Polícia prende suspeito de roubar obras de Matisse e Portinari em SP

Felipe dos Santos Fernandes Quadra foi detido na Zona Leste nesta segunda-feira, crime levou 13 gravuras valiosas no domingo e Interpol já foi notificada para impedir venda.

Foto de rosto tipo mugshot de Felipe dos Santos Fernandes Quadra, homem de pele parda, cabelo curto escuro e uma tatuagem no lado direito do pescoço, olhando para a câmera.
Felipe dos Santos Fernandes Quadra, de 31 anos, preso pela Polícia Civil de São Paulo, suspeito de participação no roubo das 13 obras de arte da Biblioteca Mário de Andrade. (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

A Polícia Civil de São Paulo prendeu, na tarde desta segunda-feira (8), um dos suspeitos de participação no audacioso roubo de obras de arte ocorrido na Biblioteca Mário de Andrade, no centro da capital. A detenção de Felipe dos Santos Fernandes Quadra, de 31 anos, ocorreu no bairro da Mooca, na Zona Leste, menos de 24 horas após o crime que chocou o setor cultural do país. O indivíduo, que já possuía antecedentes criminais por furto, roubo e tráfico de drogas, foi localizado graças ao sistema de monitoramento inteligente da cidade.

O crime aconteceu na manhã de domingo (7), quando criminosos invadiram a instituição e subtraíram 13 gravuras raras dos renomados artistas Henri Matisse e Candido Portinari. A ação foi rápida e ocorreu justamente no último dia da exposição “Do livro ao museu”, que celebrava a parceria entre a biblioteca e o Museu de Arte Moderna (MAM). As autoridades agiram rapidamente para identificar os envolvidos, utilizando imagens de câmeras de segurança que flagraram a fuga e o veículo utilizado no transporte das peças valiosas.

Detido furto acervo cultural

A operação que resultou na captura do primeiro suspeito foi conduzida pela 1ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco). Segundo informações preliminares, as câmeras do sistema Smart Sampa foram cruciais para rastrear o trajeto dos criminosos desde a região da República até a Zona Leste. O prefeito Ricardo Nunes confirmou que a tecnologia permitiu identificar o suspeito dialogando com o executor direto do furto e passando pela calçada momentos antes do crime, indicando sua participação na logística da ação.

Nesse sentido, a prisão de Felipe Quadra representa um avanço significativo, mas não encerra o caso, visto que as obras de arte ainda não foram recuperadas. O suspeito foi encontrado em uma residência na Mooca, onde os agentes realizaram diligências em busca das gravuras, infelizmente sem sucesso inicial. A polícia acredita que o material possa ter sido movido para outro local ou entregue a receptadores especializados em arte, o que torna as próximas horas decisivas para a preservação do patrimônio histórico subtraído.

Além disso, o veículo utilizado na fuga, identificado como uma van azul (em alguns relatos descrita como carro de apoio), foi localizado e apreendido pelas autoridades para perícia técnica. A análise de impressões digitais e material genético no interior do automóvel poderá confirmar a presença de outros envolvidos e fornecer pistas sobre o paradeiro do segundo suspeito, que já foi identificado pela polícia mas segue foragido. O sigilo em torno do nome do segundo indivíduo visa não comprometer as buscas em andamento.

Prisão assalto Mário Andrade

O modus operandi dos criminosos revelou um planejamento prévio, aproveitando-se do fluxo de visitantes no encerramento da mostra. Dois homens renderam uma vigilante e um casal de idosos que visitava o local, agindo com agressividade moderada para garantir a subtração dos itens. Eles colocaram as 13 obras — oito da série “Jazz” de Matisse e cinco da série “Menino de Engenho” de Portinari — em uma sacola de lona e fugiram pela saída principal, demonstrando conhecimento da planta do edifício e das vulnerabilidades de segurança.

