Zelensky demite Yermak: Crise política abala Kiev

Decreto presidencial oficializa saída do chefe de gabinete e homem forte do governo, pressão internacional e desgaste interno motivaram a ruptura no alto comando ucraniano.

Foto em plano médio de Andrey Yermak chefe de gabinete da Ucrânia vestindo casaco verde militar com expressão séria olhando para o lado.
Andrey Yermak, ex-chefe de gabinete e braço direito de Zelensky, teve sua demissão oficializada neste sábado (29).

Uma reviravolta dramática sacudiu as fundações do governo ucraniano na tarde deste sábado, 29 de novembro de 2025. O presidente Volodymyr Zelensky assinou o decreto oficializando a demissão de Andrey Yermak, seu chefe de gabinete e, até então, considerado o homem mais influente do país depois do próprio chefe de Estado. A notícia, que começou como um rumor tenso nos corredores do palácio presidencial em Kiev, foi confirmada com a publicação do documento no site oficial da presidência, encerrando uma era de centralização de poder que definiu a gestão da guerra nos últimos anos. A saída de Yermak não é apenas uma troca administrativa; é um terremoto político que sinaliza profundas mudanças na estratégia de sobrevivência da Ucrânia.

A decisão ocorre em um momento de extrema delicadeza para a nação do leste europeu. Com o inverno se aproximando e as linhas de frente no Donbass sob pressão constante, a estabilidade interna era vista como crucial. No entanto, fontes ligadas à administração sugerem que a relação entre Zelensky e Yermak, outrora inabalável, sofreu desgastes irreparáveis nos últimos meses. Divergências sobre a condução das negociações diplomáticas com o Ocidente e a gestão de recursos internos criaram fissuras que, agora, tornaram-se públicas. A demissão é interpretada por analistas como uma tentativa desesperada de Zelensky de “limpar a casa” e recuperar a confiança de parceiros internacionais céticos.

A queda do chefe de gabinete

Andrey Yermak não era um burocrata comum. Desde que assumiu a chefia do gabinete em 2020, ele expandiu suas atribuições para muito além da organização da agenda presidencial. Yermak controlava o acesso a Zelensky, supervisionava negociações de paz, trocas de prisioneiros e até mesmo a estratégia de comunicação global da Ucrânia. Sua onipresença gerou críticas de que ele havia criado um “governo paralelo”, isolando o presidente de outras vozes importantes, como as das Forças Armadas e do Parlamento.

Sua saída abrupta levanta questões sobre o vácuo de poder que se formará. Durante a guerra, Yermak centralizou decisões vitais, muitas vezes passando por cima do Ministério das Relações Exteriores. A concentração de poder em suas mãos era tamanha que diplomatas estrangeiros frequentemente brincavam que para falar com Zelensky, era preciso primeiro agradar Yermak. Agora, sem seu “guardião” e executor, Zelensky terá que reestruturar rapidamente seu círculo íntimo para evitar que a paralisia administrativa afete o esforço de guerra. A demissão sugere que o presidente optou por sacrificar seu aliado mais leal para salvar a própria governabilidade.

Motivos da ruptura na presidência

Embora o decreto não detalhe as razões da exoneração, os bastidores de Kiev fervem com especulações fundamentadas. A pressão dos Estados Unidos e da União Europeia parece ter sido o fator determinante. Relatórios de inteligência ocidentais vinham, há meses, apontando preocupações com a transparência no gabinete de Yermak e sua suposta resistência a reformas anticorrupção exigidas para a continuidade da ajuda financeira e militar. Em um cenário onde o apoio externo é a linha vital da Ucrânia, Zelensky pode ter sido colocado diante de uma escolha impossível: manter seu amigo ou garantir os mísseis e dólares necessários para continuar lutando.

Além do fator externo, a política doméstica também pesou. A popularidade de Yermak era inversamente proporcional ao seu poder. Ele era visto por muitos setores da sociedade civil e pelos militares como uma figura sombria, responsável por expurgos de generais populares e por decisões táticas questionáveis. A recente demissão de comandantes militares, atribuída à influência de Yermak, gerou um descontentamento silencioso, mas perigoso, nas trincheiras. Zelensky, sempre atento ao humor das tropas e da rua, percebeu que manter Yermak custava muito caro ao seu capital político. A “desyermakização” do governo pode ser uma tentativa de unificar o país diante das dificuldades crescentes no front.

Saída do braço direito e a guerra

O impacto dessa mudança na condução da guerra contra a Rússia é imensurável. Yermak era o principal interlocutor em canais de “backdoor” (diplomacia paralela) com diversos atores globais, incluindo países do Sul Global e até intermediários russos. Sua saída pode significar uma mudança de postura em relação a futuras negociações de paz. Há quem diga que Yermak era um “falcão”, avesso a concessões, enquanto outros o viam como pragmático demais. Sem ele, a política externa ucraniana deve voltar a ser conduzida pelos canais institucionais tradicionais do Ministério das Relações Exteriores.

Para o Kremlin, a demissão é vista com atenção redobrada. A propaganda russa frequentemente pintava Yermak como uma “eminência parda”, e sua queda será certamente explorada como sinal de caos e fraqueza em Kiev. No entanto, para os aliados da Ucrânia, isso pode representar uma oportunidade de “reset”. Uma nova liderança no gabinete presidencial pode facilitar a implementação de novas estratégias e melhorar a coordenação com a OTAN. A grande dúvida é se essa transição será suave ou se desencadeará uma luta interna por poder em um momento em que a unidade é questão de sobrevivência nacional.

Mudança no comando ucraniano e futuro

O anúncio da demissão abre a temporada de apostas sobre o sucessor. Zelensky precisa de alguém com capacidade administrativa, lealdade absoluta, mas que tenha melhor trânsito com o Ocidente e menos rejeição interna. Nomes como o de vice-primeiros-ministros e até figuras do setor de tecnologia e defesa começam a circular. A escolha do substituto indicará qual caminho Zelensky pretende seguir: o do endurecimento militar ou o da abertura diplomática para um eventual cessar-fogo.

Por fim, a saída de Andrey Yermak marca o fim da fase “romântica” e centralizadora da resistência ucraniana. O governo entra agora em uma etapa mais pragmática e, possivelmente, mais frágil politicamente. Zelensky está mais sozinho do que nunca no topo da pirâmide. Ao demitir o homem que guardava suas costas, o presidente assume a responsabilidade total pelos próximos passos. A história julgará se este foi um ato de coragem necessário para salvar a nação ou o início do desmoronamento da estrutura de poder que manteve a Ucrânia de pé até aqui.

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