A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) renunciou ao mandato parlamentar nas últimas horas, em um movimento desesperado para tentar preservar seus direitos políticos, após o Supremo Tribunal Federal (STF) decretar a perda imediata de seu cargo. A decisão de renunciar acontece diretamente da Itália, onde a parlamentar se encontra atualmente em situação delicada, considerada foragida pela justiça brasileira e aguardando trâmites de extradição.
O ato final da carreira de Zambelli no Congresso Nacional ocorre em meio a um verdadeiro cabo de guerra entre os poderes. Mesmo após a Câmara dos Deputados ter rejeitado a cassação em plenário — somando apenas 227 votos a favor da perda, quando eram necessários 257 — o STF, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, anulou a soberania da votação legislativa. Moraes argumentou que houve “flagrante desvio de finalidade” e que a perda do mandato é automática para condenados a regime fechado, não cabendo aos deputados “salvarem” a colega, mas apenas declararem a vacância do cargo.
Adeus Brasília: O Clímax do Confronto
A renúncia de Carla Zambelli não é apenas um ato administrativo; é o símbolo da derrota da ala mais radical da oposição no confronto direto com o Judiciário. Aliados próximos, como o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), confirmaram que a estratégia de renunciar visa evitar os efeitos mais devastadores de uma cassação imposta, embora juristas questionem a eficácia da manobra neste estágio avançado.
O clima em Brasília é de tensão absoluta. A decisão da Primeira Turma do STF, que referendou a posição de Moraes por unanimidade, caiu como uma bomba no plenário da Câmara. Deputados do PL tentaram articular uma defesa baseada na “inviolabilidade do mandato”, mas a tese foi derrubada pelos fatos jurídicos: Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica, em conluio com o hacker Walter Delgatti Neto.
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A narrativa de “perseguição política” entoada por seus apoiadores não se sustentou diante das provas técnicas apresentadas pela Polícia Federal e aceitas pela Corte. A presença da deputada na Itália, longe do alcance da Polícia Federal brasileira, apenas acelerou o desgaste de sua imagem perante a opinião pública e seus pares, que já não viam sentido em gastar capital político para defender alguém que sequer está no país para se defender.
Queda Parlamentar: A Cronologia do Caos
Para entender como uma das deputadas mais votadas da história chegou a este ponto, é preciso olhar para a cronologia dos fatos que culminaram nesta sexta-feira fatídica. Tudo começou a desmoronar não agora, mas ainda em 2022, quando Zambelli foi flagrada perseguindo um homem armado pelas ruas de São Paulo na véspera da eleição. Aquele episódio foi o prenúncio de uma série de decisões equivocadas que a colocariam na mira do STF.
No entanto, o golpe fatal veio com a revelação da trama golpista envolvendo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Investigações da Polícia Federal comprovaram que Zambelli contratou e instruiu Walter Delgatti para invadir os sistemas da Justiça e inserir documentos falsos — incluindo um mandado de prisão fraudulento contra o próprio Alexandre de Moraes. O hacker, em delação premiada e depoimentos à CPMI, confessou que recebia ordens diretas da deputada, que visava desmoralizar o sistema judiciário brasileiro.
A condenação transitou em julgado em junho de 2025, tornando a prisão definitiva. Antecipando-se ao cumprimento da pena, Zambelli deixou o Brasil rumo à Europa, alegando tratamento de saúde e, posteriormente, buscando cidadania italiana para evitar a prisão. Essa fuga foi interpretada pelo STF como uma confissão de culpa e uma afronta à autoridade da Corte, endurecendo ainda mais o tratamento jurídico dispensado a ela.
Saída do Congresso e o Futuro Incerto
Agora, com a renúncia oficializada e a decisão do STF em vigor, o cenário para Carla Zambelli é sombrio. A perda do mandato retira qualquer foro privilegiado remanescente e expõe a ex-deputada aos rigores da lei comum, além de facilitar os processos de cooperação internacional para sua extradição. O governo brasileiro já sinalizou que intensificará os pedidos junto às autoridades italianas para que ela seja enviada de volta ao Brasil para cumprir a pena de 10 anos em regime fechado.
Além da prisão, Zambelli enfrenta a ruína financeira. Multas pesadas impostas pelo STF, somadas à indenização de R$ 2 milhões por danos morais coletivos, praticamente inviabilizam sua vida econômica no Brasil. A “vaquinha” realizada por apoiadores meses atrás, que arrecadou milhares de reais, foi insuficiente para cobrir o rombo jurídico e financeiro criado por suas ações.
O episódio também deixa uma lição amarga para o Legislativo. A tentativa da Câmara de “bater de frente” com uma decisão transitada em julgado do STF provou-se inócua. O recado de Alexandre de Moraes foi claro: o corporativismo parlamentar tem limite, e esse limite é o Código Penal. Para Zambelli, que entrou na política surfando a onda da antipolítica e do combate à corrupção, sair pela porta dos fundos, como foragida e renunciante, é o fim melancólico de uma era barulhenta, porém curta, de poder.
