Hugo Motta ataca PT: “Incoerência histórica”

Motta reage a Lindbergh sobre PL da Dosimetria, relembra voto contrário do PT na Constituinte e defende texto aprovado, clima esquenta no plenário com trocas de acusações.

Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, aparece com expressão séria vestindo terno azul e gravata verde, posicionado à frente do Brasão da República durante sessão legislativa.
Hugo Motta (Republicanos-PB) rebateu Lindbergh Farias e relembrou voto do PT contra a Constituição de 88. (Foto: Reprodução)

O clima no Congresso Nacional atingiu níveis críticos de tensão nesta quarta,feira (10), quando o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos,PB), protagonizou um duro confronto verbal com a bancada do Partido dos Trabalhadores (PT). Em resposta direta ao deputado Lindbergh Farias (PT,RJ), Motta acusou a legenda de “incoerência histórica” ao invocar a memória de Ulysses Guimarães para criticar a aprovação do Projeto de Lei da Dosimetria. A troca de farpas ocorreu horas após a Casa aprovar, em votação conturbada durante a madrugada, o texto que reduz penas para condenados pelos atos de 8 de janeiro, medida que pode beneficiar politicamente o ex,presidente Jair Bolsonaro. O episódio marca um rompimento simbólico na relação institucional entre o comando da Câmara e a base governista.

A discussão começou quando Lindbergh Farias ocupou a tribuna para criticar a condução de Motta na votação do projeto. O petista afirmou que o atual presidente da Câmara “traía” o legado de Ulysses Guimarães — ícone da redemocratização e do MDB, antigo partido de Motta — ao facilitar pautas que, na visão da esquerda, favorecem o golpismo. Lindbergh relembrou o discurso de posse de Motta em fevereiro, onde ele citou a célebre frase de Ulysses: “Tenho ódio e nojo à ditadura”. Para o líder petista, a prática legislativa de Motta estaria em desalinho com suas palavras solenes, configurando uma afronta à defesa da democracia que Ulysses representava.

Hugo Motta, visivelmente incomodado, não deixou a crítica sem resposta. Quebrando o protocolo de distanciamento habitual da presidência, ele utilizou o microfone para desqualificar a moralidade do PT em citar o “Senhor Diretas”. Motta relembrou que, em 1988, a bancada do PT votou contra o texto final da Constituição Federal, embora tenha assinado a carta posteriormente. Segundo ele, é contraditório que o partido que rejeitou a Carta Magna no momento de sua criação queira agora se colocar como o único herdeiro e guardião dos valores defendidos por Ulysses Guimarães. A declaração gerou tumulto imediato no plenário, com gritos de apoio da oposição e protestos da base aliada.

Embate Legislativo expõe fraturas no Congresso

Este Embate Legislativo não é um evento isolado, mas o ápice de uma deterioração progressiva nas relações entre o Legislativo e o Planalto. A aprovação do PL da Dosimetria, articulada pelo “Centrão” sob a liderança de Motta, foi vista pelo governo como uma derrota estratégica. O texto, que altera o Código Penal para reduzir penas em crimes contra o Estado Democrático de Direito, foi pautado de surpresa, pegando a articulação política do governo Lula desprevenida. A reação virulenta de Lindbergh e a contraofensiva histórica de Motta demonstram que a “lua de mel” institucional, se é que existiu, acabou definitivamente.

Ainda dentro deste Embate Legislativo, é importante notar a estratégia de Hugo Motta de se desvencilhar da imagem de “aliado automático” do governo, algo que seus antecessores tentaram equilibrar. Ao trazer à tona o voto do PT em 1988, Motta acena para a base conservadora e para o eleitorado antipetista, reforçando sua autonomia. Ele argumentou que a democracia se faz com o respeito às maiorias formadas no plenário, e que a aprovação do projeto seguiu o rito regimental, independentemente do mérito ideológico que o PT contesta.

Por outro lado, a bancada petista vê no Embate Legislativo uma tentativa de reescrever a história recente para justificar acordos políticos pragmáticos. Para os governistas, o voto de 1988 foi uma posição crítica a pontos específicos da Constituição que não avançavam o suficiente em direitos sociais na época, mas o partido sempre defendeu a democracia. A acusação de Motta, portanto, é lida como uma cortina de fumaça para desviar o foco do conteúdo do projeto aprovado: a suavização de punições para quem atentou contra as instituições.

Disputa de Narrativas sobre o legado democrático

A Disputa de Narrativas em torno da figura de Ulysses Guimarães revela como os símbolos da Nova República continuam em disputa. Ulysses, que presidiu a Assembleia Nacional Constituinte, é frequentemente evocado tanto pela esquerda quanto pela direita moderada para validar posições. Quando Lindbergh acusa Motta de trair esse legado, e Motta devolve acusando o PT de nunca tê-lo respeitado na origem, ambos tentam capturar a legitimidade moral do “Pai da Constituição” para suas bases. No cenário atual de polarização, a memória de Ulysses serve como uma arma retórica poderosa.

Nessa Disputa de Narrativas, o PT tenta colar em Hugo Motta a pecha de facilitador da extrema-direita. A narrativa governista é a de que, ao pautar a redução de penas para os envolvidos no 8 de janeiro, o presidente da Câmara normaliza o ataque às instituições que Ulysses ajudou a solidificar. Lindbergh enfatizou que “ódio e nojo à ditadura” não combina com anistia ou alívio penal para golpistas, tentando expor uma contradição ética na postura do presidente da Casa.

Contudo, Motta venceu a rodada na Disputa de Narrativas junto à oposição ao trazer um fato concreto e documentado: a rejeição formal do PT ao texto base de 88. Isso permite que a direita e o centro argumentem que o compromisso do PT com a Constituição é “de conveniência”. O presidente da Câmara reforçou que a verdadeira democracia aceita a alternância de poder e a revisão de leis, inclusive as penais, e que o Parlamento tem soberania para legislar sobre dosimetria de penas sem que isso seja taxado de golpismo.

Resgate Histórico como arma política

O Resgate Histórico feito por Hugo Motta refere-se ao dia 22 de setembro de 1988. Naquela data, a bancada do PT, liderada por Lula, votou contra o texto final da Constituição. A justificativa na época era que o texto era conservador na reforma agrária e na ordem econômica e não garantia direitos trabalhistas suficientes. No entanto, os deputados petistas assinaram a Constituição promulgada em 5 de outubro. Motta utilizou esse detalhe técnico — o voto “não” no plenário — para desconstruir a autoridade moral do PT no debate atual.

Esse Resgate Histórico serve para lembrar que as posições políticas são fluidas. O PT, que nasceu como um partido de contestação radical ao sistema, hoje é o principal defensor do “sistema” institucional contra os ataques da extrema-direita. Motta, vindo de uma linhagem política tradicional do MDB (embora hoje no Republicanos), usa essa história para dizer que a institucionalidade não pertence a um único partido. A ironia apontada por ele é que os críticos de hoje foram os opositores do pacto fundante da democracia brasileira ontem.

Além disso, o Resgate Histórico ilumina a complexidade das alianças atuais. O MDB de Ulysses hoje compõe a base de Lula, mas a memória de Ulysses foi usada para atacar o governo. Isso mostra como a história política brasileira é repleta de nuances que, quando trazidas para o calor do momento, servem para inflamar ânimos e consolidar posições antagônicas, muitas vezes simplificando contextos complexos em prol de um “lacne” nas redes sociais e no plenário.

Tensão no Plenário reflete instabilidade futura

A Tensão no Plenário durante a sessão de hoje é um prenúncio de dias difíceis para a governabilidade em 2026. A aprovação do projeto de redução de penas não foi apenas uma votação; foi uma demonstração de força de uma maioria conservadora que não se sente constrangida pelo governo federal. A troca de ofensas entre o presidente da Casa e líderes partidários sugere que a pauta de costumes e a pauta política de vingança/revisão do 8 de janeiro continuarão travando o Congresso.

A Tensão no Plenário também foi alimentada por episódios paralelos, como a confusão envolvendo o deputado Glauber Braga (PSOL) e a polícia legislativa, citada por Lindbergh como exemplo de autoritarismo da gestão Motta. A esquerda reclama de “dois pesos e duas medidas”: tolerância com pautas bolsonaristas e rigor excessivo com protestos da esquerda. Motta, por sua vez, promete manter a ordem e a soberania do plenário, doa a quem doer, sinalizando que não aceitará o que chama de “tutela moral” da esquerda.

Por fim, a Tensão no Plenário deixa claro que a figura de Hugo Motta não será a de um presidente da Câmara passivo. Ao entrar no debate ideológico e usar a história contra o partido do presidente da República, ele se posiciona como um ator político autônomo, disposto a comprar brigas grandes. Para o governo, resta o desafio de reconstruir pontes ou se preparar para um Legislativo cada vez mais hostil, onde o passado será constantemente usado como arma contra o presente.

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários