O governador Tarcísio de Freitas anunciou oficialmente nesta sexta-feira (28) uma mudança significativa no comando da segurança pública do estado de São Paulo. O delegado Osvaldo Nico Gonçalves, que até então ocupava o cargo de secretário-executivo, foi nomeado como o novo titular da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Ele substitui Guilherme Derrite, que deixa o posto para retomar seu mandato como deputado federal em Brasília. A escolha de Nico representa uma solução caseira e de continuidade, valorizando um perfil operacional e com trânsito livre entre as polícias Civil e Militar.
A transição ocorre em um momento estratégico para o governo estadual. Derrite deixa a pasta ostentando números positivos, como a redução histórica de homicídios e roubos, mas com a missão política de liderar pautas conservadoras no Congresso Nacional, visando as eleições de 2026. Para o seu lugar, Tarcísio optou por não trazer um nome de fora. A promoção de Nico Gonçalves é vista como um reconhecimento ao trabalho técnico desenvolvido nos últimos dois anos e uma garantia de que a “linha dura” contra o crime organizado será mantida sem rupturas administrativas.
Osvaldo Nico Gonçalves é uma figura conhecida da população paulista e da imprensa. Com mais de 40 anos de carreira na Polícia Civil, ele acumula passagens por departamentos de elite e operações midiáticas, como a captura do médico Roger Abdelmassih. Sua nomeação foi recebida com entusiasmo pelas corporações policiais, que veem nele um líder que conhece o “chão de fábrica” da segurança. A posse oficial deve ocorrer na próxima semana, mas Nico já inicia os trabalhos de transição imediatamente, com foco total na manutenção da ordem pública neste final de ano.
Delegado experiente lidera pasta estratégica
A trajetória de Nico Gonçalves é marcada pelo operacionalismo. Antes de ser o número 2 da SSP, ele foi Delegado-Geral da Polícia Civil, onde fundou o Grupo de Operações Especiais (GOE) e comandou o Garra. Esse currículo “mão na massa” é o principal ativo que ele traz para a cadeira de secretário. Diferente de perfis mais acadêmicos ou puramente políticos, Nico tem a linguagem da rua. Espera-se que sua gestão dê ênfase ainda maior ao combate ostensivo ao tráfico de drogas e às facções criminosas que atuam dentro e fora dos presídios.
A escolha também pacifica possíveis disputas internas. Havia rumores sobre outros nomes, inclusive de oficiais da Polícia Militar, mas a ascensão do secretário-executivo equilibra as forças. Nico tem boa relação com o comando da PM e promete manter a integração entre as forças, um dos pilares da gestão Tarcísio. O desafio agora será gerenciar não apenas as operações policiais, mas também as complexas questões orçamentárias e tecnológicas da maior secretaria de segurança do país, que exige modernização constante.
Em suas primeiras palavras após o anúncio, o novo secretário reforçou o compromisso com a tolerância zero ao crime. Ele destacou que a diretriz do governador é clara: blindar o estado contra a expansão do crime organizado. Nico afirmou que usará toda a inteligência policial e a tecnologia adquirida recentemente para asfixiar financeiramente as organizações criminosas. A expectativa é que operações de grande envergadura continuem sendo a marca registrada da segurança pública paulista sob seu comando.
Derrite retorna ao Congresso Nacional
A saída de Guilherme Derrite não é um adeus, mas um “até logo” planejado. O agora ex-secretário volta à Câmara dos Deputados com capital político renovado e uma missão específica dada pelo seu partido e pelo próprio governador: relatar o projeto de lei que endurece as penas contra facções criminosas, equiparando-as a grupos terroristas. Derrite sai da SSP com a imagem fortalecida junto ao eleitorado bolsonarista e conservador, posicionando-se como um forte pré-candidato ao Senado em 2026.
Sua gestão foi marcada por uma postura intransigente e pelo apoio irrestrito às ações policiais, o que gerou tanto aplausos quanto críticas de entidades de direitos humanos. Ao passar o bastão para Nico, Derrite garante que seu legado será preservado. A sintonia entre os dois durante os quase três anos de trabalho conjunto na secretaria facilitou a sucessão. O ex-secretário afirmou ter total confiança na capacidade de Nico de dar prosseguimento aos projetos em andamento, como a expansão das câmeras corporais com novas regras e o fortalecimento do policiamento no centro da capital.
O movimento político de Tarcísio ao liberar Derrite agora também visa protegê-lo de eventuais desgastes naturais de fim de mandato e colocá-lo no palco nacional. Enquanto Nico cuida da operação em São Paulo, Derrite fará a defesa do modelo de segurança paulista em Brasília. Essa dobradinha é fundamental para as pretensões eleitorais do grupo político que comanda o Palácio dos Bandeirantes, que usa a segurança pública como sua principal vitrine de eficiência administrativa.
Desafios da nova gestão policial
Apesar dos números favoráveis herdados, Osvaldo Nico Gonçalves assume com desafios gigantescos. A sensação de insegurança em áreas específicas, como a região central de São Paulo e bairros nobres visados por gangues do pix, ainda é uma realidade. O novo secretário terá que inovar nas estratégias para combater crimes patrimoniais que afetam diretamente o cotidiano do cidadão comum. O roubo de celulares e a violência urbana exigem respostas rápidas e visíveis, além do trabalho de inteligência de longo prazo.
Outro ponto de atenção será o controle da letalidade policial, que voltou a ser tema de debate. Nico, com seu perfil operacional, precisará equilibrar o rigor no combate ao crime com o respeito aos protocolos legais, evitando que a ação policial legítima se transforme em crise institucional. A relação com o Ministério Público e a Defensoria será testada. A experiência de Nico no trato com a imprensa e a sociedade civil pode ser um diferencial para navegar essas águas turbulentas com mais habilidade política do que seu antecessor.
Por fim, a gestão Nico será um teste de fogo para a Polícia Civil, que volta a ter um de seus quadros no comando máximo da segurança estadual após longos períodos de hegemonia da PM ou do Ministério Público na cadeira. É a oportunidade da instituição mostrar que pode liderar a política de segurança com eficiência e modernidade. O sucesso de Nico será o sucesso da tese de que polícia se faz com polícia, valorizando a carreira e a experiência de quem dedicou a vida a proteger a sociedade.
Continuidade na segurança de São Paulo
A nomeação de Nico Gonçalves envia uma mensagem de estabilidade para a tropa e para a população. Não haverá “freio de arrumação” ou mudança brusca de rota. Os projetos de valorização salarial, reestruturação das carreiras e investimento em equipamentos seguem o cronograma original. O governador Tarcísio aposta que a familiaridade de Nico com a máquina pública evitará qualquer paralisia administrativa típica de trocas de comando.
Os sindicatos e associações policiais receberam a notícia com otimismo moderado. Conhecem Nico de longa data e sabem que ele é acessível, mas também exigente. A cobrança por resultados deve aumentar. O “estilo Nico” de gestão, mais próximo do policial da ponta, pode elevar o moral da tropa, fator essencial para o engajamento no combate ao crime. A aposta é que a liderança pelo exemplo, vinda de um delegado que nunca fugiu do enfrentamento, inspire os agentes nas ruas.
São Paulo entra em 2026 com uma nova cara na segurança, mas com a mesma direção. O “Doutor Nico”, como é conhecido, tem agora a caneta cheia para imprimir sua marca na história da segurança pública do estado. Se conseguir manter os índices criminais em queda e a sensação de segurança em alta, consolidará não apenas seu nome, mas o projeto político que o colocou lá. A conferir os próximos capítulos dessa gestão que promete ser, acima de tudo, operacional.
