A temperatura política em Brasília atingiu níveis alarmantes nesta quarta,feira (10) com declarações explosivas do deputado Glauber Braga (PSOL,RJ). Ainda com marcas visíveis da ação policial ocorrida na noite anterior, o parlamentar não poupou adjetivos e disparou contra o presidente da Câmara dos Deputados. “Hugo Motta é um covarde”, afirmou categoricamente Glauber em entrevista coletiva, referindo,se à ordem dada por Motta para que a Polícia Legislativa o retirasse à força da cadeira da presidência do plenário. O episódio, que já é considerado um dos mais violentos da atual legislatura, expôs fraturas profundas na condução da Casa e levantou questionamentos sobre a isonomia no tratamento de deputados de diferentes espectros ideológicos.
A confusão teve início na terça,feira (9), quando Glauber ocupou a Mesa Diretora em um ato de protesto contra a pauta de votação que poderia acelerar seu processo de cassação. Diferente de episódios anteriores, a reação da presidência foi imediata e física. Agentes da Polícia Legislativa, cumprindo determinação direta de Hugo Motta, removeram o deputado à força, em uma cena que envolveu empurrões, gritos e a expulsão da imprensa do local. Para Glauber, a atitude de Motta revelou uma face autoritária e desproporcional, especialmente quando comparada à leniência demonstrada em situações similares protagonizadas pela oposição de direita.
O deputado do PSOL, conhecido por sua postura combativa, dirigiu,se ao Departamento de Polícia (5ª DP) para registrar um boletim de ocorrência por agressão e abuso de autoridade contra Hugo Motta e os agentes envolvidos. Ele alega ter sofrido lesões no braço e criticou a truculência desnecessária, afirmando que sua manifestação era pacífica e política. A narrativa de “covardia” adotada por Glauber busca mobilizar sua base e constranger a presidência da Câmara, colocando Motta na defensiva diante da opinião pública e de aliados de esquerda que sustentam sua governabilidade.
Confronto Parlamentar expõe dois pesos e duas medidas
O ponto central da crítica de Glauber neste Confronto Parlamentar é a suposta seletividade punitiva de Hugo Motta. O deputado relembrou, com veemência, o episódio ocorrido em agosto deste ano, quando parlamentares bolsonaristas ocuparam a mesma Mesa Diretora por quase 48 horas exigindo anistia para os presos do 8 de janeiro. Naquela ocasião, não houve ordem de retirada forçada, corte de transmissão da TV Câmara ou expulsão de jornalistas. “Quando foram os golpistas, ele serviu cafezinho. Comigo, mandou a tropa de choque”, disparou Glauber, evidenciando o que considera uma hipocrisia institucional.
Esse Confronto Parlamentar ganha contornos de perseguição política na visão do PSOL. A legenda argumenta que a pressa em cassar Glauber, motivada por um incidente onde ele expulsou um militante do MBL da Câmara aos chutes, contrasta com a lentidão nos processos contra deputados acusados de crimes mais graves, como incitação ao golpe de Estado. A ocupação da cadeira, segundo Glauber, foi um ato desesperado de resistência para chamar a atenção para essa disparidade. Ao reagir com força máxima, Motta teria caído na armadilha retórica de validar a tese de que há uma “missão dada” para eliminar vozes dissonantes na esquerda combativa.
Além disso, o Confronto Parlamentar serviu para isolar ainda mais Hugo Motta de sua base progressista. Líderes do PT, como Lindbergh Farias, manifestaram solidariedade a Glauber e criticaram a “condução errada” do presidente da Casa. A avaliação nos bastidores é que Motta, ao tentar mostrar autoridade e controle, acabou demonstrando desequilíbrio e falta de habilidade para gerenciar crises sem o uso da força bruta. A imagem de um deputado sendo arrastado por policiais dentro do templo da democracia é um passivo político que dificilmente será esquecido nas negociações futuras.
Denúncia de Covardia e cerceamento da imprensa
A Denúncia de Covardia feita por Glauber Braga vai além da agressão física; ela toca em princípios fundamentais da transparência pública. Durante a operação de retirada, as luzes do plenário foram diminuídas, a transmissão oficial foi cortada e, mais grave, jornalistas foram impedidos de registrar o ocorrido, sendo retirados do recinto sob ameaça. Glauber classificou esse apagão informativo como uma tática de ditaduras, usada para esconder a violência do Estado contra seus representantes eleitos. “Quem não deve, não teme as câmeras. Motta quis bater no escuro”, afirmou o deputado.
