URGENTE: Correios SP aprovam greve em meio a prejuízo

Funcionários aprovam paralisação para 16 de dezembro enquanto estatal acumula prejuízo de R$ 6,1 bilhões em nove meses

Prédio-sede dos Correios visto de baixo, com logotipo em destaque na fachada e árvores ao redor.
Prédio-sede dos Correios em Brasília, onde a estatal analisa medidas para reequilibrar suas contas.

Os trabalhadores dos Correios em São Paulo aprovaram em assembleia realizada na terça-feira a deflagração de greve com início marcado para 16 de dezembro, decisão que ocorre durante momento extremamente delicado para a estatal brasileira. A categoria, representada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares de São Paulo, Grande São Paulo e Zona Postal de Sorocaba, também definiu participação em caravana para Brasília no dia 9 de dezembro e ato unificado nacional no dia seguinte. O presidente do sindicato, Elias Diviza, destacou que a participação e unidade dos trabalhadores são essenciais para acompanhar os desdobramentos das negociações com a empresa em meio aos impasses sobre direitos e condições de trabalho.

A mobilização dos funcionários acontece justamente quando os Correios atravessam a pior crise financeira de sua história recente, com prejuízo acumulado de R$ 6,1 bilhões nos primeiros nove meses de 2025. O valor representa crescimento de quase três vezes em relação ao mesmo período de 2024, quando o rombo havia sido de R$ 2,1 bilhões. Apenas no terceiro trimestre deste ano, a estatal registrou perdas de R$ 1,7 bilhão, consolidando sequência de 13 trimestres consecutivos de resultados negativos que começou no quarto trimestre de 2022. As receitas da empresa recuaram 12,7% entre janeiro e setembro, caindo de R$ 14,1 bilhões para R$ 12,3 bilhões, enquanto as despesas gerais e administrativas dispararam 53,5%, saltando de R$ 3,1 bilhões para R$ 4,8 bilhões.

Decisões judiciais ampliam despesas da estatal

O principal responsável pelo aumento expressivo das despesas administrativas foi o pagamento de precatórios decorrentes de decisões judiciais transitadas em julgado, especialmente ações de natureza trabalhista com desfecho desfavorável à empresa. Os Correios reconheceram R$ 2,1 bilhões em precatórios a pagar em 2025, valor que contrasta fortemente com os R$ 483 milhões registrados no ano anterior. Somente no terceiro trimestre, o pagamento de precatórios somou R$ 524 milhões, evidenciando o peso crescente das obrigações judiciais sobre as finanças da estatal. A situação é agravada pelo aumento das despesas financeiras relacionadas aos juros de empréstimos contratados entre dezembro de 2024 e junho de 2025, totalizando R$ 157 milhões em encargos financeiros.

A empresa tomou R$ 550 milhões em empréstimos com os bancos ABC Brasil e Daycoval em dezembro do ano passado, recursos que deveriam ser quitados até o final de 2025. A estatal já liquidou os R$ 300 milhões devidos ao Daycoval, pagando R$ 26 milhões em juros, enquanto outros R$ 173 milhões foram quitados com o ABC Brasil, restando ainda R$ 76,6 milhões a serem pagos. O custo dos produtos vendidos e serviços prestados também aumentou devido ao incremento nos custos com pessoal, motivado pelo reajuste salarial de 4,11% estabelecido no Acordo Coletivo de Trabalho 2024/2025, além dos desembolsos gerados pelo Plano de Demissão Voluntária.

Tesouro Nacional rejeita empréstimo de R$ 20 bilhões

No mesmo dia da aprovação da greve pelos trabalhadores paulistas, o Tesouro Nacional rejeitou proposta de empréstimo de R$ 20 bilhões destinada a socorrer os Correios financeiramente. A operação havia sido aprovada pelo Conselho de Administração da estatal no sábado anterior com consórcio formado por ABC Brasil, Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank e Safra. A rejeição ocorreu porque o Tesouro considerou a taxa de juros proposta, superior a 120% do CDI, incompatível com operação que possui garantia da União. O empréstimo integra amplo plano de reestruturação que prevê corte de R$ 2 bilhões em custos, principalmente com redução de pessoal e fechamento de até mil agências em todo território nacional.

