Glauber salvo, Câmara rejeita cassação e aprova suspensão de 6 meses

Em reviravolta na madrugada, Plenário acata acordo para pena branda; parlamentar do PSOL escapa da inelegibilidade, mas perde verbas e gabinete até meados de 2026.

O deputado Glauber Braga, um homem de pele clara e cabelos escuros curtos, veste terno chumbo e gravata azul; ele está de pé na tribuna, gesticulando com a mão esquerda enquanto fala de forma expressiva ao microfone, com a bandeira do Brasil visível ao fundo.
Glauber Braga (PSOL-RJ) na tribuna da Câmara; deputado acusou Hugo Motta de autoritarismo após ser retirado à força do plenário. (Foto: Reprodução)

A Câmara dos Deputados encerrou, na madrugada desta quinta,feira (11), um dos capítulos mais tensos de sua história recente ao definir o futuro do deputado Glauber Braga (PSOL,RJ). Em uma reviravolta política articulada no plenário, os parlamentares rejeitaram o pedido de cassação definitiva e aprovaram, por 318 votos a favor e 141 contra, a suspensão do mandato do psolista pelo período de seis meses. A decisão representa uma vitória estratégica para a defesa de Glauber, que corria risco iminente de perder os direitos políticos e ficar inelegível até 2035 caso a pena máxima fosse aplicada. O resultado foi recebido com alívio pela bancada de esquerda e gritos de protesto de parte da oposição, consolidando um “meio,termo” institucional para punir a conduta do deputado sem eliminá,lo da vida pública.

O julgamento político foi motivado pela representação do Partido Novo, que acusava Glauber de quebra de decoro parlamentar por ter expulsado a chutes um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) das dependências da Câmara em 2024. Contudo, o clima para a votação foi contaminado pelos eventos das últimas 48 horas, quando Glauber ocupou a cadeira da presidência em protesto e foi retirado à força pela Polícia Legislativa sob ordens do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos,PB). A imagem do deputado sendo arrastado gerou uma onda de solidariedade que, segundo analistas, foi decisiva para virar votos a favor da suspensão, vista como uma punição mais proporcional do que a “pena de morte” política.

Com a decisão, Glauber Braga fica afastado do cargo imediatamente e só poderá retornar às atividades parlamentares em meados de 2026, já no calor da campanha eleitoral. Durante esse período, ele não receberá salário, verbas de gabinete ou auxílio,moradia, e sua cadeira será ocupada pelo suplente da federação PSOL,Rede. Em discurso logo após a proclamação do resultado, Glauber classificou o desfecho como uma “vitória coletiva” e reafirmou sua postura combativa: “Para defender a minha família, eu sou capaz de muito mais do que um chute na bunda”, declarou, referindo,se às ofensas que alega ter sofrido do militante do MBL.

Leia Também: Fatos Urgentes: EUA Podem Revogar Sanções de Magnitsky Contra Moraes?

Votação Decisiva na madrugada

A Votação Decisiva que selou o destino de Glauber ocorreu já nas primeiras horas da quinta,feira, após uma sessão longa e tumultuada. Para cassar um mandato, são necessários os votos da maioria absoluta dos deputados (257 votos). No entanto, a estratégia da defesa, liderada pelo PSOL, foi aprovar um destaque (uma emenda ao texto original) que convertia a pena de perda de mandato em suspensão temporária. O placar de 318 votos favoráveis a essa conversão demonstrou que, apesar das divergências ideológicas, o “espírito de corpo” da Câmara optou por preservar o mandato de um colega eleito.

Durante a Votação Decisiva, a tensão era palpável. Aliados de Glauber temiam que o acordo costurado nos bastidores fosse rompido pela base bolsonarista mais radical, que pedia a cabeça do deputado. Contudo, o Centrão, liderado por Arthur Lira (PP,AL) e Hugo Motta, entregou os votos necessários para a suspensão, entendendo que a cassação poderia criar um precedente perigoso de instabilidade interna. A votação foi nominal, obrigando cada deputado a registrar sua posição no painel eletrônico, o que aumentou a pressão sobre parlamentares indecisos.

O resultado da Votação Decisiva também expôs as fraturas na base do governo. Enquanto o PT e partidos de esquerda votaram em peso pela suspensão (para salvar o mandato), legendas como o PL e o Novo orientaram pela cassação ou votaram contra a punição branda. A aprovação da suspensão, no entanto, foi ampla o suficiente para não deixar dúvidas sobre a vontade soberana do plenário, encerrando o processo disciplinar na esfera legislativa.

