A Operação Poço de Lobato foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (27) contra Grupo Refit. Autoridades cumprem 190 mandados de busca e apreensão em seis estados brasileiros. A megaoperação mobiliza 621 agentes públicos incluindo promotores e auditores fiscais. O objetivo é desarticular esquema que causou prejuízo de R$ 26 bilhões aos cofres públicos.
A ação é liderada pelo Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos de São Paulo. Participam Receita Federal e Secretarias da Fazenda estadual e municipal. Policiais civis e militares integram força-tarefa interestadual. Os mandados são cumpridos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Distrito Federal.
Os alvos são pessoas físicas e jurídicas ligadas ao Grupo Refit. A empresa é dona da antiga Refinaria de Manguinhos no Rio de Janeiro. O grupo comandado por Ricardo Magro é maior devedor de ICMS paulista. A companhia também figura como segundo maior devedor do Rio de Janeiro.
Os investigados são suspeitos de integrarem organização criminosa. As acusações incluem crimes contra ordem econômica e tributária. Autoridades também apuram lavagem de dinheiro através de estruturas financeiras complexas. O esquema operava por meio de rede de colaboradores e holdings.
Força-tarefa cumpre mandados em seis estados
A investigação identificou uso de offshores para ocultar recursos. Foram utilizadas fintechs e estruturas financeiras similares às da Operação Carbono Oculto. Aquela operação revelou infiltração do PCC na cadeia de combustíveis. Os agentes encontraram padrão de operação semelhante no Grupo Refit.
O Ministério Público de São Paulo lidera investigações desde 2007. A fraude fiscal estruturada de ICMS superou R$ 9 bilhões apenas em território paulista. Entre 2007 e 2024, foram identificadas irregularidades sistemáticas no recolhimento tributário. O grupo utilizava empresas de fachada para simular operações comerciais.
Apenas entre 2020 e 2025 foram importados mais de R$ 32 bilhões em combustíveis. Os valores transacionados concentravam-se em empresas financeiras controladas pelo próprio grupo. A Receita Federal identificou grande operadora financeira atuando como sócia de outras instituições. Esse núcleo movimentou mais de R$ 72 bilhões entre segundo semestre 2024 e primeiro semestre 2025.
O esquema envolvia empresa financeira mãe controlando diversas filhas. A estrutura criava operações complexas dificultando identificação dos verdadeiros beneficiários. Foram exploradas brechas regulatórias como contas-bolsão impedindo rastreamento de recursos. A principal financeira possuía 47 contas bancárias vinculadas contabilmente às empresas.
Após paralisação de distribuidoras ligadas à Carbono Oculto, grupo alterou estrutura financeira. O modelo usado desde 2018 foi substituído por outro com novos operadores. Operadores que movimentavam cerca de R$ 500 milhões passaram a movimentar mais de R$ 72 bilhões. A mudança ocorreu após agosto de 2024.
Autoridades bloqueiam R$ 10,2 bilhões bens
O Comitê Interinstitucional obteve na Justiça bloqueio de R$ 8,9 bilhões em bens. A medida visa garantir ressarcimento do crédito tributário aos estados. Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional conseguiu indisponibilidade adicional de R$ 1,2 bilhão. O total de bens bloqueados alcança R$ 10,2 bilhões incluindo imóveis e veículos.
O Grupo Refit já estava no radar dos órgãos de fiscalização. A empresa acumula 134 débitos que somam R$ 8,1 bilhões em São Paulo. O valor é dobro da segunda colocada no ranking estadual. A operadora de telefonia TIM ocupa segunda posição entre devedores paulistas.
A Fera Lubrificantes também integra grupo investigado. A companhia está registrada em nome do pai e avô de Ricardo Magro. Fera acumula R$ 117,9 milhões em dívidas tributárias. Os dados foram atualizados em novembro de 2025.
Ricardo Magro é empresário influente no Rio de Janeiro. Amigo e ex-advogado do ex-deputado federal Eduardo Cunha. Magro chegou a ser preso em 2016 acusado de desvios em fundos de pensão. Foi posteriormente absolvido das acusações. Atualmente vive em Miami nos Estados Unidos.
