A crise que envolve a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) ganhou um novo e dramático capítulo nesta semana, misturando cifras bilionárias e tensão trabalhista.
Um consórcio formado pelos cinco maiores bancos do país oficializou uma proposta de empréstimo de R$ 12 bilhões para tentar estancar a sangria financeira da estatal.
A operação, considerada vital para a sobrevivência da empresa a curto prazo, envolve Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander.
Essa união inédita entre bancos públicos e privados demonstra o tamanho do buraco financeiro que ameaça uma das instituições mais antigas do Brasil.
O valor oferecido, no entanto, veio abaixo da expectativa inicial da diretoria dos Correios, que havia solicitado R$ 20 bilhões ao mercado.
Os bancos aceitaram abrir a carteira, mas impuseram uma condição inegociável: o aval solidário do Tesouro Nacional.
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Isso significa que, se os Correios não pagarem a dívida no futuro, a conta cairá no colo de todos os contribuintes brasileiros via governo federal.
O objetivo imediato desse aporte é garantir o pagamento da folha salarial de dezembro, incluindo o 13º salário, e honrar dívidas urgentes com fornecedores.
Sem esse dinheiro, a estatal corria o risco real de insolvência técnica antes mesmo da virada do ano, travando a logística nacional.
Consórcio Financeiro Nacional
A negociação com o “G5” dos bancos foi dura e exigiu a intervenção direta do Ministério da Fazenda e da Casa Civil.
O ministro Fernando Haddad editou um decreto às pressas para permitir que a União ofereça as garantias exigidas pelas instituições financeiras.
Para os bancos, emprestar para os Correios na situação atual era um risco de crédito elevado, dado o prejuízo acumulado de R$ 6 bilhões apenas em 2025.
Os balanços mostram uma deterioração rápida das contas, agravada por decisões judiciais trabalhistas e queda na receita postal.
O empréstimo de R$ 12 bilhões servirá como um “balão de oxigênio”, mas vem atrelado a um remédio amargo: um plano de reestruturação severo.
Esse plano prevê o fechamento de cerca de 1.000 agências consideradas deficitárias em todo o país, reduzindo a capilaridade da empresa.
Além disso, está programado um Plano de Demissão Voluntária (PDV) com a meta de desligar até 15 mil funcionários nos próximos meses.
A ideia é enxugar a máquina pública e tentar devolver a estatal ao azul até 2027, focando mais no e-commerce e menos no atendimento físico.
Contudo, essa estratégia de “choque de gestão” foi recebida como uma declaração de guerra pelos sindicatos da categoria.
Movimento Paredista Unificado
A resposta dos trabalhadores foi rápida e contundente, elevando a temperatura em Brasília e nas sedes regionais da empresa.
As duas maiores federações da categoria, Fentect e Findect, convocaram assembleias em todo o país e aprovaram um indicativo de greve.
A data marcada para o início da paralisação é o dia 16 de dezembro de 2025, próxima terça-feira, em pleno pico de entregas de Natal.
O timing da greve não é acidental; os sindicatos sabem que parar agora maximiza a pressão sobre a diretoria e o governo Lula.
Milhares de trabalhadores realizaram protestos na Esplanada dos Ministérios nesta semana, denunciando o que chamam de “desmonte proposital”.
Para as lideranças sindicais, o empréstimo bilionário é uma armadilha que endividará a empresa a ponto de tornar a privatização a única saída futura.
Eles argumentam que o fechamento de agências prejudicará a população mais pobre do interior, que depende dos Correios para serviços bancários e cidadania.
Além disso, a categoria reivindica a reposição das perdas salariais pela inflação e a manutenção de benefícios históricos que a empresa quer cortar.
A última rodada de conciliação no Tribunal Superior do Trabalho (TST) terminou sem acordo, empurrando a disputa para o confronto aberto.
Gigante de Logística Estatal
O cenário para o consumidor final é preocupante, com o risco real de um “apagão postal” nas semanas mais movimentadas do ano.
Se a greve for confirmada no dia 16, milhões de encomendas de Natal compradas na Black Friday podem ficar retidas nos centros de distribuição.
Os Correios, que detêm o monopólio de cartas e lideram a entrega de pacotes do e-commerce, são a espinha dorsal do varejo brasileiro.
A empresa tenta tranquilizar o mercado, afirmando que tem planos de contingência para operar mesmo com a paralisação parcial.
No entanto, a magnitude da mobilização sindical sugere que a adesão pode ser massiva, travando operações cruciais em São Paulo e Rio de Janeiro.
O governo federal se vê em uma sinuca de bico: precisa salvar a empresa financeiramente, mas não quer o desgaste político de uma greve ou de demissões em massa.
A oposição no Congresso já se movimenta para convocar o presidente dos Correios a explicar o rombo recorde e o uso de recursos do Tesouro.
Há críticas de que a gestão atual inchou a máquina e falhou em modernizar a empresa para competir com transportadoras privadas ágeis.
Crise Postal Brasileira
A trajetória recente dos Correios é de uma queda vertiginosa: de estatal lucrativa e orgulho nacional a uma empresa dependente de socorro.
Em 2022, a empresa ainda apresentava lucro, mas a virada para 2023 e 2024 marcou o retorno ao vermelho profundo.
A perda de R$ 4,37 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025 acendeu o alerta vermelho em Brasília de que a situação era insustentável.
O “rombo” é atribuído a uma combinação de fatores: queda no volume de correspondências físicas, aumento de despesas médicas dos funcionários e dívidas judiciais.
O empréstimo de R$ 12 bilhões é visto por analistas como um paliativo, não uma cura definitiva.
Se a reestruturação não for implementada com rigor, a empresa queimará esse dinheiro em pouco tempo e voltará a pedir socorro em 2026.
Por outro lado, implementar a reestruturação significa enfrentar a fúria dos sindicatos e o custo social das demissões.
A próxima semana será decisiva: ou haverá um acordo de última hora para evitar a greve, ou o Brasil enfrentará um Natal de presentes atrasados e agências fechadas.
O futuro dos Correios, uma instituição de 360 anos, está sendo decidido agora, entre planilhas de banqueiros e gritos de protesto nas ruas.
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