Depoimento bomba: Lulinha recebia mesada de R$ 300 mil do Careca do INSS

Edson Claro, testemunha chave, detalha repasses mensais e viagens de luxo para Portugal; CPMI analisa convocação urgente do filho do presidente.

Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, com expressão pensativa e mão no queixo durante depoimento em comissão no Congresso.
Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, foi apontado em depoimento à PF como o operador financeiro que repassava mesada a Lulinha.

Um depoimento explosivo prestado à Polícia Federal (PF) lançou uma nova sombra de suspeita sobre a família do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conectando seu filho mais velho, Fábio Luís Lula da Silva, o “Lulinha”, a um dos maiores esquemas de fraude previdenciária da história recente. Edson Claro, ex-funcionário de confiança de Antônio Carlos Camilo Antunes — conhecido no submundo político como “Careca do INSS” —, afirmou às autoridades que Lulinha recebia uma “mesada” periódica do operador. A informação, mantida sob sigilo até ser revelada nesta quinta-feira (4), caiu como uma bomba na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os desvios no instituto, forçando uma reconfiguração imediata das estratégias da oposição e do governo.

Revelação de pagamentos

Segundo os relatos detalhados por Edson Claro, os valores repassados a Lulinha giravam em torno de R$ 300 mil. O depoente descreveu uma rotina de entregas financeiras que, segundo ele, servia para manter o filho do presidente alinhado aos interesses do grupo empresarial liderado por Careca. A PF agora cruza essas informações com dados bancários e telemáticos para confirmar a periodicidade e a origem exata do dinheiro. A suspeita dos investigadores é que a “mesada” não era apenas um presente, mas parte de uma estrutura de lavagem de dinheiro que utilizava empresas de fachada para drenar recursos de aposentados e pensionistas através de descontos indevidos em folha.

O depoimento, prestado no final de outubro de 2025, traz elementos que complicam a defesa dos envolvidos. Edson Claro não se limitou a falar de dinheiro vivo; ele entregou às autoridades documentos que sugerem uma sociedade informal entre Lulinha e Careca do INSS. Essa parceria teria viabilizado, inclusive, viagens internacionais conjuntas, como uma ida a Portugal, onde negócios do grupo estariam sendo expandidos. Para a Polícia Federal, essas viagens são indícios fortes de que a relação entre o filho do presidente e o operador do esquema transcendia a mera amizade, configurando um vínculo empresarial focado na ocultação de patrimônio.

Repasses mensais ilícitos

A dinâmica dos “repasses mensais ilícitos” descrita pela testemunha aponta para uma sofisticação no método de entrega. Diferente dos esquemas antigos de transporte de malas, a operação envolvia a liquidação de despesas pessoais e o custeio de um estilo de vida elevado. O termo “mesada” foi utilizado pelo próprio ex-funcionário para ilustrar a regularidade dos pagamentos, que funcionavam como um soldo fixo para garantir a proteção política do esquema. Careca do INSS, apontado como o cérebro da organização criminosa, teria usado a proximidade com a família presidencial como um “seguro” para operar suas 22 empresas de fachada sem ser incomodado pelos órgãos de controle.

O impacto político dessa revelação é imediato. Na sessão da CPMI realizada hoje, o clima de guerra se instalou. O senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente da comissão, afirmou que as novas informações tornam “imprescindível” a convocação de Lulinha para depor. A oposição, armada com os trechos vazados do inquérito, pressiona para que a quebra de sigilo bancário e fiscal de Fábio Luís seja aprovada ainda nesta semana. A narrativa governista de que as investigações eram “perseguição política” desmorona diante da gravidade de um testemunho ocular que coloca valores e datas na mesa dos delegados.

Conexão financeira oculta

A “conexão financeira oculta” entre o clã Lula e os desvios do INSS pode ser a ponta de um iceberg muito maior. A investigação da PF, batizada de Operação Fim da Linha, já havia identificado que as empresas de Careca serviam como intermediárias para lavar dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). A entrada de Lulinha nesse cenário adiciona um componente de risco institucional gravíssimo. Se confirmado que o dinheiro do crime organizado, lavado através de fraudes contra idosos, acabou financiando a “mesada” do filho do presidente, o governo enfrentará sua maior crise moral. O relatório da PF destaca que o patrimônio de Careca saltou de forma incompatível em 2024, acumulando milhões em bens imobilizados justamente no período em que os repasses teriam ocorrido.

Além disso, a defesa de Edson Claro tenta negociar uma delação premiada formal, o que poderia trazer provas materiais ainda mais contundentes, como áudios e comprovantes de transferências. O medo de “queima de arquivo” já foi manifestado por parlamentares, que pedem proteção reforçada à testemunha. O próprio Careca do INSS, que está preso desde setembro, manteve-se em silêncio em seu depoimento anterior, mas a pressão de seus ex-aliados falando pode forçá-lo a abrir o jogo para tentar reduzir sua pena. O círculo está se fechando, e a blindagem que protegia os “amigos do rei” começa a apresentar falhas estruturais irreparáveis.

Esquema de benefícios

Por fim, o “esquema de benefícios” mútuos entre o poder público e o crime financeiro expõe a vulnerabilidade das instituições brasileiras. A facilidade com que um operador conseguiu infiltrar-se no sistema previdenciário e, supostamente, cooptar familiares da alta cúpula da República, demonstra que os mecanismos de compliance do governo falharam ou foram deliberadamente desligados. A CPMI do INSS, que muitos apostavam que terminaria em pizza, ganhou um novo fôlego e agora ameaça atingir o Palácio do Planalto com a força de um tsunami.

Portanto, a sociedade aguarda respostas claras. Não basta mais negar; é preciso provar a inocência diante de fatos tão graves. A mesada de R$ 300 mil, se comprovada, não será apenas um crime financeiro, mas um símbolo da traição da confiança de milhões de brasileiros que dependem da previdência social para sobreviver. O caso Lulinha-Careca deixa de ser uma fofoca de bastidor para se tornar o inquérito central da República neste fim de ano.

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