Contudo, a ousadia da ação em plena luz do dia, por volta das 10h15, expôs a fragilidade na proteção de acervos públicos de valor inestimável. A Secretaria de Cultura e Economia Criativa informou que a biblioteca dispõe de vigilância e seguro para as obras, mas o valor de mercado das peças roubadas é mantido em sigilo por questões contratuais. O episódio reacende o debate sobre a necessidade de reforçar a segurança em instituições culturais, especialmente aquelas localizadas em áreas críticas do centro de São Paulo.

Por conseguinte, a comunidade artística reagiu com consternação ao ataque contra um dos acervos mais importantes do país. A Biblioteca Mário de Andrade, inaugurada em 1926 e detentora de mais de 51 mil obras raras, é um símbolo da arquitetura Art Déco e da memória paulistana. O roubo não é apenas um prejuízo financeiro, mas um golpe na integridade de uma coleção pública que serve a pesquisadores e estudantes de todo o Brasil.

Investigação crime patrimônio

Para evitar que as obras sejam enviadas ao exterior e desapareçam no mercado negro internacional, a Prefeitura de São Paulo adotou medidas de contenção imediata. A Interpol foi notificada através da Polícia Federal, inserindo as gravuras no banco de dados global de obras de arte roubadas. Esse alerta vermelho dificulta a comercialização das peças em leilões ou galerias estrangeiras, pois qualquer tentativa de venda acionará as autoridades policiais de 196 países membros da organização.

Ademais, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) também foram alertados para monitorar fronteiras e aeroportos. A Associação de Galerias de Arte do Brasil (AGAB) emitiu comunicados internos para que seus associados fiquem atentos a qualquer oferta suspeita envolvendo gravuras de Matisse ou Portinari. A estratégia é sufocar os canais de venda dos criminosos, forçando-os a abandonar as obras ou negociar uma devolução.

No entanto, a recuperação de arte roubada é historicamente complexa e exige um trabalho de inteligência refinado. Em 2006, a mesma biblioteca foi alvo de furtos que incluíram obras da série “Jazz” de Matisse, recuperadas posteriormente pela polícia. A reincidência desse tipo de crime sugere a existência de quadrilhas especializadas que monitoram falhas de segurança e encomendam peças específicas, o que demanda uma investigação que vá além dos executores diretos do roubo.

Ladrão gravuras raras

As obras subtraídas possuem um valor histórico singular para a arte moderna. A série “Jazz”, de Henri Matisse, criada na década de 1940, é composta por colagens vibrantes que marcaram uma fase experimental do artista francês. Já as gravuras de Candido Portinari ilustravam uma edição especial do clássico “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego, representando a fusão entre a literatura e as artes plásticas nacionais. A perda dessas peças desfalca a narrativa visual construída pela exposição.

A polícia investiga se o crime foi encomendado por colecionadores particulares, dado o perfil específico dos itens levados, ou se foi uma ação de oportunidade visando lucro rápido. O fato de os ladrões terem abandonado algumas molduras e levado apenas as folhas de papel indica a intenção de facilitar o transporte e a ocultação. A fragilidade das gravuras exige manuseio técnico, e há o temor de que as obras possam sofrer danos irreversíveis nas mãos dos criminosos.

Dessa forma, a colaboração da população é vista como essencial neste momento. A Secretaria de Segurança Pública mantém canais de denúncia anônima (Disque Denúncia 181) para quem tiver informações sobre a movimentação suspeita na região central ou sobre a oferta das obras. A pressão pública e a divulgação massiva das imagens das peças roubadas são ferramentas vitais para “queimar” a mercadoria na mão dos bandidos, tornando-a invendável.

Finalmente, o desfecho deste caso servirá como termômetro para a eficácia das novas tecnologias de segurança pública, como o Smart Sampa. A rapidez na identificação e prisão do primeiro suspeito demonstra o potencial dessas ferramentas, mas o sucesso final da operação depende do retorno seguro das 13 gravuras ao acervo municipal. A sociedade aguarda ansiosa pela recuperação desse patrimônio que pertence a todos os paulistanos e brasileiros.

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