventos de tempestades de inverno intensas e rápidas podem se tornar mais frequentes devido às mudanças nos padrões climáticos globais. O “Efeito Lago” (Lake Effect Snow), comum na região dos Grandes Lagos, pode depositar quantidades massivas de neve em faixas estreitas de terra em pouco tempo, criando condições de direção disparates em curtas distâncias. Um motorista pode sair de um trecho de sol e pista seca e entrar, cinco quilômetros depois, em uma parede branca de neve. Isso exige uma nova mentalidade de adaptação tanto dos condutores quanto dos gestores de infraestrutura, que precisam de sistemas de alerta mais rápidos e dinâmicos, como painéis de mensagem variável inteligentes e aplicativos de trânsito integrados em tempo real.

O incidente em Indiana serve como um estudo de caso para engenheiros de tráfego e planejadores urbanos. A questão que fica é como melhorar a resiliência das rodovias a esses eventos extremos. Barreiras de neve vivas (árvores plantadas estrategicamente), melhor drenagem, asfalto com tecnologias anti-gelo e maior iluminação são algumas das soluções debatidas. No entanto, a tecnologia não substitui a prudência. O fator humano continua sendo a variável mais imprevisível e crítica na equação da segurança viária. Enquanto a cultura de “pressa” nas estradas não for substituída por uma cultura de segurança preventiva, cenas como a da I-70 continuarão a se repetir a cada inverno.

Concluindo, o engavetamento na I-70 em Indiana é um alerta severo sobre os limites da condução humana e da tecnologia veicular frente às forças da natureza. Para os 45 motoristas envolvidos, foi um dia de perdas materiais e susto indescritível; para os milhares que ficaram presos no trânsito, um dia de frustração. Mas para a sociedade, deve ser um momento de aprendizado. A mensagem das autoridades é clara e deve ecoar: em condições de tempestade de inverno, a decisão mais segura é, quase sempre, não pegar a estrada. E se for inevitável, que seja feito com o respeito absoluto às condições adversas, pois o gelo não perdoa erros, e a estrada cobra um preço alto pela imprudência.

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários