Uma crise sanitária e diplomática interna explodiu na Espanha nesta semana de dezembro de 2025. O governo regional da Catalunha anunciou que abrirá uma investigação rigorosa sobre um centro de pesquisa localizado nos arredores de Barcelona. A decisão ocorre após o Ministério da Agricultura da Espanha sugerir, em um relatório explosivo, que o recente surto de Peste Suína Africana (PSA) detectado em javalis selvagens pode ter origem em um vazamento acidental de laboratório. A declaração de Madrid contradiz a hipótese inicial das autoridades locais, que culpavam a ingestão de alimentos contaminados importados, e coloca em xeque a biossegurança de uma das instituições mais respeitadas da Europa.

Nesse sentido, a tensão aumentou quando o sequenciamento genético do vírus revelou dados preocupantes. O laboratório de referência em Madrid identificou que a cepa encontrada nos animais mortos é “muito similar” à variante “Geórgia 2007”, amplamente utilizada em ambientes controlados para o desenvolvimento de vacinas. Essa coincidência genética levou o Ministério a declarar que “não se pode descartar” que a origem da infecção esteja em uma instalação de contenção biológica, apontando indiretamente para a proximidade geográfica dos casos com centros de alta tecnologia.
Além disso, a repercussão econômica foi imediata e severa. A Espanha é o maior produtor de carne suína da União Europeia e um dos maiores exportadores do mundo, com um mercado avaliado em 8,8 bilhões de euros anuais. A simples suspeita de um surto ativo já provocou o bloqueio de cerca de um terço dos certificados de exportação do país para mercados fora da UE, como China e Taiwan. A possibilidade de que o vírus tenha escapado por falha humana, e não por causas naturais, adiciona uma camada de responsabilidade legal e política que pode custar caro à reputação científica espanhola.
Centro de estudos biológicos
O foco das suspeitas recai sobre o IRTA-CReSA (Centro de Pesquisa em Saúde Animal), situado em Bellaterra, a poucos quilômetros de onde os javalis infectados foram encontrados. A instituição é conhecida mundialmente por seus avanços no estudo de virologia e vinha trabalhando ativamente na busca por uma vacina eficaz contra a peste suína. Diante das acusações veladas vindas da capital, a direção do centro reagiu com veemência, classificando suas instalações como um “bunker” de onde “nada vivo sai”, exceto os pesquisadores.
Por conseguinte, a equipe do IRTA-CReSA argumenta que seus protocolos de segurança são de nível máximo e que todas as amostras utilizadas são destruídas termicamente. Fontes ligadas ao instituto afirmam que a teoria do vazamento alimenta especulações perigosas nas redes sociais e desvia o foco da verdadeira causa provável: a negligência no descarte de resíduos alimentares. No entanto, a pressão exercida pelo relatório do Ministério forçou o governo catalão a agir, solicitando uma auditoria completa para limpar o nome da instituição ou punir eventuais culpados.
Entretanto, o histórico de acidentes em laboratórios de alta segurança ao redor do mundo, embora raro, impede que a hipótese seja descartada de imediato sem uma apuração forense. O ministro da agricultura da Catalunha, Òscar Ordeig, admitiu que “faltam informações” para confirmar a teoria do vazamento, mas garantiu transparência total na investigação. A prioridade agora é rastrear cada passo dos procedimentos realizados nos últimos meses para identificar qualquer brecha que pudesse ter permitido a saída do patógeno.
Unidade de análise viral
A análise técnica do vírus encontrou características que o diferenciam das cepas que circulam atualmente no leste europeu, de onde se acreditava que o surto poderia ter vindo via transporte rodoviário. A cepa “Geórgia 2007” é, de fato, a base para muitas pesquisas experimentais, o que fortalece a tese de Madrid de que a origem não seria animal ou comercial, mas sim científica. Se confirmado, este seria um caso sem precedentes recentes na Europa, alterando todos os protocolos de biossegurança vigentes para o manejo de vírus animais letais.
Outrossim, a detecção de 13 javalis positivos e dezenas de suspeitos em uma área de exclusão de 6 quilômetros sugere uma disseminação local rápida. A unidade viral responsável pelo surto demonstrou alta letalidade, típica da Peste Suína Africana, que causa hemorragias internas massivas nos suídeos. O medo das autoridades é que, se a cepa for de fato uma variante de laboratório, ela possa ter comportamentos imprevisíveis ou resistência diferente no ambiente selvagem em comparação com as variantes naturais.
Consequentemente, o governo catalão mobilizou especialistas do exército e guardas florestais para conter os animais na serra de Collserola, evitando que eles migrem para zonas de produção de porcos domésticos. A estratégia de “terra arrasada” na zona de contágio visa eliminar o vetor antes que ele encontre fazendas comerciais, o que seria catastrófico. A investigação na unidade de análise viral corre em paralelo a esse esforço de campo, transformando a região em um cenário de operação de guerra biológica.

Instalação de pesquisa científica
A disputa de narrativas entre o governo central e a administração regional também reflete tensões políticas históricas. Enquanto Madrid pede cautela e aponta para a ciência, a Generalitat da Catalunha insiste, inicialmente, na tese do “sanduíche contaminado” trazido por caminhoneiros de outros países. Essa hipótese baseia-se no fato de que o vírus sobrevive por meses em carnes processadas e anos em carcaças congeladas. A mudança de postura para aceitar a investigação do laboratório sinaliza que as evidências genéticas apresentadas por Madrid são fortes demais para serem ignoradas.
Ademais, a instalação científica em questão passou por uma revisão de protocolos nos últimos três meses, segundo fontes internas, e nenhum incidente foi reportado. Porém, a auditoria externa deverá verificar registros de câmeras, acessos de funcionários e sistemas de tratamento de ar e efluentes. A comunidade científica internacional observa o caso com apreensão, pois um vazamento comprovado poderia levar a um endurecimento global das regras para pesquisas com patógenos de alto risco.
Dessa forma, a credibilidade da ciência espanhola está na mesa. Se ficar provado que o surto foi natural, o Ministério da Agricultura terá que se explicar por levantar suspeitas infundadas. Se for comprovado o vazamento, as consequências para a pesquisa de vacinas na Europa serão devastadoras, possivelmente paralisando estudos vitais por anos devido ao medo e à burocracia que se seguirão.
Complexo de testes patogênicos
Por fim, o impacto na vida cotidiana dos catalães e na economia rural é palpável. O parque natural de Collserola foi fechado para atividades de lazer, e caçadores foram convocados para auxiliar no controle populacional dos javalis. A presença de um patógeno letal tão perto de uma metrópole como Barcelona, somada à suspeita de origem em um complexo de testes, gera um clima de desconfiança pública nas instituições.
Em suma, a investigação sobre o suposto vazamento no centro de pesquisa catalão é um divisor de águas. Ela determinará não apenas a responsabilidade pelo retorno da peste suína à Espanha após três décadas, mas também o futuro da biossegurança na pesquisa animal. Enquanto os cientistas buscam respostas nos microscópios e sequenciadores, a indústria suína prende a respiração, torcendo para que a contenção funcione e o prejuízo bilionário seja estancado.
