A decisão diplomática do Brasil de se abster na votação de uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada nesta quarta-feira, 3 de dezembro de 2025, sobre o retorno urgente de crianças ucranianas levadas à força para a Rússia, rapidamente polarizou o cenário internacional e o debate político interno. A resolução, que foi aprovada com 91 votos a favor, 12 contra e 57 abstenções, exige o regresso imediato e incondicional de todos os menores de 18 anos removidos de suas casas durante o conflito, um ato classificado pelo Tribunal Penal Internacional como um crime de guerra, segundo apurações do Poder360. Este voto brasileiro reforça a linha de equidistância do governo Lula no conflito, mas gera questionamentos sobre a priorização dos direitos humanos em detrimento da busca por uma posição de mediador global, o que injeta seriedade à discussão.
O texto aprovado na Assembleia Geral das Nações Unidas é taxativo ao condenar as “práticas de remoção forçada, deportação, separação das suas famílias e responsáveis legais” e a “doutrinação de crianças ucranianas”, segundo o Observador. Portanto, a abstenção brasileira, ao evitar a condenação direta da Rússia, alinha-se a outros membros dos BRICS que buscam não antagonizar Moscou, como a China e a Índia, que também se abstiveram, em 4 de dezembro de 2025. Além disso, o governo brasileiro justificou sua escolha, apesar de reconhecer o crime, afirmando que o tom do texto da resolução não favorece os esforços de mediação, pois não contribui para fomentar o diálogo entre as partes beligerantes, uma tese que é recebida com ceticismo por analistas de política externa.
Posicionamento do País em Votação na ONU
O posicionamento do país em votação na ONU sobre o tema das crianças ucranianas é o mais recente de uma série de abstenções em temas delicados que envolvem a Rússia e o Irã, o que sugere uma coerência na política externa de não alinhamento automático com potências ocidentais. Contudo, o Brasil reiterou o seu “firme apoio à soberania e integridade territorial da Ucrânia”, bem como a importância de repatriar crianças deportadas ou transferidas no contexto deste conflito, conforme nota divulgada pela delegação, segundo a Revista Oeste. Dessa forma, o Itamaraty tenta equilibrar a defesa de princípios democráticos com a manutenção de canais abertos com todos os atores, uma estratégia diplomática complexa e arriscada que busca um papel de liderança em um mundo multipolar.
O argumento de que o texto da resolução seria “agressivo” ou “não dialógico” é o cerne da justificativa brasileira para a abstenção Brasil ONU crianças, um movimento que já havia sido adotado pelo país em outras resoluções sobre o conflito, como em votações que pediam o inquérito sobre crimes de guerra na Ucrânia, em abril de 2024. A delegação brasileira defendeu que qualquer avanço no tema, particularmente no que tange o retorno das crianças, exige um ambiente propício ao diálogo e à negociação, o que, na visão de Brasília, não seria alcançado com uma condenação unilateral. Assim sendo, a preocupação em não fechar portas para uma eventual mediação é colocada acima da emissão de um voto mais incisivo sobre a violação de direitos humanos de menores, um cálculo de custo-benefício diplomático.
Postura Brasileira no Fórum Global
A postura brasileira no fórum global gerou fortes reações de países ocidentais e de parte da imprensa internacional, que veem a abstenção como um enfraquecimento da causa humanitária e um sinal de complacência com as ações da Rússia, um país cujo presidente, Vladimir Putin, e a Comissária de Direitos da Criança, Maria Lvova-Belova, foram indiciados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) justamente pelo crime de deportação ilegal de crianças. Segundo o relatório da Escola de Saúde Pública de Yale, apoiado pelo Departamento de Estado dos EUA, cerca de 20 mil crianças ucranianas foram levadas para regiões controladas por Moscou, muitas delas para serem colocadas em famílias russas, o que configura a gravidade da situação. Em suma, o dilema brasileiro reside em como ser um mediador crível sem se omitir em questões de direito internacional humanitário.
A delegação da Ucrânia na ONU e seus aliados têm expressado desapontamento com a posição Brasil na votação de crianças ucranianas, argumentando que o momento exige clareza e defesa incondicional dos direitos dos menores, conforme reportagens da CNN. O Artigo 49º da Convenção de Genebra, reiterado pela presidente da Assembleia Geral da ONU, Annalena Baerbock, é claro ao proibir a remoção forçada ou a deportação de crianças de territórios ocupados, o que confere à resolução um forte respaldo legal e moral. Visto que a Rússia continua com a prática e a localização de um grande número dessas crianças permanece desconhecida, a urgência de uma resposta internacional contundente é inegável, e o Brasil, ao se abster, opta por um caminho de cautela que desagrada a ambos os lados do conflito.
Decisão do Brasil no Cenário da ONU
A decisão do Brasil no cenário da ONU de optar pela abstenção, em vez de um voto favorável à resolução, tem sido defendida pelo Itamaraty como parte de uma diplomacia “ativa e altiva” que busca atuar como ponte entre os blocos, evitando alinhamentos automáticos que possam minar sua capacidade de diálogo. Afinal, o governo brasileiro acredita que o papel de mediador exige neutralidade, um ponto de vista que é duramente criticado por analistas que apontam a diferença entre neutralidade política e neutralidade moral perante crimes de guerra. Consequentemente, a abstenção, embora tecnicamente justificada pela preocupação com o “tom do texto”, é vista na prática como um apoio velado à Rússia e uma quebra no histórico brasileiro de defesa incondicional dos direitos humanos em fóruns multilaterais. A reavaliação dessa estratégia diplomática é urgente.
