A comunidade internacional voltou os olhos para o Brasil nesta sexta,feira, 5 de dezembro, com a divulgação de uma lista que promete agitar os corredores de Brasília. O renomado jornal britânico Financial Times incluiu o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em sua seleção anual das 25 pessoas mais influentes do mundo em 2025. Classificado na categoria “Heróis”, o magistrado é o único brasileiro a figurar no ranking deste ano, dividindo espaço com nomes de peso global como a atriz Jane Fonda e a escritora Margaret Atwood. A escolha, longe de ser apenas uma nota de rodapé, reflete como a crise política brasileira e a resposta institucional a ela são observadas com lupa pelas grandes potências do hemisfério norte.

Nesse sentido, o perfil do ministro publicado pelo jornal foi assinado pela historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, uma das intelectuais mais respeitadas do país. No texto, ela descreve Moraes como um “símbolo de democracia e justiça”, destacando seu papel crucial na contenção dos atos antidemocráticos que culminaram na tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. A publicação enfatiza que, em um momento em que cortes supremas ao redor do mundo capitularam diante de autocratas, o Judiciário brasileiro, sob a liderança firme de figuras como Moraes, manteve,se de pé. Essa narrativa reforça a imagem do ministro como um guardião da Constituição, disposto a tomar medidas impopulares para preservar o estado de direito.
Além disso, a inclusão na lista ocorre em um contexto de intensa polarização interna. Enquanto parte da sociedade celebra o reconhecimento internacional como uma validação da postura enérgica do STF, outra parcela enxerga com desconfiança os elogios vindos de fora. O próprio texto do Financial Times não se furta a mencionar as controvérsias, citando que existe uma “tensão” entre a firmeza das ações de Moraes e o uso de instrumentos legais considerados excepcionais por alguns juristas. Essa dualidade é o que torna a figura do ministro tão fascinante e, ao mesmo tempo, divisiva: para uns, o remédio amargo necessário contra o extremismo; para outros, um sintoma de superpoderes judiciais que precisam de freios.
Magistrado destaque imprensa britânica
A categoria “Heróis”, na qual Moraes foi inserido, agrupa personalidades que, segundo o jornal, demonstraram coragem para enfrentar desafios sistêmicos em suas respectivas áreas. Ao lado do ministro, figuram ativistas, cientistas e artistas que utilizaram sua influência para promover mudanças sociais ou defender direitos fundamentais. O fato de um juiz da Suprema Corte de um país em desenvolvimento estar nesse patamar indica que a batalha contra a desinformação e o populismo digital no Brasil é vista como um “case” global. O mundo observa as táticas do STF brasileiro como um possível laboratório de como as democracias liberais podem se defender na era das redes sociais desreguladas.
Por conseguinte, a repercussão da notícia foi imediata e barulhenta nas redes digitais. Apoiadores do ministro compartilharam a publicação como um troféu, utilizando o reconhecimento estrangeiro para rebater críticas internas de que o Brasil estaria vivendo uma “ditadura da toga”. A narrativa de que o mundo livre apoia as ações do STF ganha força com esse tipo de chancela editorial. Do outro lado, críticos apontam que a visão da imprensa estrangeira é muitas vezes superficial e desconectada da realidade cotidiana dos processos legais no país, ignorando nuances importantes sobre o devido processo legal e a liberdade de expressão.
Entretanto, é fundamental analisar o critério editorial do Financial Times. O jornal, de linha liberal, econômica e centrista, historicamente valoriza a estabilidade institucional e o império da lei. Ao eleger Moraes, a publicação não está necessariamente endossando cada decisão monocrática tomada, mas sim o resultado macroscópico: a sobrevivência das instituições democráticas brasileiras após o maior teste de estresse desde a redemocratização. Para os editores londrinos, a alternativa ao “ativismo” de Moraes poderia ter sido o colapso da ordem constitucional, um cenário que traria prejuízos incalculáveis não apenas para a política, mas para o ambiente de negócios e investimentos no país.
Juiz brasileiro ranking global
A presença de Alexandre de Moraes na lista também joga luz sobre o isolamento de certas narrativas da extrema,direita brasileira no cenário internacional. Enquanto grupos locais tentam emplacar em fóruns estrangeiros a tese de que há uma perseguição política em curso no Brasil, a grande mídia ocidental parece comprada na versão de que o Judiciário está agindo em legítima defesa. O reconhecimento do Financial Times funciona como um balde de água fria nas pretensões de quem buscava sanções ou condenações internacionais contra o Supremo. Pelo contrário, a imagem que se projeta é a de um tribunal resiliente que serve de exemplo.
