O Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC) divulgou nesta quinta,feira (11) que a inflação argentina novembro sobe para 2,5%, marcando o maior registro dos últimos sete meses. O dado confirma uma tendência de aceleração pelo terceiro mês consecutivo, gerando alerta na equipe econômica do presidente Javier Milei. Com esse resultado, o país vizinho acumula uma alta de 27,9% nos primeiros onze meses de 2025, enquanto a variação interanual alcança a marca de 31,4%.
A divulgação dos números ocorre em um momento sensível para a gestão libertária, que busca estabilizar a macroeconomia como principal pilar de governabilidade. O aumento de preços foi puxado, principalmente, pelo setor de “Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis”, que registrou um salto de 3,4%, refletindo os ajustes nas tarifas de serviços públicos e a retirada gradual de subsídios. O transporte também pesou no bolso dos argentinos, com uma elevação de 3%, impactado diretamente pelos custos de combustíveis e manutenção de veículos.
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Índice inflacionário
Apesar da aceleração recente, o governo tenta manter o otimismo. O Ministro da Economia, Luis Caputo, utilizou as redes sociais para defender a trajetória econômica, argumentando que, em comparação com o cenário de hiperinflação herdado em dezembro de 2023, o atual patamar representa uma vitória. “A inflação foi reduzida aos menores níveis em 8 anos”, afirmou Caputo, buscando acalmar os mercados e a população. No entanto, o índice inflacionário de alimentos e bebidas não alcoólicas, item mais sensível para as famílias de baixa renda, subiu 2,8%, ficando acima da média geral e pressionando a cesta básica.
Analistas de mercado ouvidos pelo Portal Resenha Diária apontam que a resistência da inflação em cair abaixo do patamar de 2% se deve à inércia dos preços regulados. Enquanto setores como “Vestuário e calçados” tiveram alta tímida de apenas 0,5%, funcionando como âncora, os serviços essenciais continuam repassando custos. A consultoria EcoGo destaca que o desafio para dezembro será conter os aumentos sazonais típicos de fim de ano, projetando que o índice pode oscilar novamente próximo aos 2,1%.
Custo de vida
O impacto no custo de vida é sentido diariamente nas ruas de Buenos Aires. Embora os números estejam longe dos três dígitos mensais do passado recente, a perda do poder de compra ainda é uma realidade para a classe média. Dados do INDEC mostram que a inflação núcleo — que exclui preços sazonais e regulados — ficou em 2,6%, sugerindo que a pressão sobre os preços está disseminada na economia e não apenas concentrada em tarifas pontuais.
Esse cenário impõe desafios políticos imediatos. A oposição utiliza a persistência da inflação como munição para criticar o “ajuste fiscal severo” imposto por Milei. Por outro lado, o mercado financeiro reage com cautela; a Bolsa de Buenos Aires operou com volatilidade após o anúncio, enquanto investidores aguardam os próximos passos do Banco Central em relação à taxa de juros e à política cambial para 2026. A promessa de dolarização ou competição de moedas segue no horizonte, mas depende de uma estabilização prévia que ainda enfrenta obstáculos.
Variação mensal
A variação mensal de novembro também evidenciou disparidades regionais. A região de Cuyo registrou a maior alta do país, com 2,8%, enquanto a Patagônia e o Noroeste tiveram aumentos menores, na casa dos 2,3%. Essas diferenças refletem a estrutura de custos logísticos e o impacto desigual da remoção de subsídios federais nas províncias. Para o consumidor, a sensação térmica da economia varia dependendo de onde vive e de sua cesta de consumo predominante.
Por fim, o relatório traz um dado importante sobre a “inflação reprimida”. Especialistas calculam que ainda existem cerca de 4 pontos percentuais de ajustes pendentes em serviços públicos para os próximos meses. Isso significa que, mesmo com esforços fiscais, o indicador econômico pode enfrentar resistência para ceder de forma mais agressiva no curto prazo. O governo aposta que a recessão técnica ajudará a conter a demanda, mas o equilíbrio social dessa estratégia será testado durante o verão.
