INSS: PF apura propina e cita deputado do Republicanos

A PF identificou pagamentos de propina a diretores do INSS e investiga repasses a políticos, incluindo o deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG), citado em planilhas do esquema.

X
Facebook
WhatsApp
Telegram
Threads
Homem de terno cinza fala ao microfone em plenário, gesticulando com as mãos diante de bandeiras ao fundo.
PF identifica pagamentos de propina no INSS e aponta que o deputado Euclydes Pettersen, do Republicanos, teria recebido repasses ilícitos.

A investigação da Polícia Federal sobre fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) revelou o que autoridades classificaram como um dos maiores esquemas de desvio de recursos envolvendo benefícios previdenciários. Com origem em 2019 e consolidado ao longo dos anos seguintes, o esquema envolvia entidades conveniadas, servidores de alto escalão e intermediários responsáveis por operacionalizar os repasses ilícitos.

A PF aponta que as fraudes se concentravam na concessão e manutenção de descontos em folha de pagamento de aposentados e pensionistas, desviando sistematicamente recursos de beneficiários. A estimativa inicial de danos chega a R$ 6,3 bilhões, com propinas pagas para garantir a continuidade do modelo.

Dentro desse cenário, a investigação passou a apontar não apenas agentes internos do INSS, mas também parlamentares, entre eles o deputado federal Euclydes Pettersen, do Republicanos-MG, citado diretamente em planilhas apreendidas durante a operação.

A mecânica do esquema: como o desvio ocorria

O núcleo operacional das fraudes envolvia associações e confederações que firmavam convênios com o INSS para prestação de serviços ou oferta de produtos a segurados. A PF identificou que essas entidades impunham descontos irregulares em benefício dos aposentados, sem autorização direta ou clara, cobrando taxas por serviços inexistentes ou desnecessários.

Em contrapartida, diretores do INSS teriam recebido pagamentos regulares para manter os convênios ativos, bloquear fiscalizações internas e permitir a expansão das fraudes. Segundo a PF, a estrutura funcionava em camadas hierárquicas: intermediários operavam contratos, diretores federais liberavam lotes de pagamentos e, em um nível mais acima, agentes políticos ofereciam proteção institucional.

Diretores do INSS receberam milhões em propinas, diz PF

Os indícios mais robustos apareceram na análise de documentos apreendidos em fases anteriores da operação. A PF identificou que três ex-diretores do INSS receberam, juntos, mais de R$ 17 milhões em propinas. Entre eles, estão:

  • André Paulo Félix Fidelis, ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão;
  • Alexandre Guimarães, ex-diretor de Governança, Planejamento e Inovação;
  • Outro ex-dirigente, cujo nome permanece sob sigilo judicial.

Para os investigadores, o conjunto probatório evidencia um fluxo contínuo de pagamentos destinados a garantir que o esquema permanecesse ativo sem interferência administrativa.

A entrada de políticos no radar da PF

A partir das quebras de sigilo e apreensão de planilhas internas das entidades envolvidas, a PF passou a investigar a participação de parlamentares, suspeitos de receber pagamentos periódicos em troca de “blindagem política” ao esquema.

Uma das planilhas continha apelidos e valores que, após cruzamento com dados de contas bancárias e agendas institucionais, teriam apontado para cerca de 15 parlamentares, de diferentes partidos, como beneficiários de repasses mensais que chegavam a R$ 50 mil.

Nem todos os nomes foram oficialmente divulgados, mas um deles sim: Euclydes Pettersen, do Republicanos-MG, apontado como um dos principais destinatários dos recursos pagos por uma confederação investigada.

Euclydes Pettersen: valores, apelidos e indícios

Segundo a PF, Pettersen teria recebido ao menos R$ 14,7 milhões em pagamentos vinculados ao esquema. O nome dele aparece em documentos internos sob o codinome “Herói E”. Os investigadores afirmam que o valor recebido coincide com liberações de lotes de pagamentos realizadas pelo INSS para uma confederação que intermediava os repasses ilícitos.

