Scott Galloway afirma que criamos homens assexuados e sós

Professor da NYU analisa dados alarmantes sobre solidão, queda na libido e isolamento de jovens, alertando para impacto devastador no tecido social futuro e na economia global.

Retrato em close-up de Scott Galloway, um homem careca com barba grisalha, olhando intensamente para a câmera. O fundo é um painel de espuma acústica escuro iluminado com luz azul e roxa.
Scott Galloway, professor da NYU e autor, cujos comentários recentes sobre a "crise da masculinidade" e o surgimento de uma geração de "homens assexuados" geraram amplo debate.

O renomado professor da Stern School of Business da NYU, Scott Galloway, lançou um alerta perturbador que reverbera nas redes sociais e nos círculos acadêmicos nesta semana. Conhecido por suas análises ácidas sobre o mercado de tecnologia e comportamento, Galloway tocou em uma ferida aberta da sociedade contemporânea ao diagnosticar o surgimento de uma nova classe demográfica que ele classifica como perigosa para a estabilidade social. Segundo o especialista, estamos testemunhando a evolução de uma “nova raça de homens assexuados e antissociais”, um fenômeno que combina fracasso econômico, isolamento digital e uma incapacidade profunda de formar relacionamentos reais.

A declaração, feita em meio a debates sobre o futuro da força de trabalho e da natalidade, aponta para uma tempestade perfeita que atinge desproporcionalmente os jovens do sexo masculino. Galloway argumenta que o contrato social tradicional, onde o homem provia e, em troca, obtinha status e parceiras, foi rompido sem que nada fosse colocado no lugar. O resultado é uma geração que, sentindo,se rejeitada pelo mercado de trabalho e pelo “mercado” de relacionamentos, opta por se retirar do convívio social, refugiando,se em videogames, pornografia e fóruns online que muitas vezes radicalizam sua frustração.

Declínio viril segundo professor

Para entender a crise masculinidade Scott Galloway, é necessário olhar para os números brutais apresentados pelo professor. Ele destaca que, pela primeira vez na história moderna, os homens estão ficando para trás na educação e na renda em comparação com suas contrapartes femininas na mesma faixa etária. Nos Estados Unidos e em partes da Europa, as mulheres já representam cerca de 60% dos formandos em universidades. Embora o avanço feminino seja uma conquista social inegável, o descompasso criou um “abismo de acasalamento”. Galloway explica que as mulheres tendem a buscar parceiros com nível educacional e econômico igual ou superior ao delas (“hipergamia”), enquanto o pool de homens “elegíveis” segundo esses critérios está encolhendo drasticamente.

Essa dinâmica cria um cenário de “desigualdade de acasalamento” semelhante à desigualdade de renda. Um pequeno percentual de homens no topo da hierarquia social e econômica atrai a grande maioria da atenção feminina nos aplicativos de namoro, enquanto a base da pirâmide masculina recebe pouca ou nenhuma interação. Galloway compara o Tinder e o Hinge a economias excludentes, onde 50 homens competem pela atenção de uma mulher, e a maioria sai de mãos vazias. A consequência direta é o desengajamento: diante da rejeição constante, muitos jovens simplesmente desistem de tentar, atrofiando suas habilidades sociais e sua libido no processo.

Colapso do gênero masculino

O aspecto “assexuado” mencionado por Galloway não se refere a uma orientação sexual, mas a uma circunstância imposta pelo ambiente. Dados recentes indicam que o número de homens com menos de 30 anos que não tiveram relações sexuais no último ano triplicou na última década. Esse colapso do gênero masculino na esfera íntima tem ramificações profundas. A falta de intimidade e conexão física não gera apenas frustração pessoal, mas remove um dos principais incentivos históricos para o comportamento pró,social masculino: a busca por constituir família e ser um membro produtivo da comunidade para atrair uma parceira.

Sem a perspectiva de relacionamentos, a ambição profissional e educacional também despenca. Galloway observa que o “mundo virtual” se tornou um substituto sedutor e perigoso. Os algoritmos de redes sociais, a indústria de jogos e a pornografia de alta velocidade oferecem doses baratas e imediatas de dopamina que o mundo real, com suas rejeições e dificuldades, não consegue igualar. O jovem moderno está, segundo a análise, sendo “pacificado” por telas, transformando,se em um ser passivo, que consome conteúdo mas não produz, não interage e não constrói laços comunitários reais.

Desafios do homem contemporâneo

Outro ponto nevrálgico abordado é a ausência de modelos positivos. Os desafios do homem contemporâneo passam pela falta de referências de como ser um homem saudável no século XXI. Enquanto o debate público foca corretamente na toxicidade de certos comportamentos masculinos, houve um vácuo na oferta de narrativas inspiradoras. Galloway critica tanto a esquerda, que muitas vezes vilaniza a masculinidade como um todo, quanto a direita, que oferece caricaturas retrógradas de “machos alfa” que não se sustentam na realidade econômica atual.

Nesse vácuo, figuras controversas da internet ganham tração, vendendo soluções fáceis e culpando as mulheres ou as minorias pelos fracassos dos homens jovens. Galloway alerta que essa radicalização é o subproduto direto da solidão. Homens solitários e sem propósito são historicamente a base de instabilidade política, violência e extremismo. A “asocialidade” não é apenas um problema de saúde mental individual, mas uma questão de segurança pública. Quando um jovem sente que a sociedade não lhe oferece nada, ele perde o interesse em preservar essa sociedade.

Ruptura social dos garotos

A solução, segundo a visão de Galloway, não é simples e exige uma reestruturação de como educamos e integramos os meninos. Ele sugere investimentos maciços em escolas vocacionais e programas de mentoria que valorizem habilidades onde os homens tradicionalmente se destacam ou têm interesse, mas que foram desvalorizadas pela economia do conhecimento puramente acadêmico. Além disso, é necessário um debate honesto sobre o impacto da tecnologia no desenvolvimento social. A ruptura social dos garotos começa cedo, quando o tempo de tela substitui o tempo de brincadeira física e interação face a face, atrofiando a inteligência emocional necessária para navegar relacionamentos complexos na vida adulta.

Galloway conclui que, se não enfrentarmos essa crise de frente, estaremos criando uma casta permanente de cidadãos de segunda classe, desconectados, improdutivos e ressentidos. A “nova raça” de homens assexuados e antissociais não é uma evolução natural, mas uma falha sistêmica de adaptação às rápidas mudanças econômicas e culturais. O alerta do professor é claro: a saúde de uma sociedade pode ser medida pela saúde de seus jovens homens, e o diagnóstico atual é de falência múltipla de órgãos.

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