Acordo de Lideranças evitou cassação

O que parecia impossível até a tarde de quarta,feira se concretizou graças a um Acordo de Lideranças. Deputados da esquerda, cientes de que não teriam votos para absolver Glauber, iniciaram uma negociação pragmática com caciques do Centrão. O argumento central foi de que a retirada violenta de Glauber do plenário pela polícia no dia anterior já havia servido como uma “punição moral” e que a cassação soaria como perseguição política desproporcional. Hugo Motta, apesar de ter sido chamado de “covarde” por Glauber, não colocou obstáculos intransponíveis para a costura do acordo, preferindo encerrar o episódio que paralisava a pauta da Casa.

Nesse Acordo de Lideranças, o PSOL teve que aceitar a sanção dura de seis meses sem remuneração como um “mal menor”. A presidente do partido, Paula Coradi, esteve presente nas negociações, articulando para garantir que o texto final não deixasse brechas para inelegibilidade. A habilidade política de Sâmia Bomfim (PSOL,SP), esposa de Glauber, também foi citada nos bastidores como fundamental para sensibilizar parlamentares sobre o impacto da cassação na vida pessoal e familiar do deputado.

A validação do Acordo de Lideranças no plenário mostra a força do “Centrão” como fiel da balança. Ao modular a punição, o grupo envia um recado duplo: pune os excessos comportamentais de Glauber, mas reafirma a autonomia do mandato parlamentar contra pressões externas. Para Glauber, o acordo foi a tábua de salvação que lhe permite disputar a reeleição em 2026, mantendo viva sua voz política, ainda que silenciada temporariamente dentro do parlamento.

Sanção Parlamentar e impacto financeiro

A Sanção Parlamentar imposta a Glauber Braga é a mais severa prevista no regimento antes da cassação. A suspensão de prerrogativas regimentais por seis meses implica o congelamento total de sua atividade legislativa. Glauber não poderá discursar, votar, apresentar projetos ou integrar comissões até junho de 2026. Além disso, a perda do salário (hoje em torno de R$ 44 mil) e das verbas de gabinete desestrutura sua equipe em Brasília e no Rio de Janeiro, impondo um desafio logístico para a manutenção de seu grupo político.

Apesar da dureza da Sanção Parlamentar, a manutenção dos direitos políticos é o ponto chave. Diferente de Deltan Dallagnol ou Eduardo Cunha, que foram varridos da vida pública, Glauber continua sendo um ator político elegível. Ele poderá usar as redes sociais e a militância de rua para manter seu eleitorado mobilizado, transformando a suspensão em uma narrativa de resistência contra o “sistema”. A punição, ironicamente, pode acabar fortalecendo seu discurso anti,establishment junto à sua base radical.

No entanto, a Sanção Parlamentar deixa uma marca indelével na biografia do deputado. Ele se torna um dos poucos parlamentares da história a cumprir uma suspensão tão longa por agressão física. O episódio servirá de munição para seus adversários nas próximas eleições, que certamente explorarão as imagens do chute e da expulsão policial para questionar seu equilíbrio emocional para o cargo.

Noite de Tensão e protestos

A sessão que definiu o futuro de Glauber foi antecedida por uma Noite de Tensão. A entrada do deputado na Câmara na tarde de quarta,feira (10) já havia sido marcada por tumulto, com apoiadores gritando “Glauber Fica” e opositores respondendo com “Tchau Glauber”. A segurança da Casa foi reforçada, e o acesso às galerias foi restrito, criando um ambiente de confinamento e nervosismo. A lembrança das cenas de violência do dia anterior, quando a Polícia Legislativa agiu com força, pairava sobre o plenário.

Durante a Noite de Tensão, outros casos também foram deliberados, como o da deputada Carla Zambelli (PL,SP), que teve seu mandato mantido na mesma sessão, gerando acusações de “acordão” para salvar mandatos de ambos os lados do espectro ideológico. A coincidência das votações reforçou a percepção de que a Câmara opera sob uma lógica de troca de favores, onde a punição de um lado é balanceada pela impunidade ou clemência do outro.

Por fim, a Noite de Tensão encerra uma semana caótica em Brasília. O caso Glauber Braga monopolizou as atenções, travando votações econômicas importantes. Com a resolução do caso, a expectativa é que a Câmara retome a normalidade, mas as feridas abertas entre a presidência de Hugo Motta e a bancada do PSOL demorarão a cicatrizar. O parlamento sai desse episódio desgastado, com sua imagem pública arranhada pela violência e pelo corporativismo.

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários