Spiegel alerta, Trump e Putin, os “dois vilões”, têm um só alvo, a Europa

Publicação alemã descreve “Novo Imperialismo” onde EUA e Rússia agem como predadores, isolando o continente europeu e implodindo a ordem liberal do pós-guerra.

O ex-presidente americano Donald Trump, de gravata vermelha, e o presidente russo Vladimir Putin, de gravata escura, posam lado a lado em pé, com expressões cordiais, diante de grandes cortinas bege em um salão protocolar.
Donald Trump e Vladimir Putin em encontro oficial; publicação alemã aponta que ambos compartilham o objetivo de desmantelar a ordem europeia. (Foto: Reprodução)

A influente revista alemã Der Spiegel lançou um alerta contundente à comunidade internacional ao caracterizar o cenário geopolítico atual como um ataque coordenado contra o continente europeu. Em uma série de análises e capas impactantes ao longo de 2025, a publicação descreveu Donald Trump e Vladimir Putin como figuras centrais de um “novo imperialismo” que busca dividir o mundo em zonas de influência, deixando a Europa à mercê de seus interesses. A narrativa da revista sugere que esses “dois vilões” — ou “predadores”, como descritos em manifestações citadas pela publicação — compartilham um objetivo tático: desmantelar a ordem liberal e enfraquecer a União Europeia, vista agora não como aliada, mas como um obstáculo ou presa.

Segundo os editoriais da revista, a reeleição de Trump transformou os Estados Unidos de protetores em adversários. A Spiegel chegou a estampar a manchete “América agora é nosso adversário”, argumentando que Trump abandonou as alianças de décadas e que sua visão de mundo se alinha mais à brutalidade de Putin do que aos valores democráticos europeus. O texto destaca que, enquanto Putin ataca a Europa militarmente na Ucrânia, Trump a ataca politicamente e economicamente, criando um movimento de pinça que asfixia o continente.

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A análise se aprofunda ao afirmar que a “era da ingenuidade” acabou. A revista critica a falta de preparo da Alemanha e da UE para enfrentar um mundo onde a garantia de segurança americana desapareceu e a agressão russa é uma realidade diária. Para a Spiegel, a Europa está sozinha e precisa urgentemente desenvolver sua própria força militar e econômica para sobreviver aos apetites de Washington e Moscou, que agora operam sob a lógica nua e crua do poder, ignorando o direito internacional.

Dupla Ameaça do “Novo Imperialismo”

A Der Spiegel define a atual conjuntura como o surgimento de um Novo Imperialismo. Em sua capa da edição 9/2025, intitulada “O novo imperialismo de Trump e Putin: Venha, vamos dividir o mundo”, a revista desenha um cenário sombrio onde as duas superpotências nucleares negociam o destino de nações menores por cima das cabeças dos europeus. Essa Dupla Ameaça reside na convergência de interesses: Putin quer restaurar o império russo tomando territórios à força, enquanto Trump deseja impor uma hegemonia transacional onde a lealdade é comprada e a proteção tem preço.

Para a Europa, essa Dupla Ameaça é existencial. A revista argumenta que o “ataque” não é apenas militar, mas ideológico. Trump e Putin são vistos como porta-estandartes de um modelo iliberal que inspira forças de extrema-direita dentro da própria Europa, como a AfD na Alemanha e o partido de Le Pen na França, minando a democracia por dentro enquanto a pressionam por fora.

Cerco Geopolítico e o fim da OTAN

O Cerco Geopolítico descrito pela publicação passa pela irrelevância prática da OTAN. A Spiegel relata o temor de líderes europeus de que Trump possa fazer um acordo com Putin “a qualquer preço” sobre a Ucrânia, ignorando os interesses de segurança de Bruxelas e Berlim. O editorial “Bye Bye U.S.” detalha como a Europa corre contra o tempo para desenhar uma estratégia de sobrevivência em um mundo onde a Aliança Atlântica existe apenas no papel, já que o compromisso americano de defesa mútua (Artigo 5º) é considerado morto sob a nova administração republicana.

Neste Cerco Geopolítico, a revista aponta que a Europa se tornou o campo de batalha de uma guerra híbrida. A sabotagem de infraestrutura, a desinformação e a pressão econômica são as armas usadas tanto por Moscou quanto, de forma diferente, por Washington. A análise da revista sugere que a única resposta possível é a autonomia estratégica radical, algo que os líderes europeus demoraram demais para aceitar.

Aliança Autocrática tácita

A Spiegel sugere a existência de uma Aliança Autocrática tácita entre os dois líderes. Embora não seja uma aliança formal de tratado, a “admiração” mútua e os métodos similares de governança criam uma sinergia perigosa. O editorial observa que Trump e Putin desprezam as instituições multilaterais e preferem a diplomacia de “homem forte”, onde as regras são ditadas pelo mais forte.

Essa Aliança Autocrática coloca a Europa na posição de “vilão” ou “alvo” nas narrativas de ambos. Para Putin, a Europa é um vassalo decadente dos EUA que deve ser disciplinado; para Trump, é um competidor econômico desleal que “tira vantagem” da América. A revista conclui que, para ambos, uma União Europeia unida e forte é indesejável, o que explica o esforço conjunto para fragmentá-la.

Isolamento Europeu e a necessidade de defesa

Diante desse cenário, o Isolamento Europeu é o tema recorrente. A Spiegel clama por um despertar, afirmando que a Europa deve “redescobrir sua força econômica e militar” para não sucumbir. A revista destaca que a Alemanha, em particular, precisa abandonar seu pacifismo histórico e investir massivamente em defesa, pois a “paz” garantida pelos EUA acabou.

O Isolamento Europeu também é visto como uma oportunidade. A crise provocada pelos “dois vilões” pode ser o catalisador para a verdadeira unificação política e militar do continente, transformando a UE em uma superpotência capaz de falar de igual para igual com os predadores globais. No entanto, a revista adverte: o tempo está se esgotando, e a janela para essa reação está se fechando rapidamente diante do avanço das tropas russas e das tarifas americanas.

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