A documentação apreendida inclui planilhas digitais, arquivos “caixa-dois” e registros manuais contendo:

  • datas de pagamento;
  • montantes repassados;
  • vinculação com liberações oficiais;
  • códigos correspondentes a agentes políticos.

A PF afirma que Pettersen teria sido um dos principais beneficiários na esfera política, com função de garantir que o esquema não fosse alvo de investigações internas, auditorias ou cortes de convênio.

O papel das entidades associativas e o elo com parlamentares

A investigação detectou que associações ligadas ao agronegócio familiar e a servidores públicos exerciam papel ativo no núcleo de pagamentos. A principal delas, a CONAFER, aparece como uma das que mais receberam recursos provenientes do INSS para projetos e convênios.

Os policiais indicam que havia um “pacto de manutenção”: entidades fraudavam beneficiários, repassavam parte dos recursos para diretores do INSS e outra parte para políticos, que em troca ajudavam a sustentar a rede institucional, impedindo cortes ou denúncias.

A PF aponta que, em diversos momentos, parlamentares teriam intermediado reuniões, ajudado a barrar audiências de auditoria e influenciado a manutenção de diretores alinhados ao esquema.

Posicionamento de Euclydes Pettersen

Em manifestação às autoridades, Pettersen negou qualquer envolvimento e afirmou apoiar integralmente o trabalho da PF. Disse ainda que está “à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários” e que interpreta sua citação no inquérito como “um equívoco a ser corrigido”.

Ele também negou ter recebido qualquer valor irregular e afirmou que sua relação com entidades do setor rural é legítima e transparente.

Partidos citados pela investigação

Embora apenas alguns nomes tenham sido detalhados, a PF confirmou que parlamentares de diversos partidos, incluindo siglas de base e oposição, aparecem em anotações internas das entidades investigadas.

Entre os partidos mencionados ao longo das apurações estão:

  • Republicanos (caso do deputado Pettersen);
  • PDT (citado genericamente em relatórios preliminares);
  • Outros partidos permanecem em sigilo, a pedido da Procuradoria-Geral da República, até conclusão das diligências.

André Mendonça acompanha caso no STF

Por envolver parlamentares com foro privilegiado, parte relevante das investigações tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro André Mendonça, que já autorizou buscas, quebras de sigilo e novas fases da operação.

Para fontes da PF, o avanço da investigação depende agora do cruzamento final entre registros internos do INSS, planilhas apreendidas e depoimentos dos envolvidos.

O impacto político e administrativo

O caso ganhou dimensão nacional por escancarar falhas graves de governança no INSS e por atingir figuras com mandato parlamentar. O envolvimento de políticos amplia a repercussão institucional e aciona mecanismos de responsabilização mais complexos.

A revelação de repasses milionários impacta:

  • a credibilidade do INSS;
  • a imagem de partidos citados;
  • a confiança do beneficiário no sistema previdenciário;
  • a estabilidade de convênios com entidades externas.

Próximos passos e expectativa de desdobramentos

A PF segue analisando dezenas de HDs, celulares e cadernos apreendidos. Novos nomes podem surgir à medida que a perícia avance. O Ministério Público avalia se há elementos suficientes para denúncia formal contra investigados.

As autoridades consideram:

  • novas quebras de sigilo;
  • eventual pedido de prisão preventiva;
  • denúncias contra diretores e parlamentares;
  • ampliação da investigação para empresas privadas.

O caso revela um complexo sistema de corrupção que permeava todas as camadas do INSS, envolvendo diretores, intermediários e, como apontam as planilhas, parlamentares. O nome de Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) torna-se o mais destacado até agora, com valores milionários atribuídos a ele.

A PF trata o caso como prioridade devido ao impacto direto sobre beneficiários e aos indícios de que uma rede estruturada de proteção política sustentou o esquema por anos.

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários