“Vou meter uma bala na sua cabeça”: ex-funcionário denuncia Careca do INSS

Edson Claro Medeiros Júnior relata coação para entregar aparelhos eletrônicos, Antônio Carlos Camilo Antunes teria prometido violência letal caso houvesse vazamento de informações.

Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, com expressão pensativa e mão no queixo durante depoimento em comissão no Congresso.
Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, foi apontado em depoimento à PF como o operador financeiro que repassava mesada a Lulinha.

O escândalo que envolve o maior esquema de descontos indevidos em aposentadorias da história recente do Brasil ganhou um novo e aterrorizante capítulo policial. Edson Claro Medeiros Júnior, ex-funcionário de confiança de Antônio Carlos Camilo Antunes, o infame “Careca do INSS”, formalizou uma queixa que expõe os bastidores violentos da organização criminosa. Em depoimento prestado às autoridades, Edson detalhou uma ameaça de morte denunciada que teria recebido diretamente de seu antigo patrão durante uma reunião tensa, cujo objetivo era garantir o silêncio sobre as operações fraudulentas que movimentaram bilhões de reais.

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Coação grave registrada

Segundo o relato contundente de Edson Claro, o encontro não teve caráter administrativo, mas sim de extorsão emocional e física. O ex-funcionário descreve que foi encurralado por Antunes em um momento crítico, quando as investigações da Polícia Federal (PF) começavam a fechar o cerco contra a quadrilha. A exigência feita pelo empresário era clara e não admitia recusa: a entrega imediata de todos os aparelhos eletrônicos — celulares e computadores — que pudessem conter provas incriminatórias ou registros de conversas sobre o esquema de empréstimos consignados fraudulentos.

Essa coação grave registrada nos autos do inquérito revela o desespero de “Careca do INSS” em apagar seus rastros digitais antes que a Operação “Sem Desconto” fosse deflagrada nas ruas. A recusa ou a hesitação de Edson em colaborar com a obstrução da justiça teria sido o gatilho para a mudança de tom na conversa. De acordo com o depoente, a atmosfera no local tornou-se hostil instantaneamente, transformando uma relação de trabalho em um cenário de terror psicológico, onde a lealdade era cobrada não com salários, mas com a preservação da própria vida.

Nesse contexto, as autoridades veem o depoimento de Edson como uma peça-chave para desmontar não apenas o esquema financeiro, mas também a estrutura de poder coercitivo que Antunes mantinha sobre seus subordinados. A entrega dos dispositivos eletrônicos era vital para a organização, pois neles residiam as planilhas e os logs de acesso que comprovavam como os descontos eram inseridos ilegalmente na folha de pagamento de milhões de aposentados, gerando lucros exorbitantes para o grupo criminoso.

Promessa de execução

O ponto mais dramático do depoimento, contudo, foi a reprodução exata das palavras que teriam sido proferidas por Antônio Carlos Camilo Antunes. Olhando diretamente para o ex-funcionário, o empresário teria disparado a frase que agora ecoa nos corredores da justiça: “Se você não me entregar os aparelhos e abrir a boca, eu vou meter uma bala na sua cabeça”. Essa promessa de execução direta e visceral demonstra, segundo investigadores, a periculosidade do investigado, que não hesitaria em recorrer à violência letal para proteger seu patrimônio e sua liberdade.

A ameaça, descrita com riqueza de detalhes, serviu para fundamentar pedidos de medidas cautelares mais rigorosas contra “Careca do INSS”, que já se encontra detido preventivamente. Para o Ministério Público e a Polícia Federal, a fala de Antunes evidencia que sua liberdade representava um risco real à integridade física de testemunhas e à instrução processual. O medo imposto por essa sentença de morte verbalizada manteve muitos envolvidos em silêncio por meses, dificultando o avanço inicial das apurações sobre a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas.

Além disso, o relato de Edson Claro conecta a violência da ameaça aos planos de fuga do empresário. Na mesma época das coações, Antunes estaria liquidando seu patrimônio de luxo — incluindo Ferraris e Porsches — para levantar dinheiro em espécie e fugir para os Estados Unidos, deixando para trás os funcionários como “arquivos mortos” ou bodes expiatórios. A ameaça de “bala na cabeça” funcionava, portanto, como uma garantia de que ninguém atrapalharia sua rota de escape internacional, que acabou sendo frustrada pela ação rápida da Polícia Federal.

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Ultimato violento

O impacto desse ultimato violento reverberou também na esfera política, especificamente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as fraudes no INSS. A convocação de Edson Claro para depor no Congresso tornou-se um campo de batalha entre governistas e oposição. Enquanto parlamentares buscavam ouvir a testemunha para expor as entranhas do esquema e a violência de seus operadores, defesas técnicas tentavam blindar o conteúdo desse depoimento, cientes do potencial explosivo que a confirmação pública da ameaça traria para a imagem dos envolvidos.

A gravidade da situação exposta por Edson reforça a tese de que o “Careca do INSS” não atuava sozinho, mas liderava uma organização com traços de máfia, onde a omertà (lei do silêncio) era a regra. O ex-funcionário, ao decidir quebrar esse silêncio e expor a ameaça, colocou-se em uma posição de vulnerabilidade extrema, exigindo proteção do Estado. Seu testemunho corrobora a apreensão de bens e a necessidade de manutenção da prisão preventiva dos líderes do esquema, desmantelando a narrativa de que se tratava apenas de “erros administrativos” ou crimes de colarinho branco sem violência.

Dessa forma, a denúncia de Edson Claro serve como um alerta sobre os métodos utilizados por criminosos financeiros no Brasil. Por trás dos desvios bilionários que afetam a vida de idosos vulneráveis, existe também um submundo de ameaças armadas e coação brutal. A justiça agora tem em mãos não apenas provas documentais dos desvios, mas a prova testemunhal da crueldade com que o esquema era gerido, o que pode agravar significativamente a pena final de Antônio Carlos Camilo Antunes e seus comparsas.

Intimidação com arma

Por fim, a revelação da intimidação com arma (ainda que verbalizada como promessa futura) altera a percepção pública sobre o caso. O “Careca do INSS” deixa de ser visto apenas como um empresário corrupto e passa a ser investigado como um agente capaz de violência contra a vida. A sociedade espera agora que o desenrolar do processo judicial traga segurança para as testemunhas e a devida reparação aos cofres públicos, além de punição exemplar para quem acreditou que poderia usar a força bruta para silenciar a verdade.

O caso segue em segredo de justiça em algumas instâncias, mas os vazamentos de depoimentos como o de Edson Claro garantem que a luz do sol continue sendo o melhor desinfetante. A “bala na cabeça” prometida não foi disparada, mas a palavra de Edson atingiu o alvo, implodindo a defesa de um dos maiores fraudadores da previdência nacional.

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