O senador Rogério Marinho acionou o Tribunal de Contas da União solicitando investigação sobre o empréstimo por suspeita de favorecimento indevido às instituições financeiras participantes do consórcio. O parlamentar pediu suspensão cautelar da operação e classificou a proposta como aparelhamento com dinheiro público. O plano de reestruturação dos Correios, aprovado pela nova gestão que assumiu em setembro, tem como objetivo assegurar liquidez necessária para a empresa ao longo de 2026 e está estruturado em três fases sequenciais, recuperação financeira, consolidação e crescimento. A proposta inclui venda de imóveis ociosos que podem render até R$ 1,5 bilhão e expansão de serviços em parceria com empresas privadas.

Crise impacta meta fiscal do governo federal

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, classificou o desempenho dos Correios como muito ruim e afirmou que a situação causa impacto negativo no fechamento fiscal do quinto bimestre. A equipe econômica do governo revisou para cima a previsão de déficit primário da estatal, que deve alcançar R$ 5,8 bilhões em 2025, mais que o dobro da projeção anterior de R$ 2,4 bilhões. O resultado afeta diretamente as contas públicas, visto que as estatais federais devem encerrar o ano com saldo negativo de R$ 9,2 bilhões, acima da meta de déficit de R$ 6,2 bilhões estabelecida pelo governo federal. Durigan alertou que existe risco de contingenciamento maior em 2026 devido ao desempenho da empresa.

Relatório divulgado pelo Banco Central apontou que as estatais federais, incluindo Correios, Casa da Moeda, Hemobrás, Emgea, Emgepron, Infraero, Dataprev e Serpro, acumularam déficit de R$ 6,35 bilhões entre janeiro e outubro deste ano. O valor já se aproxima do prejuízo total de 2024, que foi de R$ 6,73 bilhões, o maior da série histórica. Estimativas internas dos próprios Correios apontam para resultado negativo de R$ 10 bilhões neste ano e de R$ 23 bilhões em 2026, caso não haja avanços significativos no plano de reestruturação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descartou publicamente a possibilidade de privatizar os Correios, afirmando que não existe debate dentro do governo sobre essa alternativa.

Reestruturação prevê demissão voluntária de dez mil funcionários

Uma fatia relevante dos recursos pretendidos pela estatal será destinada ao programa de demissão voluntária, que mira o desligamento de aproximadamente dez mil funcionários. O restante dos recursos servirá para pagamento de dívidas antigas, fornecedores, sentenças judiciais e recolhimentos previdenciários atrasados. A partir de 2026, os Correios pretendem adotar medidas estruturais para aumentar receitas e reduzir despesas, incluindo reorganização de unidades com baixa eficiência, modernização de estruturas e sistemas, automação logística, fortalecimento do compliance de passivos judiciais e redução do déficit do Postal Saúde, o plano de saúde dos funcionários que representa outro desafio financeiro para a empresa.

O atual presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, assumiu o cargo em setembro após a saída de Fabiano Silva dos Santos, que pediu demissão em julho em meio à pressão pelo desempenho financeiro da estatal. A empresa reconhece que, no segmento concorrencial, operadores privados avançaram com modelos de negócios dinâmicos, oferecendo jornadas de atendimento flexíveis e convertendo custos fixos em variáveis por meio de entregas terceirizadas. A obrigação de universalização no oferecimento de serviços postais resulta em rigidez de custos, pois a estatal deve atender todos os municípios brasileiros independentemente da demanda ou rentabilidade, enquanto enfrenta intensificação da concorrência em segmentos de maior rentabilidade.

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