Um estudo publicado na edição de dezembro da revista The Lancet Infectious Diseases revelou dados preocupantes. A dose única da vacina bivalente contra HPV não atinge mesma proteção que três doses. Especificamente, a diferença aparece no subtipo 16 do vírus em meninas de 9 a 14 anos. Portanto, essa cepa está ligada à maioria dos casos de câncer de colo de útero.
Pesquisadores compararam aplicação de dose única da vacina bivalente em meninas jovens. Paralelamente, analisaram três doses da vacina quadrivalente em mulheres adultas de 18 a 25 anos. Consequentemente, os resultados mostraram proteção adequada apenas para o subtipo 18. Entretanto, para o subtipo 16, a concentração de anticorpos ficou pela metade.
Estudo avalia eficácia de diferentes esquemas vacinais
A pesquisa envolveu 539 meninas de 9 a 14 anos sem infecção prévia pelo subtipo 16. Igualmente, 366 mulheres de 18 a 25 anos participaram do grupo comparativo. Ademais, outros 523 meninas e 373 mulheres nunca infectadas pelo subtipo 18 integraram análise paralela. Portanto, amostra significativa permitiu comparações estatísticas robustas.
Amostras de sangue foram colhidas antes da vacinação e repetidas periodicamente. Para meninas, coletas ocorreram aos 12, 24 e 36 meses após dose única. Similarmente, mulheres forneceram amostras aos 2, 6, 12, 24 e 36 meses após primeira dose. Consequentemente, acompanhamento prolongado revelou padrões de resposta imunológica ao longo do tempo.
O critério de não inferioridade estabelecia concentração média de anticorpos igual ou superior a 0,67. Para o subtipo 18, amostras aos 24 e 36 meses após dose única atingiram valores de 0,9 e 1,11. Portanto, proteção mostrou-se igual ou superior ao esquema triplo. Entretanto, resultados diferentes surgiram para o subtipo 16 do vírus.
Subtipo 16 apresenta concentração menor de anticorpos
O subtipo 16 representa principal ameaça por associação direta com câncer cervical. Aos 24 meses após vacinação única, concentração de anticorpos atingiu apenas 0,42. Similarmente, aos 36 meses o valor alcançou 0,5, metade da proteção observada com três doses. Consequentemente, dose única não atingiu critério de não inferioridade estabelecido pelos pesquisadores.
Apesar disso, taxa de soroconversão aos 36 meses permaneceu elevada em ambos grupos. Meninas vacinadas com dose única apresentaram 98,9% de soroconversão. Comparativamente, mulheres com três doses atingiram 96% de resposta imunológica. Portanto, ambos esquemas produziram forte resposta imune contra o vírus.
Essa aparente contradição intriga especialistas e demanda estudos adicionais. A soroconversão indica presença de anticorpos específicos contra o vírus no organismo. Entretanto, quantidade ou concentração desses anticorpos difere significativamente entre os grupos. Consequentemente, presença de anticorpos não garante necessariamente proteção completa.
Nova análise compara esquemas com mesma vacina bivalente
Após término do ensaio clínico principal, pesquisadores conduziram análise complementar. Amostras de meninas vacinadas pelo programa nacional da Costa Rica foram obtidas. Paralelamente, compararam com mulheres de 18 a 25 anos que receberam bivalente em dose única. Portanto, essa comparação utilizou mesmo imunizante em ambos grupos.
Resultados mostraram concentrações de anticorpos praticamente iguais para ambos subtipos. Meninas e mulheres apresentaram respostas imunológicas semelhantes após dose única da bivalente. Consequentemente, isso sugere que tipo de vacina pode influenciar significativamente resposta imune. Além disso, idade no momento da vacinação potencialmente afeta produção de anticorpos.
Contudo, hipótese não explica fenômeno observado com o subtipo 18 isoladamente. Meninas vacinadas com dose única apresentaram proteção superior contra essa cepa. Comparativamente, mulheres com esquema completo tiveram concentrações menores de anticorpos. Portanto, mecanismos imunológicos envolvidos permanecem parcialmente inexplicados.
Ministério da Saúde adotou dose única em 2024
O Brasil implementou esquema de dose única em abril de 2024 para população geral. Crianças e adolescentes de 9 a 14 anos passaram a receber apenas uma aplicação. Anteriormente, protocolo estabelecia duas doses com intervalo de seis meses. Portanto, mudança visou aumentar adesão e simplificar logística vacinal.
A decisão seguiu recomendações da Organização Mundial da Saúde publicadas em 2022. Evidências científicas disponíveis então indicavam proteção equivalente com dose única. Ademais, estratégia permitiria ampliar cobertura vacinal em países com recursos limitados. Consequentemente, Brasil alinhou-se às diretrizes internacionais vigentes.
No último ano, Ministério da Saúde incluiu vacinação em dose única no Programa Nacional. Além de meninas e meninos de 9 a 14 anos, outros grupos recebem proteção. Pessoas vivendo com HIV de 15 a 45 anos mantêm esquema de três doses. Igualmente, usuários de profilaxia pré-exposição também recebem três aplicações.
Cobertura vacinal permanece abaixo da meta estabelecida
Dados de 2025 mostram cobertura parcial de 79,22% para meninas no público-alvo. Paralelamente, meninos atingiram apenas 66,11% de vacinação no estado do Rio Grande Sul. Portanto, índices permanecem distantes da meta de 90% recomendada pela OMS. Entretanto, números representam crescimento significativo comparado a anos anteriores.
