O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) iniciou oficialmente sua movimentação como pré-candidato à Presidência da República nesta segunda-feira (8), promovendo uma série de reuniões estratégicas com as principais lideranças do Centrão em Brasília. O objetivo central dos encontros é consolidar seu nome como a alternativa viável da direita para 2026, após ter sido ungido publicamente pelo pai, Jair Bolsonaro, como seu sucessor político. A agenda incluiu conversas diretas e um jantar com caciques partidários que detêm as chaves do tempo de TV e dos fundos eleitorais.
Entre os convidados de honra para as articulações estão Valdemar Costa Neto, presidente do PL; Ciro Nogueira, presidente do Progressistas (PP); e Antonio Rueda, que comanda o União Brasil. A ofensiva de Flávio visa “quebrar o gelo” e mitigar resistências dentro desse bloco, que ainda observa com cautela a viabilidade eleitoral do senador frente a outros nomes do campo conservador, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. A ausência notada foi a de Marcos Pereira, do Republicanos, que alegou compromissos prévios em São Paulo, sinalizando que a unidade da direita ainda requer costura fina.

Encontro político em Brasília
A reunião ocorre em um momento de alta tensão e definição de prioridades para o grupo bolsonarista. Flávio Bolsonaro surpreendeu o meio político no domingo (7) ao declarar abertamente que sua candidatura não é irrevogável e que ele “tem um preço” para retirá-la. Nos bastidores do jantar, a mensagem foi decodificada com clareza: o “preço” é a aprovação do projeto de anistia que beneficiaria os condenados pelos atos de 8 de janeiro e, crucialmente, reverteria a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. Essa moeda de troca coloca o Centrão na posição de fiador de um grande acordo nacional.
Nesse sentido, a postura de Flávio é pragmática e calculada. Ao se colocar como pré-candidato, ele eleva o custo de qualquer negociação futura, forçando o sistema político a lidar com o clã Bolsonaro como protagonista, e não como coadjuvante. Para Ciro Nogueira e Valdemar, a equação envolve medir até onde vai o capital político do senador e se ele consegue transferir os votos do pai sem a rejeição que o acompanha. O jantar serviu para alinhar expectativas e medir a temperatura para uma eventual ofensiva legislativa ainda neste ano.
Além disso, a escolha dos interlocutores não foi aleatória. O União Brasil de Antonio Rueda e o PP de Ciro Nogueira são fundamentais para qualquer coalizão de oposição que pretenda enfrentar o presidente Lula. Flávio sabe que, sem a máquina dessas legendas, qualquer aventura presidencial seria quixotesca. A conversa girou em torno de garantias mútuas: apoio à anistia em troca de palanques regionais e composições para a Mesa Diretora do Congresso, pautas que interessam diretamente à sobrevivência desses partidos.
Articulação senatorial da direita
Durante as tratativas, Flávio reforçou que não há “fragmentação” na direita, mas sim uma multiplicidade de opções que convergirão no momento certo. Ele citou a conversa “franca e sincera” que teve com Tarcísio de Freitas, na qual o governador paulista teria reafirmado lealdade ao projeto bolsonarista. Para os líderes do Centrão, essa unidade é vital, pois evita que a oposição chegue dividida e enfraquecida em 2026. A estratégia desenhada é manter vários nomes na vitrine para testar a reação do eleitorado e do mercado.
Entretanto, a resistência ao nome de Flávio ainda é palpável em alas mais pragmáticas do Centrão. Diferente de Tarcísio, que possui a caneta do estado mais rico da federação e um perfil técnico, Flávio carrega o peso das investigações passadas e a polarização ideológica da família. Valdemar Costa Neto, raposa velha da política, joga em duas frentes: publicamente apoia a “vontade do Capitão”, mas nos bastidores mantém canais abertos com outros governadores de direita, como Ratinho Júnior e Ronaldo Caiado.
Por conseguinte, a “cúpula” desta segunda-feira serviu também para mandar recados ao Judiciário. A insistência na pauta da anistia como condicionante para a eleição presidencial é uma forma de pressão institucional. Flávio tenta vincular sua desistência a um “gesto de pacificação” que, na prática, significaria o perdão judicial ao pai. Resta saber se o Centrão estará disposto a comprar essa briga com o Supremo Tribunal Federal em troca de um acordo eleitoral para daqui a dois anos.
Cúpula partidária conservadora
A movimentação de Flávio também visa ocupar o vácuo deixado pela prisão e inelegibilidade do pai. Ao assumir a dianteira das negociações, ele tenta manter a base militante mobilizada e evitar que o espólio bolsonarista seja capturado prematuramente por outros atores. A presença de figuras como Rogério Marinho, líder da oposição no Senado, nas conversas reforça o caráter institucional da ofensiva. O grupo busca criar um fato político consumado: a direita tem candidato e ele tem o sobrenome Bolsonaro.
Contudo, o caminho é longo e cheio de armadilhas. A declaração sobre ter “um preço” pode ser usada por adversários para pintar a candidatura como um blefe ou uma chantagem política. O desafio de Flávio será provar, nas próximas semanas, que tem densidade eleitoral própria e capacidade de articulação para liderar uma frente ampla conservadora, indo além do nicho ideológico radical. Os líderes do Centrão saíram do encontro com a promessa de analisar cenários, mas sem firmar compromissos irrevogáveis.
Dessa forma, o jantar em Brasília marca o início oficial da temporada de caça aos votos de 2026. A antecipação do debate eleitoral atende aos interesses do PL, que precisa manter sua base engajada diante das adversidades jurídicas. Para Flávio, o sucesso dessa empreitada depende de sua habilidade em transitar entre a fidelidade ao pai e o pragmatismo exigido pelos donos dos partidos.
Negociação de apoio presidencial
O saldo político do encontro é uma mistura de cautela e oportunidade. Se por um lado o Centrão não fechou as portas para Flávio, por outro, deixou claro que o apoio dependerá de viabilidade nas pesquisas. O “preço” da anistia, embora alto, é uma carta que está na mesa. A política brasileira, dinâmica como sempre, assiste agora ao teste de fogo do herdeiro político do bolsonarismo, que tenta provar que pode ser mais do que apenas o “01”.
No entanto, a ausência de definições concretas sobre a sucessão na Câmara e no Senado também permeou as conversas. O apoio do PL e de seus aliados a candidatos para o comando das casas legislativas em 2025 está intrinsecamente ligado ao projeto presidencial de 2026. Flávio usa essa alavanca para garantir que a pauta conservadora não seja engavetada pelos próximos presidentes do Legislativo.
Finalmente, a sociedade observa atentamente se essa articulação resultará em uma candidatura real ou se é apenas uma manobra para blindar Jair Bolsonaro. O certo é que o Centrão, fiel da balança, mais uma vez ditará o ritmo e as condições do jogo, cobrando caro por cada passo dado em direção às urnas.
