O deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do projeto de lei da anistia na Câmara, enviou um recado duro à oposição nesta segunda feira, 8 de dezembro de 2025. Em meio às negociações para a eleição da presidência da Casa, Paulinho afirmou categoricamente que incluir o ex presidente Jair Bolsonaro no texto de perdão está “fora de questão”. A declaração surge como um balde de água fria nas pretensões do PL, que condicionava o apoio a Hugo Motta (Republicanos-PB) ao avanço de uma anistia “ampla, geral e irrestrita”.
A posição de Paulinho reflete a estratégia do bloco de centro, que busca pacificar a relação com o Supremo Tribunal Federal (STF) sem comprar uma briga institucional perdida. Segundo o relator, o projeto deve focar exclusivamente na “dosimetria”, ou seja, na redução de penas para os condenados pelos atos de 8 de janeiro que não exerceram papel de liderança, deixando Bolsonaro e generais de fora. “Não tenho como salvá lo individualmente”, reiterou o deputado, sinalizando que a pauta não será usada para reverter a inelegibilidade ou as condenações do ex mandatário.
Veto ao perdão presidencial
A tensão aumentou após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ser anunciado como o pré candidato do bolsonarismo ao Planalto em 2026. Flávio exigiu publicamente que a aprovação da anistia fosse o “primeiro gesto” das lideranças anti Lula ainda este ano. No entanto, Paulinho da Força, alinhado com o candidato à presidência da Câmara Hugo Motta, entende que insistir no nome de Jair Bolsonaro contaminaria todo o debate e inviabilizaria qualquer benefício até mesmo para os presos comuns do 8 de janeiro.
Para o relator, a “anistia ampla” é tecnicamente inviável e politicamente suicida. Ele argumenta que o texto precisa ser consensual, capaz de passar pelo crivo do STF sem ser derrubado no dia seguinte. Ao limitar o escopo para a revisão de penas excessivas, Paulinho tenta atrair votos da esquerda e do centro, isolando a ala radical do PL que prefere o “tudo ou nada”. Essa postura reforça a autonomia de Hugo Motta, que tenta se viabilizar como um presidente da Câmara independente, sem ficar refém das pautas de costumes da extrema direita.
Bloqueio da clemência política
A recusa em anistiar Bolsonaro também expõe as fissuras internas da oposição. Enquanto Eduardo Bolsonaro pressiona por um texto radical, Flávio vinha sinalizando pragmatismo, mas agora radicalizou o discurso para unificar a base em torno de sua candidatura. Paulinho da Força, veterano de negociações sindicais e legislativas, explora essa divisão. Ele mantém diálogo aberto com todas as bancadas, inclusive a do PT, para construir um relatório que seja visto como um gesto de “pacificação nacional” e não de impunidade golpista.
Além disso, a movimentação de Paulinho protege o próprio Hugo Motta de retaliações do Judiciário. O presidente da Câmara, Arthur Lira, e seu sucessor preferido sabem que pautar a anistia de Bolsonaro seria declarar guerra ao ministro Alexandre de Moraes, algo que a cúpula do Congresso quer evitar a todo custo neste momento de transição. O “meio termo” proposto por Paulinho serve, portanto, como uma válvula de escape: atende parcialmente a base conservadora reduzindo penas, mas preserva a autoridade das cortes superiores.
Barreira à anistia irrestrita
O cenário para as próximas semanas é de intenso cabo de guerra. O PL, dono da maior bancada, ameaça obstruir votações caso o texto não avance conforme seus termos, mas Paulinho da Força aposta que a maioria dos deputados não está disposta a sacrificar o capital político por Bolsonaro. A tendência é que o relatório final seja apresentado sem o nome do ex presidente, forçando o PL a decidir se aceita livrar seus militantes presos ou se derruba o projeto por não conseguir salvar seu líder maior.
Por fim, a fala de Paulinho delimita o terreno da disputa: a Câmara pode discutir excessos nas punições do 8 de janeiro, mas não servirá de instrumento para anular decisões judiciais contra a chapa presidencial. Com isso, a “anistia” sonhada pelo bolsonarismo encolhe para uma revisão penal técnica, esvaziando o palanque político que a oposição pretendia montar para 2026.