Em 2024, cobertura vacinal entre meninas alcançou 86,70% no estado gaúcho. Similarmente, meninos atingiram 70,76% de imunização no mesmo período. Ademais, tendência ascendente mantém-se desde 2021 quando índices eram substancialmente inferiores. Consequentemente, políticas públicas de vacinação demonstram resultados positivos gradualmente.
Ministério da Saúde ampliou temporariamente vacinação para jovens de 15 a 19 anos. Estratégia de resgate visa imunizar aproximadamente 7 milhões de adolescentes não vacinados. Além disso, campanhas ocorrem em escolas, universidades, shoppings e ginásios esportivos. Portanto, facilitar acesso representa prioridade governamental atual.
Especialistas avaliam implicações dos novos resultados
Pesquisadores enfatizam necessidade de estudos clínicos adicionais mais robustos. Ensaios randomizados, duplo-cegos e controlados devem estabelecer limiar protetor adequado. Especificamente, determinar concentração de anticorpos suficiente para prevenir infecção pelo subtipo 16. Consequentemente, diretrizes nacionais poderiam ser ajustadas conforme evidências científicas.
Cientistas investigam se idade influencia significativamente resposta imunológica à vacinação. Mulheres mais velhas podem ter memória imunológica devido contato prévio com vírus. Estimativas indicam que 80% dos adultos sexualmente ativos encontram HPV ao longo da vida. Portanto, exposição anterior potencialmente modifica resposta à vacinação.
Autores sugerem que recomendação da OMS permanece válida provisoriamente. Principalmente em ambientes onde barreiras sanitárias impedem acesso completo à vacinação. Ademais, dose única representa avanço significativo comparado à ausência de proteção. Entretanto, pesquisas futuras devem guiar políticas nacionais de imunização.
HPV representa principal causa de câncer cervical
O papilomavírus humano constitui infecção sexualmente transmissível mais frequente mundialmente. Aproximadamente 25% a 50% da população feminina carrega o vírus. Paralelamente, 50% da população masculina apresenta infecção em algum momento. Consequentemente, transmissão generalizada mantém HPV como problema de saúde pública.
Anualmente, vírus causa 620 mil casos de câncer em mulheres globalmente. Igualmente, 70 mil casos afetam homens segundo dados da Organização Mundial. Câncer de colo de útero representa consequência mais devastadora da infecção persistente. Além disso, tumores de vulva, vagina, pênis, ânus e orofaringe associam-se ao HPV.
Vacina quadrivalente protege contra subtipos 6, 11, 16 e 18 do vírus. Os tipos 6 e 11 causam verrugas genitais mas apresentam baixo risco oncogênico. Contudo, subtipos 16 e 18 classificam-se como alto risco para desenvolvimento de câncer. Portanto, esses dois tipos respondem por aproximadamente 70% dos casos cervicais.
Transmissão ocorre por contato direto com pele ou mucosa
Diferentemente de outras infecções sexualmente transmissíveis, HPV não requer penetração. Transmissão acontece através de contato direto com qualquer região infectada da pele. Similarmente, mucosas genitais transmitem vírus mesmo sem relação sexual completa. Consequentemente, preservativos oferecem proteção parcial mas não eliminam completamente risco.
Maioria das pessoas infectadas não apresenta sintomas visíveis da infecção. Em diversos casos, vírus permanece latente por meses ou anos sem manifestações. Ademais, pode apresentar lesões subclínicas não detectáveis a olho nu. Portanto, diagnóstico frequentemente ocorre apenas através de exames específicos.
Diminuição da resistência imunológica pode desencadear multiplicação viral. Consequentemente, aparecimento de lesões associa-se a períodos de imunossupressão. Tratamento de verrugas genitais deve ser individualizado considerando extensão e localização. Além disso, recursos variam entre métodos químicos, cirúrgicos e imunoestimuladores.
Pesquisa brasileira demonstra efetividade vacinal
Estudo conduzido no Brasil entre 2018 e 2020 analisou prevalência nacional do HPV. Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre coordenou pesquisa em parceria com Ministério. Ademais, trabalho avaliou efetividade da vacina na prevenção de infecções. Consequentemente, dados brasileiros contribuem para compreensão global da imunização.
Entre indivíduos não vacinados, prevalência geral de HPV atingiu 58,6% da amostra. Paralelamente, taxa de infecção por tipos contidos na vacina quadrivalente diminuiu significativamente. Comparação entre primeira fase em 2016-2017 e segunda em 2021-2023 revelou queda substancial. Portanto, programa nacional de vacinação demonstra impacto positivo mensurável.
Experiência sueca acompanhou durante dez anos mais de 1 milhão de mulheres vacinadas. Mulheres não vacinadas apresentaram 538 casos de câncer cervical no período. Contudo, apenas 19 casos surgiram entre as vacinadas contra HPV. Consequentemente, redução dramática comprova eficácia e segurança do imunizante a longo prazo.
Recomendações mantêm-se até novos estudos
Especialistas recomendam continuidade dos programas vacinais conforme protocolos atuais. Até surgimento de evidências científicas mais conclusivas, dose única permanece válida. Ademais, benefícios da vacinação superam amplamente potenciais limitações identificadas. Consequentemente, população deve manter confiança na estratégia de imunização.