Outrossim, a lista de 2025 traz uma diversidade interessante de perfis. Além da categoria “Heróis”, o jornal selecionou “Líderes” e “Criadores”. Entre os líderes, destaca,se Jensen Huang, CEO da Nvidia, a empresa que se tornou o motor da revolução da inteligência artificial. A justaposição de um ministro brasileiro com o homem mais importante da tecnologia atual mostra como o poder, no século XXI, é multifacetado. Ele reside tanto nos chips que processam trilhões de dados quanto nas canetas que assinam sentenças capazes de bloquear plataformas inteiras se estas não respeitarem as leis locais.
Consequentemente, essa visibilidade internacional pode fortalecer a posição de Moraes internamente. Com o aval de um dos jornais mais influentes do mundo financeiro, o ministro ganha capital político para continuar suas investigações, inclusive aquelas que miram financiadores de atos antidemocráticos e redes de ódio. O mercado financeiro, leitor voraz do FT, tende a interpretar a notícia como um sinal de que as instituições brasileiras são sólidas, o que pode, ironicamente, ajudar a reduzir a percepção de risco-país, apesar das turbulências políticas diárias.
Ministro citado jornal inglês
Não se pode ignorar, contudo, que a fama internacional traz consigo uma lupa mais potente sobre os atos futuros do magistrado. Se antes as decisões de Moraes eram debatidas exaustivamente em português, agora elas passam a ser monitoradas também em inglês, por observadores que cobram coerência com o título de “herói” democrático. Qualquer deslize que possa ser interpretado como censura ou autoritarismo terá, a partir de agora, uma ressonância global muito maior. O prêmio é, portanto, uma faca de dois gumes: consagra o passado recente, mas impõe um padrão de conduta elevadíssimo para o futuro próximo.
Ademais, o texto de Lilia Schwarcz pontua com precisão que a atuação de Moraes foi fundamental para que a Constituição não se tornasse um “mero ornamento”. Essa frase resume o sentimento de muitos juristas que, mesmo discordando de métodos específicos, reconhecem que a omissão do Judiciário teria sido fatal. A história brasileira é repleta de leis que “não pegaram” e de momentos em que a carta magna foi ignorada. Ao garantir a eficácia da lei eleitoral e a transição pacífica de poder, o STF cumpriu sua missão precípua, e é esse o ponto central celebrado pelo jornal britânico.
Dessa forma, o reconhecimento deve ser lido também como um recado para a classe política. Em um mundo onde a democracia está em recessão, com o avanço de regimes híbridos e autocracias, a capacidade de resistência das instituições civis é o ativo mais valioso de uma nação. O Financial Times parece dizer aos seus leitores de elite: olhem para o Brasil, não apenas como um exportador de commodities, mas como um campo de batalha crucial onde o futuro da democracia liberal está sendo decidido, voto a voto, sentença a sentença.
Autoridade lista personalidades mundiais
Por fim, vale lembrar que Moraes não é o primeiro brasileiro a figurar nessas listas de prestígio, mas é certamente um dos mais polêmicos. Em anos anteriores, figuras ligadas ao meio ambiente, como Marina Silva, eram as escolhas óbvias. A mudança de foco para um juiz supremo indica que a pauta urgente do Brasil mudou: a prioridade global agora é a estabilidade democrática. A Amazônia continua vital, mas sem um governo democrático funcional, a proteção ambiental é impossível. O Financial Times conectou esses pontos ao elevar o garantidor da ordem institucional ao status de protagonista global.
Em suma, a inclusão de Alexandre de Moraes na lista de influentes de 2025 é um marco na biografia do ministro e na história recente do STF. Ela cristaliza a narrativa de que o Brasil sobreviveu a uma tentativa de golpe graças à força de suas instituições. Gostem ou não os críticos, o nome de Moraes está agora impresso nas páginas da história global como o homem que disse “não” ao caos, assumindo para si o peso e o desgaste de ser o dique de contenção contra a maré autoritária. Resta saber como ele usará essa influência renovada nos próximos capítulos da turbulenta política nacional.
