O clima em Brasília, que já andava tenso devido às negociações para a sucessão nas presidências da Câmara e do Senado, azedou de vez neste fim de semana. A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada Gleisi Hoffmann, veio a público para rebater de forma contundente as declarações recentes do senador Davi Alcolumbre. O parlamentar, que desponta como favorito para comandar o Senado a partir de 2025, teria feito comentários que sugeriam um uso indevido da máquina pública pelo partido do governo. Gleisi não deixou por menos e classificou as falas como “insinuações” inaceitáveis, marcando um novo capítulo na guerra fria entre o “Centrão” e o núcleo duro do governo Lula.
A polêmica começou quando Alcolumbre, em conversas de bastidores que vieram a público, teria condicionado o andamento de pautas econômicas à liberação de mais espaço na Esplanada e ao controle rígido das emendas parlamentares. Para a liderança petista, essa postura soou como um ultimato desrespeitoso. A reação foi imediata e calculada para demarcar território. Gleisi afirmou que o governo não aceitará ser refém de pautas-bomba ou de pressões que visam apenas o acúmulo de poder pessoal em detrimento do projeto de país eleito nas urnas.
Essa troca de farpas expõe a fragilidade da base aliada no Congresso. De um lado, o governo tenta manter a austeridade fiscal e o controle sobre os ministérios chaves. Do outro, lideranças do Legislativo, empoderadas pelo controle do orçamento secreto nos últimos anos, exigem uma fatia cada vez maior do bolo. A palavra “insinuação” usada por Gleisi carrega um peso enorme, pois sugere que Alcolumbre estaria acusando o PT de práticas que, na verdade, são comuns ao próprio “toma lá, dá cá” da política tradicional que o senador representa.
Além disso, o momento é delicado. Com o final do ano se aproximando, a votação do Orçamento de 2026 está na mesa. Qualquer ruído na comunicação entre os presidentes dos partidos e as lideranças das casas legislativas pode travar a máquina pública. A fala de Gleisi serve como um escudo para o Planalto, mas também como um aviso: a paciência do Executivo tem limites. A seguir, analisamos os desdobramentos dessa crise que mistura interesses republicanos com ambições eleitorais puras.
Presidente do PT contesta senador sobre vagas
Ao afirmar que Gleisi rebate Alcolumbre cargos, estamos falando de uma disputa pelo comando real da administração federal. A deputada foi enfática ao dizer que a nomeação para funções de confiança é prerrogativa do Presidente da República e não moeda de troca para eleições internas do Senado. Segundo interlocutores, a irritação de Gleisi se deve ao fato de que Alcolumbre estaria agindo como se já fosse o presidente do Congresso, atropelando ritos e hierarquias.
A dirigente partidária lembrou que o PT fez concessões enormes para garantir a governabilidade nos últimos dois anos, entregando ministérios importantes para partidos de centro e direita. Contudo, a voracidade por mais espaços parece não ter fim. Para Gleisi, as “insinuações” de que o PT estaria aparelhando a máquina são uma cortina de fumaça criada para justificar a própria sede de cargos do grupo ligado ao senador do Amapá.
Historicamente, o PT tem uma relação complexa com o Legislativo. A postura combativa de Gleisi Hoffmann reflete a insatisfação da militância, que vê o governo sendo desidratado por aliados de ocasião. Ao trazer o debate para a luz do dia, chamando as pressões pelo nome de “insinuações”, ela tenta constranger os articuladores políticos que operam nas sombras. É uma estratégia arriscada, mas necessária para quem precisa reafirmar autoridade.
Por outro lado, Alcolumbre detém a chave do cofre legislativo. Como presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e provável futuro presidente da Casa, ele tem o poder de pautar ou arquivar projetos vitais. A resposta de Gleisi, portanto, não é apenas uma defesa retórica, mas um movimento tático para tentar equilibrar um jogo de forças que hoje pende desfavoravelmente para o governo.
Disputa por funções públicas e orçamento
Não é segredo que, quando Gleisi rebate Alcolumbre cargos, o pano de fundo real são as emendas parlamentares. O controle sobre bilhões de reais do orçamento federal transformou o Legislativo brasileiro em um “superpoder”. Alcolumbre, mestre na arte da articulação orçamentária, sabe que emendas liberadas significam fidelidade de prefeitos e deputados. O PT, por sua vez, tenta recuperar a capacidade de investimento direto dos ministérios.
