O vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, fez duras críticas ao ministro Alexandre de Moraes após a decretação da prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro neste sábado. Em publicação na rede social X, o número dois da diplomacia americana classificou a detenção como provocativa e desnecessária, afirmando que Washington está profundamente preocupada com o que chamou de ataque ao Estado de Direito e à estabilidade política no Brasil.
A manifestação oficial do governo americano ocorreu poucas horas depois de Moraes determinar a conversão da prisão domiciliar de Bolsonaro em preventiva. O ministro do Supremo Tribunal Federal fundamentou a decisão na tentativa de violação da tornozeleira eletrônica pelo ex-presidente e no risco de fuga identificado pela Polícia Federal. A vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro nas proximidades do condomínio onde o pai residia também foi citada como elemento que justificava a medida mais rigorosa.
Diplomata americano acusa magistrado de politizar processo judicial
Landau direcionou ataques pessoais ao ministro Alexandre de Moraes em sua publicação nas redes sociais. O vice-secretário de Estado chamou o magistrado de violador de direitos humanos sancionado, em referência às medidas restritivas impostas pelo governo Trump contra o ministro brasileiro. Segundo o diplomata, Moraes teria trazido descrédito e vergonha internacional ao Supremo Tribunal Federal ao desrespeitar normas tradicionais de contenção judicial e politizar descaradamente o processo contra Bolsonaro.
A crítica do número dois do Departamento de Estado foi além da análise técnica da decisão judicial. Landau afirmou categoricamente que não há nada mais perigoso para a democracia do que um juiz que não conhece limites para seu poder. A frase sintetiza a postura confrontacional que o governo americano vem adotando em relação ao ministro brasileiro desde que as investigações contra Bolsonaro ganharam força no ano passado.
O diplomata argumentou ainda que a prisão preventiva seria desnecessária porque o ex-presidente já se encontrava sob forte vigilância em regime domiciliar. Além disso, Bolsonaro enfrentava severas restrições de comunicação impostas pela Justiça, o que, na visão americana, eliminaria qualquer risco que justificasse medida mais drástica.
Embaixada dos EUA endossa críticas ao Supremo brasileiro
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil republicou integralmente a mensagem de Christopher Landau em suas redes sociais oficiais. O gesto representa endosso institucional às críticas feitas pelo vice-secretário de Estado e demonstra que a posição não é pessoal, mas reflete a política externa do governo Trump em relação ao Brasil. A tradução para o português foi disponibilizada nos canais oficiais da representação diplomática.
A atitude da embaixada intensifica a tensão diplomática entre os dois países em um momento delicado das relações bilaterais. Apenas dois dias antes da prisão de Bolsonaro, o presidente Donald Trump havia assinado decreto suspendendo as tarifas adicionais de quarenta por cento sobre mais de duzentos produtos brasileiros, incluindo café e carne bovina. A decisão parecia indicar uma distensão nas relações, mas a prisão do ex-presidente reacendeu o conflito.
A postura americana representa interferência direta em assuntos internos do Judiciário brasileiro, segundo analistas de relações internacionais. A tradição diplomática costuma evitar comentários sobre decisões judiciais de outros países, especialmente quando envolvem figuras políticas próximas ao governo que faz as críticas. O rompimento dessa prática protocolar evidencia o grau de envolvimento pessoal do governo Trump no caso Bolsonaro.
Trump lamenta prisão em tom mais moderado
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também se manifestou sobre a prisão de Bolsonaro durante coletiva de imprensa neste sábado. Em tom mais contido que o de seu vice-secretário de Estado, Trump afirmou inicialmente desconhecer os detalhes do caso. Quando informado pelos jornalistas presentes, limitou-se a dizer que a situação era uma pena, sem elaborar críticas diretas ao sistema judicial brasileiro.
A diferença de tom entre Trump e Landau pode indicar uma estratégia de comunicação em dois níveis. Enquanto o presidente mantém postura institucional mais comedida, seu subordinado direto na área de política externa assume papel de confronto aberto com o governo brasileiro e suas instituições. Essa divisão de papéis permite ao governo americano manter algum espaço para negociação diplomática enquanto pressiona o Brasil publicamente.