A Refit responde a múltiplos processos por sonegação fiscal. Em dezembro de 2024, policiais cumpriram mandados em seis endereços paulistas. As buscas ocorreram na capital, Guarulhos e Arujá na Grande São Paulo. Autoridades investigam suspeita de ICMS trazendo combustível mais barato de outro estado.
Investigadores identificam esquema R$ 26 bilhões
A polícia apura se empresário utiliza série de companhias para sonegar impostos. O objetivo seria lavar dinheiro e blindar patrimônio de eventuais confiscos. As empresas do grupo estão entre maiores devedores do país. Ricardo Magro nega todas acusações através de assessoria.
A defesa afirma não haver sonegação e que fatos serão esclarecidos na Justiça. Assessoria questiona seletividade em relação a Ricardo Magro. Nota menciona interesses comerciais de concorrentes abastecendo investigações. Grupo alega clara campanha difamatória citando casos de absolvição.
A Operação Carbono Oculto foi deflagrada em agosto de 2025. Investigação aponta que Rodopetro do Grupo Refit sucedeu Copape/Aster na distribuição. Mohamad Mourad comandava Copape/Aster até julho de 2024. Formuladora Copape e distribuidora Aster tiveram licenças cassadas pela ANP.
O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado confirma sucessão. Rodopetro tornou-se epicentro da nova dinâmica de distribuição de combustíveis. A empresa praticamente dobrou aquisições para englobar operações do grupo anterior. Substituição é vista como nova camada de ocultação.
A sucessão chama atenção porque Mourad e Magro travavam disputa no setor. Promotores afirmam não existirem inimigos apenas interesses. Megaoperação combate esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis. Investigação apura lavagem de dinheiro envolvendo núcleos do PCC.
Ministério Público paulista deflagra megaoperação
Instituições financeiras e fundos de investimento da Faria Lima estão envolvidos. A Refit figura entre maiores refinarias do país. O grupo Copape/Aster controlava toda cadeia produtiva do setor. Estrutura incluía usinas de etanol, distribuidoras, transportadoras e redes de postos.
Investigação mostra que Rodopetro direcionou combustível para dezenas de distribuidoras. Empresas possuem conexões com organização criminosa segundo Ministério Público. Reorganização do mercado é vista como estratégia para burlar proibições. Objetivo seria ocultar operações de grupo anterior.
Distribuidoras ligadas à Rodopetro têm características de empresas de fachada. Sedes localizam-se em endereços vinculados ao grupo Mohamad Mourad. Cidades incluem interior de Goiás, Mato Grosso e Duque de Caxias no Rio. Em São Paulo aparecem Jardinópolis, Ribeirão Preto e Guarulhos.
A Refit foi interdita pela Receita Federal e ANP em setembro. Agência Nacional do Petróleo encontrou irregularidades e inconformidades operacionais. Houve suspeita de importação irregular de combustíveis. Empresa declarava compra de matéria-prima mas recebia gasolina pronta.
No final de outubro ANP anunciou desinterdição parcial da unidade. A empresa comprovou atendimento de 10 das 11 condicionantes apontadas. Foi mantida interdição da torre de destilação até comprovação necessária. ANP exige uso das colunas de destilação para compor produção de gasolina.
A Petrobras foi nomeada depositária de 200 milhões litros apreendidos. Estatal ficou responsável por buscar, tratar e armazenar combustíveis. Instituto Combustível Legal confirmou nomeação da Petrobras. Produtos estavam em quatro navios sendo três no Rio e um em Santos.
O Superior Tribunal de Justiça derrubou liberação total da refinaria. Ministro Herman Benjamin atendeu pedido da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Decisão manteve operações da empresa interditadas. Refinaria abastecia aproximadamente 10% do mercado paulista.
No Rio de Janeiro participação chegava a 20% do fornecimento total. A interdição afetou cadeia de distribuição em dois estados principais. Trabalhadores protestaram contra demissões em massa após paralisação. Sindipetro-RJ confirmou demissão de 100 funcionários da antiga Refinaria de Manguinhos.
O Metrópoles solicitou posicionamento do Grupo Refit sobre operação desta quinta. Não houve retorno até publicação da matéria. O espaço permanece aberto para manifestação oficial da empresa. Investigações continuam em andamento sob coordenação do Ministério Público paulista.