CPMI do INSS convoca Zema: Zema Financeira é alvo de investigação

Requerimento mira empréstimos consignados suspeitos da empresa familiar, base do governo articula pressão e governador nega irregularidades.

Governador de Minas Gerais, Romeu Zema, discursando em um púlpito oficial durante evento.
O governador Romeu Zema foi convocado para depor na CPMI do INSS sobre operações da Zema Financeira, empresa de sua família.

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS aprovou, nesta quinta-feira (4), um requerimento de convocação que estremeceu o cenário político nacional: o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), terá que comparecer ao Congresso para prestar esclarecimentos. A decisão, tomada em uma sessão marcada por intensos debates, coloca sob os holofotes as operações da “Zema Financeira”, braço de crédito do grupo empresarial fundado pela família do governador. Parlamentares da base do governo federal alegam que existem indícios de irregularidades na concessão de empréstimos consignados a aposentados e pensionistas, transformando a gestão privada do grupo em alvo de escrutínio público.

Chamado ao parlamento

A aprovação da convocação foi uma vitória estratégica da bancada governista, liderada pelo deputado Rogério Correia (PT-MG), autor do requerimento. O texto argumenta que é “imprescindível” ouvir o governador sobre possíveis favorecimentos que a Zema Financeira teria recebido após a aprovação de medidas provisórias que facilitaram o crédito consignado com recursos do Auxílio Brasil. A votação ocorreu de forma simbólica, mas a tensão foi palpável. Enquanto a oposição denunciava uma “perseguição política” visando as eleições de 2026, a base governista sustentava que o volume de reclamações contra a financeira exige respostas diretas de quem carrega o sobrenome e já administrou o império familiar.

O governador, que estava cumprindo agenda oficial em Belo Horizonte, recebeu a notícia do “chamado ao parlamento” com aparente tranquilidade, mas sua defesa jurídica já se mobiliza. Advogados ligados ao Partido Novo ressaltam que Romeu Zema se afastou formalmente da administração das empresas em outubro de 2018, antes de assumir o governo mineiro. No entanto, os deputados insistem que a marca Zema e a figura política do governador são indissociáveis na percepção pública e que o crescimento das operações de crédito da empresa durante seu mandato precisa ser explicado à luz da moralidade administrativa.

Intimação legislativa

O foco central da investigação recai sobre o modus operandi da Zema Financeira no mercado digital. Relatórios preliminares em posse da CPMI sugerem que a instituição, autorizada pelo Banco Central a operar consignados, teria se beneficiado de brechas na fiscalização para oferecer crédito agressivo a beneficiários do INSS. Há denúncias de que aposentados foram induzidos a contratar empréstimos sem total compreensão das taxas de juros, que em alguns casos superariam a média do mercado. A “intimação legislativa” visa confrontar Zema com dados da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), que apontam um aumento no número de queixas contra a financeira nos últimos anos.

Além disso, a CPMI aprovou a elaboração de Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) específicos sobre a Zema Crédito, Financiamento e Investimento. O objetivo é rastrear o fluxo de dinheiro e verificar se houve algum tipo de informação privilegiada ou uso da máquina pública estadual para alavancar os negócios privados. A oposição tentou barrar essa devassa financeira, argumentando que o governador não tem controle sobre as decisões executivas da empresa hoje, mas o argumento foi voto vencido diante da maioria governista na comissão.

Oitiva do governador

A expectativa para a “oitiva do governador” é alta e deve ocorrer apenas no início de 2026, após o recesso parlamentar, transformando-se no primeiro grande fato político do ano eleitoral. Zema, cotado como um dos principais nomes da direita para a disputa presidencial, terá que equilibrar sua defesa técnica com a blindagem de sua imagem política. Se por um lado a convocação oferece um palco para ele se defender e atacar o governo federal, por outro, expõe sua família e seus negócios a um desgaste diário na mídia. A estratégia de seus aliados será focar na narrativa de que ele é um gestor eficiente sendo atacado pelo sistema, enquanto a esquerda tentará colar nele a pecha de que “governa para os seus”.

Contudo, a defesa de Zema não será fácil. A CPMI possui documentos que indicam a capilaridade da Zema Financeira em regiões onde o INSS identificou fraudes sistêmicas. Embora não haja prova direta ligando o governador a essas fraudes, a responsabilidade política e moral será o eixo do interrogatório. A presença de Zema na cadeira dos depoentes servirá como um teste de fogo para sua resiliência e retórica, confrontando diretamente parlamentares experientes que desejam desconstruir sua biografia de “outsider” da política.

Audiência obrigatória

Por fim, a “audiência obrigatória” de Romeu Zema abre um precedente perigoso para governadores que possuem laços com o setor privado. A blindagem que geralmente protege chefes de executivo estadual de CPIs federais foi rompida sob a justificativa da conexão direta com o objeto da investigação: o dinheiro dos aposentados. O caso Zema servirá de alerta para outros políticos-empresários, mostrando que a separação entre CPF e CNPJ será testada ao limite pelos órgãos de controle.

Portanto, a sessão de hoje marca uma escalada na guerra política brasileira. O INSS, órgão técnico que deveria cuidar da seguridade social, tornou-se o campo de batalha onde governos estaduais e federais medem forças. Resta saber se as provas contra a Zema Financeira são robustas o suficiente para justificar o estardalhaço político ou se, ao final, tudo não passará de mais um capítulo da antecipação da campanha de 2026.

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