Ao formalizar a Denúncia de Covardia na delegacia, Glauber incluiu o cerceamento da imprensa como parte do abuso de autoridade. A Associação Brasileira de Imprensa e sindicatos de jornalistas emitiram notas de repúdio, alertando que a Câmara dos Deputados não pode se tornar uma “zona proibida” sempre que a situação política ficar tensa. O ato de Motta de restringir o acesso aos anexos da Câmara no dia seguinte, alegando “risco de manifestação”, foi interpretado como mais uma medida de força para evitar o escrutínio público sobre suas decisões.
Essa Denúncia de Covardia ecoa fortemente nas redes sociais, onde vídeos parciais gravados por celulares de assessores viralizaram. As imagens mostram Glauber sendo agarrado pelo pescoço e arrastado, enquanto grita por seus direitos constitucionais. Para seus apoiadores, a cena é a prova cabal de que o sistema político se uniu para esmagar quem desafia o status quo. Para seus detratores, é apenas o resultado previsível de quem busca o tumulto como método político. Independente da interpretação, a palavra “covarde” colou na imagem de Motta, obrigando,o a justificar,se publicamente sobre a proporcionalidade de sua ordem.
Embate no Plenário reflete tensão pré-eleitoral
O Embate no Plenário não é um fato isolado, mas sintoma de um Congresso conflagrado às vésperas de um ano eleitoral decisivo. A disputa pela narrativa do “combate ao sistema” coloca Glauber e a liderança do Centrão, representada por Motta e Arthur Lira, em rota de colisão direta. Glauber acusa Lira de ser o arquiteto invisível de sua cassação e vê em Motta apenas um executor de ordens. A ocupação da cadeira foi, portanto, um desafio simbólico não apenas ao presidente atual, mas a toda a estrutura de poder que domina a Casa há anos.
Neste Embate no Plenário, o PL da Dosimetria (que reduz penas para golpistas) atuou como catalisador. Glauber justificou seu protesto também como uma barreira contra a aprovação dessa pauta, que ele considera uma anistia velada. Ao misturar sua defesa pessoal com uma pauta nacional de defesa da democracia, ele tenta nacionalizar sua crise e angariar apoio fora da bolha do PSOL. A estratégia é arriscada, mas o Embate no Plenário mostrou que ele está disposto a ir às últimas consequências, inclusive físicas, para não sair de cena silenciosamente.
Por outro lado, Hugo Motta tenta vender a imagem de que o Embate no Plenário foi um ataque institucional que precisava ser repelido. Em nota, ele afirmou que a atitude de Glauber desrespeitou o Poder Legislativo e que “extremismos testam a democracia”. Motta busca se posicionar como o garantidor da ordem, o adulto na sala que não permite que o parlamento vire um circo. No entanto, a virulência da resposta policial pode ter enfraquecido esse argumento, transformando o agressor da ordem (Glauber) em vítima da repressão (o deputado arrastado).
Crise Institucional e o futuro do mandato
A Crise Institucional aberta por este episódio deixa o futuro de Glauber Braga por um fio, mas também desgasta a liderança de Motta. O Conselho de Ética já havia aprovado a admissibilidade do processo de cassação, e a expectativa era de que o plenário confirmasse a decisão. No entanto, a violência das cenas de terça,feira pode alterar o cálculo político de alguns deputados indecisos. Cassar um deputado que acaba de ser “humilhado” fisicamente pela polícia da Casa pode parecer vingança excessiva, dando munição para o discurso de martirização política.
A Crise Institucional também afeta a pauta econômica e administrativa do governo. Com o clima envenenado, a obstrução da pauta pela esquerda (em solidariedade a Glauber) e pela direita (aproveitando o caos) pode travar votações importantes neste fim de ano. O governo Lula, que precisa aprovar medidas fiscais, assiste com preocupação ao incêndio no plenário, sem ter controle sobre as chamas. A liderança do governo terá que fazer malabarismo para acalmar os ânimos sem desautorizar o presidente da Câmara, de quem depende para aprovar projetos.
Por fim, a Crise Institucional deixa uma lição amarga sobre o estado da política brasileira. O diálogo foi substituído pela ação direta, a negociação pela força policial e o debate de ideias pela adjetivação agressiva. Se “covarde” foi a palavra do dia, “intolerância” parece ser a palavra do ano. O desfecho do caso Glauber dirá muito sobre o que esperar de 2026: se teremos um parlamento capaz de resolver seus conflitos no voto ou se a polícia será, cada vez mais, um ator político dentro do plenário.