A crítica de Gleisi toca na ferida da transparência. As “insinuações” citadas por ela referem-se a boatos plantados de que o governo estaria privilegiando emendas de parlamentares petistas. A presidente do partido nega veementemente, apresentando dados que mostram uma liberação recorde de recursos para partidos do Centrão. Para ela, acusar o governo de partidarizar o orçamento é uma tática de “o ladrão que grita pega ladrão”, invertendo a lógica dos fatos.
O impasse sobre as emendas impositivas e as de comissão travou o Congresso nas últimas semanas. O governo precisa aprovar medidas de ajuste fiscal, mas o Senado condiciona tudo à liberação de verbas represadas. Quando Alcolumbre sugere que há irregularidades ou favorecimentos na distribuição atual, ele está, na prática, elevando o preço do seu apoio. Gleisi, ao reagir, tenta baratear essa fatura política, expondo a voracidade do senador.
Essa queda de braço afeta diretamente a população. Enquanto Brasília discute quem é o “dono” do dinheiro, obras em rodovias, hospitais e escolas ficam paradas aguardando a assinatura de empenhos. A narrativa de Gleisi busca trazer a opinião pública para o lado do governo, mostrando que a chantagem parlamentar tem um custo social altíssimo. Resta saber se o eleitor conseguirá distinguir quem defende o interesse público e quem defende o próprio feudo.
Tensão entre lideranças sobre nomeações
A temperatura subiu porque a forma como Gleisi rebate Alcolumbre cargos foi pessoal e direta. Em vez de notas oficiais frias, a deputada usou suas redes e entrevistas para confrontar o senador. Ela insinuou que a lealdade de Alcolumbre é volátil e depende exclusivamente do diário oficial. Essa personalização do conflito é perigosa, pois cria inimizades que podem durar anos e sabotar votações importantes no futuro próximo.
Dentro do próprio governo, há quem critique a postura de Gleisi. A ala mais pragmática do Planalto, que defende a política da “boa vizinhança” com o Congresso, teme que os ataques diretos a Alcolumbre inviabilizem a aprovação de reformas. No entanto, a presidente do PT segue a linha de que é preciso marcar posição. Para ela, ceder a todas as chantagens sem reclamar é um sinal de fraqueza que convida a novos ataques.
As “nomeações” em questão envolvem estatais e diretorias regionais de órgãos federais. Alcolumbre deseja expandir sua influência para além do Norte e Nordeste, visando consolidar seu poder nacionalmente. O PT tenta frear esse avanço, preservando espaços para seus quadros técnicos e históricos. O choque é inevitável: não há cadeiras suficientes para acomodar a fome de poder do Senado e a necessidade de gestão do Executivo.
A crise atual é um reflexo do sistema de presidencialismo de coalizão em frangalhos. Sem uma base ideológica sólida, o governo depende do aluguel de apoio, cujo preço é reajustado diariamente. A atitude de Gleisi é um grito de basta, uma tentativa de redefinir as regras de convivência antes que o governo perca totalmente o controle da caneta de nomeações.
Reação petista contra pressão do parlamento
O episódio onde Gleisi rebate Alcolumbre cargos deve ser lido como um prelúdio de 2026. O fortalecimento de figuras como Alcolumbre cria polos de poder que rivalizam com a presidência da República. Ao falar em “insinuações”, Gleisi está denunciando uma tentativa de deslegitimação do governo eleito. A estratégia do PT é clara: pintar o Congresso como o vilão da história, o “sanguessuga” do orçamento, para preservar a imagem de Lula.
Contudo, essa estratégia tem pernas curtas se não houver entrega de resultados econômicos. Alcolumbre sabe disso e joga com o tempo. Ele não precisa derrubar o governo; basta sangrá-lo até que ele se torne inoperante sem a ajuda do Senado. A resposta dura de Gleisi mostra que o PT identificou a armadilha, mas ainda não encontrou uma forma eficaz de desarmá-la sem entrar em confronto direto.
As próximas semanas serão decisivas. Se Alcolumbre recuar e baixar o tom, a crise arrefece. Se ele dobrar a aposta e travar a pauta, o governo terá que escolher entre ceder mais anéis ou ir para o tudo ou nada. A fala de Gleisi foi o primeiro tiro de aviso. A “insinuação” virou “acusação”, e o diálogo institucional, tão prezado na teoria, está por um fio na prática.
Em resumo, o Brasil assiste a mais um capítulo da eterna luta entre quem tem os votos para governar e quem tem a chave do cofre para deixar governar. Gleisi Hoffmann e Davi Alcolumbre são apenas os protagonistas do momento em um roteiro antigo e desgastado. Quem perde, invariavelmente, é a estabilidade política e econômica do país, refém de humores e interesses de curto prazo.