A relação pessoal entre Trump e Bolsonaro remonta ao período em que ambos ocupavam a presidência de seus respectivos países. O ex-presidente brasileiro refugiou-se na Flórida após deixar o cargo em janeiro de 2023 e manteve proximidade com círculos políticos trumpistas. A prisão de Bolsonaro pode complicar essa relação e gerar demandas internas nos Estados Unidos por ações mais enérgicas contra o Brasil.
Landau tem histórico de ataques ao ministro brasileiro
Esta não é a primeira vez que Christopher Landau direciona críticas públicas a Alexandre de Moraes. Em agosto deste ano, quando o ministro determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro, o diplomata afirmou que Moraes estava arrastando o Brasil para uma ditadura judicial. A escalada retórica demonstra que o vice-secretário de Estado mantém linha de confronto consistente com o magistrado brasileiro.
Em setembro, após a condenação de Bolsonaro a vinte e sete anos de prisão pelo STF, Landau elevou ainda mais o tom das críticas. O diplomata afirmou que Moraes havia desmantelado o Estado de Direito no Brasil e levado as relações entre Brasília e Washington ao ponto mais sombrio em dois séculos. A hipérbole histórica chamou atenção de especialistas em relações internacionais, que questionaram a proporcionalidade da declaração.
Durante visita de empresários brasileiros a Washington, Landau chegou a afirmar que o Brasil seria o único país do mundo sem solução técnica ou econômica para as tarifas impostas por Trump. A previsão não se concretizou, já que o presidente americano suspendeu as sobretaxas sobre produtos brasileiros dias depois. A sequência de declarações controversas coloca em dúvida a credibilidade das análises do diplomata sobre o cenário brasileiro.
Contexto da prisão preventiva de Bolsonaro
A decisão de Alexandre de Moraes que motivou as críticas americanas foi tomada após a Polícia Federal identificar tentativa de violação da tornozeleira eletrônica usada por Bolsonaro. Segundo relatório da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, o equipamento apresentava sinais claros e importantes de avaria, com marcas de queimadura em toda a sua circunferência e no encaixe de fechamento.
O próprio ex-presidente admitiu ter utilizado ferro de solda para tentar abrir a tornozeleira eletrônica. Em depoimento às autoridades, Bolsonaro alegou ter sofrido um surto de paranoia e acreditado que havia uma escuta no equipamento. A justificativa foi considerada insuficiente pelo ministro relator, que entendeu haver risco concreto de fuga diante da proximidade do trânsito em julgado da condenação por crimes contra a democracia.
Além da violação do equipamento de monitoramento, Moraes citou a vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro como elemento que aumentava o risco de descumprimento das medidas cautelares. O magistrado avaliou que a aglomeração de apoiadores nas proximidades do condomínio poderia criar tumulto favorável a uma eventual tentativa de fuga do ex-presidente, que enfrenta pena de vinte e sete anos e três meses de prisão.
Relações Brasil-EUA atravessam momento turbulento
A crise diplomática provocada pelas declarações americanas sobre a prisão de Bolsonaro adiciona mais um capítulo às tensões entre os dois países. O governo Lula tem evitado confronto direto com Washington, mas a interferência em assuntos judiciais internos pode forçar resposta mais contundente das autoridades brasileiras. O Itamaraty ainda não se manifestou oficialmente sobre as críticas de Christopher Landau.
A situação coloca em risco os avanços recentes nas negociações comerciais bilaterais. A suspensão das tarifas sobre produtos agrícolas brasileiros foi celebrada pelo governo federal como vitória diplomática, mas o clima de confronto pode dificultar novas concessões americanas. Setores exportadores brasileiros acompanham com preocupação a escalada retórica entre os dois governos.
A Primeira Turma do STF deve julgar nesta segunda-feira a decisão de Moraes que decretou a prisão preventiva de Bolsonaro. O resultado do julgamento será observado de perto pelo governo americano, que já sinalizou disposição para intensificar as críticas caso a detenção seja mantida pelo colegiado. A crise diplomática pode se agravar ou encontrar caminho de distensão dependendo do desfecho do caso nas próximas horas.