O estado de Santa Catarina amanheceu neste sábado, 29 de novembro de 2025, contabilizando os prejuízos de uma das noites mais aterrorizantes de sua história climática recente. O que começou como alertas meteorológicos padrão evoluiu rapidamente para um cenário de caos generalizado, onde a força bruta da natureza não poupou áreas urbanas nem rurais. De Oeste a Leste, uma linha de instabilidade severa varreu o mapa catarinense, deixando para trás um rastro de destruição que inclui telhados arrancados, infraestrutura colapsada e lavouras inteiras dizimadas pelo granizo. O medo tomou conta de milhares de famílias que, impotentes, viram o céu escurecer repentinamente antes de desabar em forma de ventania e gelo.
A violência do fenômeno surpreendeu até mesmo os moradores mais acostumados com o clima instável da região Sul do Brasil. Em questão de minutos, o dia virou noite, e o barulho ensurdecedor do vento se misturou ao impacto das pedras de gelo nos telhados. Relatos de pânico chegaram de diversas cidades simultaneamente, sobrecarregando as linhas de emergência do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil. Não se tratou apenas de uma chuva forte de verão, mas de um sistema complexo que encontrou as condições perfeitas de calor e umidade para explodir em células de tempestade com potencial destrutivo de furacão.
O terror do vendaval e a piscina voadora
Entre as imagens que definem a gravidade deste evento, uma cena capturada no município de Orleans, no Sul do estado, tornou-se o símbolo da força dos ventos. Uma piscina de fibra, de tamanho considerável, foi arrancada do solo como se fosse feita de papelão, sendo arrastada pelas ruas da cidade. O objeto, transformado em projétil pela força da ventania que superou os 100 km/h, colidiu com a rede elétrica e deslizou pelo asfalto molhado. A cena surreal ilustra a capacidade destrutiva das rajadas, que não encontraram barreiras físicas capazes de contê-las.
Além do episódio da piscina, a região da Grande Florianópolis também sofreu impactos diretos e assustadores na infraestrutura comercial e residencial. Em Palhoça, clientes e funcionários de um grande supermercado viveram momentos de terror quando parte da estrutura do telhado cedeu sob a pressão do vento e da água. O som de metal retorcendo e o estilhaçar de vidros criaram uma atmosfera de pânico, obrigando as pessoas a buscarem abrigo nos corredores internos. Outdoors foram arrancados pela base, placas de trânsito dobraram e árvores centenárias foram desenraizadas, bloqueando rodovias vitais como a BR-101 e a BR-282, paralisando o trânsito e isolando comunidades inteiras durante a madrugada.
O bombardeio de gelo no agronegócio
Enquanto o litoral lutava contra o vento, o Oeste e o Meio-Oeste de Santa Catarina enfrentavam um bombardeio vindo do céu. A tempestade de granizo que atingiu municípios como Seara, Itaiópolis e Doutor Pedrinho foi descrita por agricultores experientes como algo sem precedentes nos últimos anos. As pedras de gelo, algumas comparáveis ao tamanho de ovos de galinha ou laranjas, perfuraram telhados de fibrocimento como se fossem feitos de isopor. Dentro das casas, famílias tiveram que se abrigar sob mesas ou em banheiros de laje, enquanto a água gelada invadia salas e quartos, destruindo móveis e eletrodomésticos.
No entanto, é no campo que a dor do prejuízo é mais aguda e silenciosa. O agronegócio, motor econômico dessas regiões, sofreu um golpe devastador. Plantações de fumo, que estavam em fase final de maturação e prontas para a colheita, foram trituradas pelo granizo, transformando meses de trabalho e investimento em massa verde inutilizável no chão. Lavouras de milho e parreirais de uva também foram severamente afetados. Sindicatos rurais já estimam perdas milionárias que afetarão não apenas a renda das famílias produtoras, mas toda a cadeia econômica local, que depende do sucesso dessas safras para girar o comércio das pequenas cidades.
Apagão elétrico e resposta oficial
A consequência imediata dessa fúria atmosférica foi o colapso do fornecimento de energia elétrica em diversas regiões. A Celesc, concessionária responsável, informou que centenas de milhares de unidades consumidoras ficaram às escuras. A queda de árvores sobre a fiação de alta tensão e a destruição de transformadores exigiram uma mobilização de guerra por parte das equipes técnicas. Eletricistas trabalham ininterruptamente sob condições adversas, muitas vezes ainda sob chuva, para tentar restabelecer o serviço, priorizando hospitais e estações de tratamento de água. A falta de luz trouxe consigo a falta de comunicação, com torres de telefonia celular fora de operação, aumentando a angústia de quem tentava contatar parentes nas áreas mais atingidas.
A Defesa Civil de Santa Catarina agiu rápido, elevando os níveis de alerta e mobilizando coordenadorias regionais para a distribuição de ajuda humanitária emergencial. Rolos de lona foram enviados para cobrir os telhados destruídos e evitar que a chuva, que continua a cair em menor intensidade, cause ainda mais danos aos bens dos moradores. O governador do estado já sinalizou que deve decretar situação de emergência nos municípios mais afetados, visando acelerar a liberação de recursos federais para a reconstrução. A prioridade, neste momento, é garantir a segurança habitacional das famílias desalojadas e desobstruir as vias públicas para permitir o fluxo de ambulâncias e viaturas de resgate.
Ameaça climática e previsão futura
Meteorologistas explicam que o evento foi causado pelo avanço de uma frente fria vigorosa que encontrou uma massa de ar muito quente estacionada sobre o estado. Esse choque térmico brutal gerou o que se chama de “Sistema Convectivo de Mesoescala”, um aglomerado de nuvens de tempestade com alto potencial energético. O relevo acidentado de Santa Catarina também contribui para a canalização dos ventos e a formação de granizo, tornando a região um corredor frequente para esse tipo de fenômeno severo. Especialistas alertam que a frequência e a intensidade desses eventos podem estar sendo amplificadas pelas mudanças climáticas globais, exigindo uma nova postura de prevenção e adaptação das cidades.
Para as próximas horas e para o domingo, a previsão não traz o alívio completo que a população espera. Embora o pior da instabilidade já tenha passado pelas áreas mais castigadas, a atmosfera permanece volátil. A Defesa Civil mantém o alerta laranja, indicando que novas pancadas de chuva, raios e rajadas de vento ocasionais ainda podem ocorrer. O solo encharcado também eleva o risco de deslizamentos de terra em encostas, uma preocupação constante no Vale do Itajaí. A recomendação expressa é que a população evite áreas de risco, não tente atravessar ruas alagadas e se mantenha informada pelos canais oficiais. Santa Catarina, mais uma vez, terá que demonstrar sua conhecida resiliência para limpar os escombros e recomeçar.
